OS NOVOS CAMINHOS DA “NOSSA HISTÓRIA COMUM”
Ainda que desmentindo em parte o objetivo inicialmente apontado, não gostaria de terminar este texto sem mencionar, num primeiro momento, um reparo e em seguida as novidades que se apresentam no campo de atuação daqueles que buscam escrever sobre essa história comum.
O reparo vai no sentido do reconhecimento de que se apontou neste texto mais exemplos de caso em que o Brasil funcionou como referência para os angolanos, ou como ponto de partida para os contatos estabelecidos, do que o inverso. Ainda que não se pretenda aqui inventariar o caminho inverso, cabe ressaltar alguns pontos da contra-mão desse sentido.
No que se refere aos estudos sobre a escravidão, por exemplo, são fortes os sinais de que o aprofundamento da pesquisa nos possibilitará observar com mais detalhes a influência cultural daquela região específica do continente africano sobre o Brasil. Mas outros temas também poderão ser alvo de futuras investigações, como a batalha pela divulgação da luta anticolonial angolana no Brasil e o lobby colonialista português. Também a pesquisa sobre a migração de angolanos a partir de meados dos anos 70 para o Brasil apresenta grandes possibilidades e questões, como a racial, por exemplo. Por último, mas não menos importante, há que lembrar o comércio formal e, sobretudo, o informal que se estabeleceu entre os dois países a partir dos anos 80 e que devido ao marco cronológico aqui adotado escapou à nossa atenção.
Quanto às novidades, há, indiscutivelmente, uma nova safra de antropólogos e historiadores brasileiros que se dedicam ao estudo dessas relações, ou tão-somente aos temas angolanos, com destaque para aqueles que se concentram no século XIX, mas cada vez mais também no XX. Atualmente, no campo da história e da antropologia, estão em andamento no Brasil cerca de uma dezena de teses de doutorado sobre Angola. É, certamente, o maiorboom na produção de trabalhos acadêmicos sobre esse país no Brasil.
O fundamental, no entanto, é que esse interesse tem sido acompanhado (ou será a causa?) da abertura de disciplinas ligadas à temática africana nos departamentos de história e ciências sociais. O que se traduz em espaço de trabalho, estímulo para o professor ampliar seus conhecimentos, expansão dos grupos de interesse e, num segundo momento, em intercâmbio de professores e idéias entre a África e o Brasil.
Por outro lado, o Brasil foi descoberto pelos africanos de língua oficial portuguesa, principalmente os angolanos, como alternativa acadêmica, e não apenas comercial, ao agora europeizado Portugal. O número de angolanos matriculados em cursos de pós-graduação no Brasil nunca foi tão grande como agora.
Vivemos, portanto, um momento de amplas possibilidades no campo dos estudos africanos no Brasil, com destaque para as relações entre Angola e Brasil, que foi o alvo deste trabalho. Cabe a nós, pessoas interessadas em aprofundar esses conhecimentos e em divulgar tais percursos, a tarefa de expandir esses estudos e vencer os obstáculos ainda teimosamente existentes.
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