Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço. Essa afirmação aplicada a Luanda é bastante questionável. Será isso um paradoxo ou uma redundância?
Luanda, Angola. Nos últimos quarenta anos de regime colonial português, qualquer forma de cidadania foi negada aos angolanos. A repressão e o controle da informação foram priorizadas como a única forma de manter o status quo. Ninguém teve acesso 'a outra informação, através da mídia, que não a oficial.
Em 1975, Angola conquista a sua independência, e os angolanos, recém saídos do cerceamento português, experimentam, durante dezesseis anos, um modelo socialista marxista-leninista. Em um sistema de partido único, em meio a uma sangrenta guerra civil, a informação passa a ser controlada e direcionada, pelos próprios angolanos, através de um único canal de televisão. Nesse momento a propriedade individual é submetida ao coletivo.
Em 1991, o país adota o pluripartidarismo e a economia de mercado, no entanto mantém-se a exclusividade da emissão à estatal televisão pública de Angola, a antiga televisão popular de Angola.
O pouco tempo para assimilar os conceitos do socialismo, a possibilidade do acesso a informação, a legitimidade do enriquecimento, talvez sejam peças fundamentais para entender o fenômeno que se registra hoje no céu de Luanda.
Nos prédios, nas casas, nas lajes, nas paredes, surgem cogumelos mecânicos. Em tamanhos diferentes eles vão brotando por toda cidade. São as antenas. Antnas de rádio, antenas de televisão, antenas de internet, antenas de telefone.
A redundância e velocidade com que se multiplicam evidenciam grandes paradoxox.
O socialista que não consegue absorver o conceito básico de condomínio.
O socialista que faz da antena um troféu para afirmar o sinal da sua riqueza.
O colonizado que tem no acesso a informação uma conexão para o mundo, em detrimento da infromação local.
São as antenas. Fenômeno suficiente para uma grande tese antropologia. Sim, as antenas, aquelas que repetem e se repetem no céu de Luanda, uma visão muito clara de como a redundância pode ser tão paradoxal.
Quando comecei a trabalhar nesta edição, quis ter no projeto gráfico uma forma que pudesse romper com o padrão de um livro de fotografias. Achei que deveria traduzir essa dualidade de redundância e paradoxo flagrantes nas imagens das antenas.
Um projeto que estivesse equilibrado entre os contrastes e a superposição de apelos visuais, como as cores em que o país se revê todos os dias.
No tempo das antenas, o novo velho tempo da informação globalizada.
Tempo do velho paradoxo da redundância.
Texto original publicado em Parangolá - O Paradoxo da Redundância, de Sérgio Guerra - Edições Maianga, 2004
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