Talvez seja mesmo um chato, mas não podia deixar que este assunto da toponímia se reduzisse a um artigo, e não deixa de ser curiosa a observação do meu amigo Eduardo Trindade, antiga glória do hóquei angolano, reformado bancário, morador no muceque Braga, e não no Bairro do Café, como insiste em dizer, que desabafava abafadamente no transito da cidade:” Toda a gente tem nome de rua, só eu, Trindade, que vivo aqui há sessenta anos não tenho direito”.
Este desabafo do Trindade pode parecer extemporâneo e até aparentemente reaccionário, mas a realidade é que ele, eu e muitos de nós interrogamo-nos quem é certa gente que está nas tabuletas, porque não há sequer menção ao seu nascimento ou morte, no caso das pessoas, ou a relevância de certos lugares.
Por acaso o Trindade mora na Rua Salvador Allende, um cidadão digno de figurar em todas as cidades do mundo, porque foi um homem que morreu no seu posto a lutar pela liberdade e por um Chile mais equalitário e progressista. O único senão, foi este nome ter sido dado a uma rua, que tinha um nome de um botânico, insigne professor catedrático da Universidade de Coimbra, e um dos grandes estudiosos da flora africana, o Dr. Luis Carriço. Teria sido bem melhor ter dado o nome de Salvador Allende, a uma rua que tivesse um anódino subalterno colonial, que por dá cá aquela palha ficou com direito a placa na cidade que crescia e que não tinha heróis para tanta rua.
Falei de Allende, como podia falar da substituição do Largo Alves da Cunha, por praça Lenine, que já tem uma avenida, que o povo ironicamente chama de “Brito Lenine”, numa engraçada articulação entre o antigo nome de Brito Godins e o actual Lenine.
Podia fazer aqui uma série de reparos, que diga-se de passagem não são mais que opiniões subjectivas, e que podiam ajudar a um debate interessante sobre o futuro da toponímia da cidade, para que não seja apenas para homenagear quem muito fez, mas também num contexto pedagógico, pois alguém há-de dizer porque é que determinada rua se chama assim, ou determinado largo tem esse nome, e aí por diante.
Acho que Iko Carreira, Pedalé, Loy, Holden Roberto, Gentil Viana, Ben-Ben, Joaquim Pinto de Andrade, Viriato da Cruz, e tantos que lutaram pela libertação de Angola e por valores de liberdade mereciam que em Luanda, e nas suas terras de origem, lhes fosse prestada uma homenagem, e nada melhor que perpetuar o seu nome numa rua, ou num espaço publico onde possam ser lembrados por gerações vindouras.
Estabelecer para determinado bairro uma toponímia de escritores ligados à lusofonia, recordando obviamente em primeiro lugar António Jacinto, António Cardoso, Henrique Abranches, Raul David, Eugénio Ferreira, Bobella-Motta, Alda Lara, Ernesto Lara Filho, Sebastião Coelho, Eugénio Ferreira, para depois passarmos a um José Saramago, Jorge Amado, o cabo-verdiano Manuel Lopes, o santomense Francisco José Tenreiro, o ignorado Daniel Filipe, o moçambicano Howana, ou o “Timorense” Rui Knophly , não esquecendo Mário de Andrade, Castro Soromenho, o recentemente falecido Tomas Jorge, Eugénio de Andrade, Aquilino Ribeiro, Alves Redol, Machado de Assis, José de Alencar entre muitos africanos e de outros lugares, que iriam dignificar a nossa cidade.
Pegar em nomes de artistas plásticos como Vitor Teixeira (Viteix), Rui de Matos, ao lado de arquitectos que fizeram Luanda, e dar-lhes o relevo que merecem, a par de outros homens de cultura como Teta Lando, Paz Victorino, o incontornável N’Gola Ritmos, e o mestre “Liceu” Vieira Dias.
Gente do Desporto como Demóstenes de Almeida, Matos Fernandes, Couto Cabral, isto para não ser demasiado exaustivo.
