Ruy Duarte de Carvalho completa trilogia “Os Filhos de Próspero”
A “Terceira Metade” é o último livro do ciclo “Os Filhos de Próspero”, uma trilogia de Ruy Duarte de Carvalho, de que também fazem parte os títulos “Os Papéis do Inglês” e “As Paisagens Propícias”.
Neste romance, voltamos a encontrar algumas das personagens dos anteriores volumes de trilogia, e conhecemos o “mais-velho”Trindade, um tio de SRO que tem em seu poder uma misteriosa cassete com rezas e que se deverá encontrar com o narrador perto do Kambeno (fronteira entre Angola e Namíbia), para lha entregar. Com o pretexto da cassete, Trindade, levado pelas mãos do narrador e do próprio autor, revela-nos as suas surpreendentes considerações antropológicas e coloniais, e apresenta-nos o seu percurso de vida como progressiva aprendizagem: a infância na Lucira, as aventuras como cozinheiro em acampamentos de engenheiros e doutores, a experiência como ajudante de um escritor alemão entomologista, a quem carregava a rede para apanhar borboletas, até chegar à velhice e descobrir que “sete apenas, entre os vinte e oito nós [da vida], serão enigmas para tentar esclarecer, os únicos eventualmente ao alcance da tua decifração, da tua consciência, da tua ciência se a tua natureza e o teu caminho forem de molde a dar-te acesso a isso.” A este propósito, o autor assinalou:“as páginas que precedem darão ideia do modo que à partida me propus usar para escrever este livro... acabou depois por não poder vir a ser inteiramente assim, como irá ver-se a páginas tantas... vou no entanto manter o que apesar de tudo consegui escrever ainda antes de me ter visto obrigado a interromper a tarefa que me tinha imposto levar a bom termo no Cabo das Agulhas, segundo esse programa original.”
Sobre o livro anterior, António Mega Ferreira, colunista da revista Visão, considerou que “estamos perante um dos maiores escritores de língua portuguesa. É um escritor extraordinário e desculpem mas eu nestas coisas sou fanático, é absolutamente extraordinário e as pessoas têm de ler este escritor.
(...) Este é um desses certos livros, é um livro extraordinário, luminoso(...)”.
Ruy Duarte de Carvalho (1941) é regente agrícola, mestre em Antropologia Visual e doutorado em Etnologia e Antropologia Social pela EHESS. Nascido em Portugal, naturalizou-se Angolano em 1975. Ex-cineasta, e ex-professor de Antropologia do Espaço em Luanda, Coimbra, São Paulo, Paris e Berkeley, é autor, entre outros títulos, de “Lavra” – poesia reunida 1970-2000
(2005), “Vou lá Visitar Pastores” (1999), “Actas da Maianga” (2003), “A Câmara, a Escrita e a Coisa Dita – Fitas, Textos e Palestras” (2008) e das ficções “Os Papéis do Inglês” (2001) e “As Paisagens Propícias” (2005) que fazem parte, com o presente volume, do ciclo “Os Filhos de Próspero”. Reside actualmente, aposentado, em Swakopmund, na Namíbia. Em 2008, foi atribuído o Prémio Literário Correntes d’Escritas ao seu livro anterior, “Desmedida - LUANDA, SÃO PAULO,SÃO FRANCISCO E VOLTA”.
in Novo Jornal 8 de Maio 2009
Pensar e Falar Angola
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