Em síntese, acho que é tempo da cidade dar relevo aos que a fizeram, aos que lutaram por ela, aos que escreveram, cantaram e pintaram sobre ela, acima de tudo gente que amou a sua cidade, e ela não lhe virou as costas e homenageou-os para que as gerações do futuro perguntem quem foi, e haja alguém que os ensine, ou que saibam onde procurar quem lhes ensine.
Que a cidade faça por merecer ter esta gente entre si!
Fernando Pereira
5/05/09
6 comentários:
O Sr. Fernando Pereira, autor deste artigo, usou uma imagem minha sem referir a fonte. Pior ainda, deu-se ao trabalho de retirar a identificação do autor, recortando-a e fazendo-a passar por sua.
Já o contactei por diversas vezes, no sentido de corrigir a situação, mas, ao contrário do que seria de esperar de alguém quem se considera jornalista, não só não respeitou os direitos de autor da imagem como piorou a situação com uma birra infantil.
É esta a imagem que queremos guardar dos jornalistas angolanos?
Mais informações acerca desta situação no Aerograma.
Atentamente,
Afonso Loureiro
Sr. Afonso Loureiro
Não cabe neste espaço Pensar e Falar Angola entrar em polémicas que já foram levantadas em outros dois blogs, sendo um deles o seu. Mantendo a colaboração Do Sr. Fernando Pereira não alterarei nem uma vírgula, nem uma foto, aos seus textos. No entanto pode recorrer, se achar conveniente e oportuno, aos tribunais de Angola, onde o artigo foi publicado. Aqui apenas reproduzimos porque os consideramos uteis, culturais e históricamente. Espero não encontrar no seu blog, ou noutro qualquer, textos ou imagens não originais em que a fonte não seja referida. Daqui do Pensar Angola podem retirar tudo porque este é um blog de informação, formação e cultura, onde o unico tema é ANGOLA.
JotaCê Carranca um dos editores deste blog
Caro JotaCê Carranca,
Apesar de este episódio já ter barbas, continuo a insistir que a imagem publicada o está a ser abusivamente. De tal forma que até o Sr. Fernando Pereira a retirou do seu blog.
Da mesma forma que espera encontrar no meu blog ou noutros, textos e imagens não originais ou sem direitos autorais referidos, seria de esperar que aqui também tal sucedesse.
Atentamente,
Afonso Loureiro
Sr. Afonso Loureiro:
Aqui polémicas não é nosso ventre nem nosso fruto. Uma vez que no seu primeiro comentário você colocou o link do Aerograma eu deixei estar tudo como estava, incluindo a publicação do seu comentário e o referido link. Este BLOG é plural. Eu não gosto do seu mas não é por isso que vou agora apagar o seu link. Quer que apague as fotografias, elas estão apagadas. Seja feita a sua vontade. Qual a fotografia? Como não sei, apago ambas e muitas felicidades que aqui a vida corre na mesma. Talvez a sua agora mais feliz.
Sempre a considerar e sabe que tem aqui um blog plural.
Obrigado por nos visitar e rever o nosso arquivo.
Da mesma maneira como dou o devido crédito a conteúdos de outrem, apenas peço que o mesmo seja feito em relação aos meus.
Tal como tenho publicado na licença Creative Commons do Aerograma, não me oponho a que usem os meus textos e fotografias para fins não comerciais, desde que - e esta é a parte importante - me identifiquem claramente como o autor.
Julgo que não seja esta uma pretensão descabida.
Os comentários aos artigos nem sempre são visíveis aos leitores do Pensar e Falar Angola, pelo que a minha chamada de atenção poderia sempre ficar esquecida.
A situação teria sido muito mais facilmente resolvida com uma pequena nota no artigo, já que se achava que a fotografia o ilustrava convenientemente.
Temos pena que não tenha sido este último comentátio o primeiro a chegar.
Porém, um dia destes, de máquina em punho tirarei as fotos que achar convenietes e colocarei nos devidos lugares, se achar necessário.
Temos pena... simplesmente!
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