segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Vida Selvagem

O director do Instituto Nacional de Biodiversidade, Aistofanes Pontes, disse que uma das metas da instituição é o resgate das espécies dadas como extintas. É a segunda parte da entrevista, cuja primeira saiu, sexta-feira, sem a identificação do entrevistado, falha pela qual nos desculpamos.

Qual é a real situação da Palanca Negra Gigante?

Foi construído um santuário turístico para observação deste animal emblemático no Parque Nacional da Cangandala. Os cidadãos, de modo geral, poderão visitar o Parque Nacional da Cangandala e ver de perto a Palanca Negra Gigante. A real situação da Palanca Negra Gigante é estável, porém, ainda se verifica uma certa pressão a nível nacional, sobre as diferentes espécies da nossa fauna.

Qual é o nível de execução do plano de acção nacional de conservação da chita e do mabeco?

A estimativa total de chitas para o País é de 200 indivíduos, sendo 30 para o Parque Nacional do Iona, 100-151 para os Parques Nacionais de Mavinga e Luengue-Luiana. A estimativa populacional de mabecos é de 800 indivíduos, sendo 90 para o Parque Nacional do Bicuar/Mupa, 260-599 para Mavinga e Luengue-Luiana, 20 para a zona Sul do Luando e com vários registos de câmaras trap, no Moxico e Bié. Está em carteira a implementação do projecto com a comunicação social e artistas, para a divulgação e sensibilização de um top 10 da Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas de Extinção em Angola, onde a chita e o mabeco também fazem parte. A realização desta actividade está condicionada pelas medidas de segurança, implementadas no âmbito da Covid-19.Foi realizada recentemente a proposta de revisão da Legislação Nacional e Convenções Internacionais que apoiam a conservação da chita e do mabeco.

A julgar pelo contexto político que o país viveu nos últimos anos, o Instituto Nacional da Biodiversidade e Áreas de Conservação já pensou no resgate das diferentes espécies que deixaram o seu habitat?

Sim. Uma das metas a atingir é o resgate das diferentes espécies que hoje são dadas por extintas e nas diferentes categorias de conservação. Vários são os projectos que estão a ser implementados com este fito como, por exemplo, o projecto de protecção da Palanca Negra Gigante. A reabilitação das áreas de conservação e seus ecossistemas, o estabelecimento das equipas de gestão, a abertura dos corredores ecológicos jogam um papel muito importante no resgate das espécies e são acções que constam dos vários programas e projectos em implementação no Instituto.

Podemos estimar o impacto da Covid-19 na biodiversidade mundial e angolana em particular?

A acção antrópica danosa ao ambiente como a expansão de assentamentos humanos, exploração insustentável dos recursos naturais, a poluição, têm afectado consideravelmente mudança climática e na perda da biodiversidade com a obrigação da humanidade em ficar em casa para conter a disseminação do vírus Sars-Cov-2 e a sua doença, a Covid-19, tem contribuído no regresso da vida selvagem para o seu habitat, na recuperação da vegetação e da saúde dos ecossistemas a nível global e nacional.

Em Angola, é notório o aumento da densidade populacional de animais selvagens nos diferentes ecossistemas nas áreas de conservação, o retorno das aves migratórias no seu habitat, devido a sanidade do meio e a ausência humana nos seus habitats, a redução da poluição. Infelizmente, com o aumento da fauna selvagem nas áreas de conservação e consequentemente a redução de efectivos de fiscalização, não sendo possível cobrir todas as áreas, proporciona o aumento da caça furtiva para fins comerciais. Este impacto negativo pode comprometer os resultados positivos alcançados pela Covid-19 e comprometer a implementação das actividades ecológicas nas áreas de conservação. A pandemia da Covid-19 criou um impacto negativo e profundo para os países no Leste e Sul da África, como resultado da cessação repentina de todas as visitas, no âmbito do desenvolvimento das actividades ecológicas intimamente interdependentes.

A biodiversidade angolana oferece potencial, em termos de plantas medicinais que podem curar diversas doenças como a Covid-19, HIV/Sida, malária e outras?

Segundo o manual de plantas medicinais de Angola (Costa E. & Pedro M. 2013), Angola tem 19 espécies de plantas descritas utilizadas na medicina tradicional, para a cura de diversas enfermidades, no qual podem ser usados os frutos, sementes, folhas, caules e outros constituintes da planta. A realização de estudos clínicos e científicos são necessários e importantes para se aferir o grau de utilidade que as referidas espécies possam oferecer para o tratamento de diferentes patologias. É importante realçar que Angola é Parte do Protocolo de Nagoya, um instrumento jurídico e legal da Convenção da Diversidade Biológica (CBD), que foi adoptado na 10ª Conferência das Partes em Nagoya, Japão. O objectivo deste Protocolo é de promover a partilha justa e equitativa dos benefícios decorrentes da utilização dos recursos genéticos, definindo as políticas de acesso aos recursos genéticos e de partilha de benefícios promovendo ao mesmo tempo a conservação da diversidade biológica e o uso sustentável dos seus componentes. Proporciona solidez, certeza e transparência jurídica tanto para os provedores, tanto para os usuários de recursos genéticos.

O abate, consumo e comercialização de animais selvagens continua a ser um desafio para as autoridades que cuidam da preservação do meio ambiente?

Sim. O comércio ilegal de espécies da vida selvagem continua sendo a terceira maior actividade ilegal do mundo, perdendo apenas para o comércio de drogas e de armas. A densidade e diversidade de animais selvagens em Angola está em declínio e um dos principais factores é a caça furtiva, favorecida pelo comércio ilegal dos animais selvagens, que desde o período pós conflito armado passou de uma actividade de subsistência para actividade comercial de pequena, média e grande escala.

Quais são as principais acções responsáveis pela perda da biodiversidade um pouco por todo o mundo?

Entre as acções que concorrem para a perda da Biodiversidade podemos destacar a desflorestação, destruição dos solos, poluição do ar dos solos e das águas, queimadas, caça, pesca e tráfico ilegal, sob’ exploração, destruição de habitats, fragmentação dos habitats, introdução de espécies exóticas e as alterações climáticas.

Até que ponto a acção do homem sobre o meio ambiente influência as mudanças climáticas que o mundo regista a cada dia?

Normalmente quando se fala deste tema o mesmo é relacionado a revolução industrial onde se produz mais voltando nos lucros e na satisfação do alto consumo a nível mundial. Neste processo produtivo requer a utilização de maior quantidade de recursos ou matéria-prima e consequentemente cria pressão as florestas, polui a atmosfera e os recursos hídricos, contamina e empobrece os solos e como resultado temos as alterações climáticas. A mudança de atitude e/ou de comportamento estão entre as soluções para a redução dos impactos negativos sobre o ambiente.

Quais são as reais necessidades do sector em termos de recursos humanos face aos desafios?

Capital humano formado e capacitado em diferentes áreas do ambiente, bem como, capital financeiro que compense o árduo trabalho de gestão, conservação e preservação da biodiversidade.

Podemos considerar a biodiversidade um sector que pode absorver a mão-de-obra em grande escala?

Sim. Podemos considerar a conservação da biodiversidade um sector que pode absorver a mão-de-obra, sobretudo local, em grande escala. Para tal são necessários programas, projectos específicos para cada área. Essas cooperativas desempenharam um papel fundamental na recuperação da vida selvagem do país, incluindo a triplicação de sua população de elefantes, desde o início dos anos 90, e catalisando o investimento em actividades ecoturísticas e a utilização de outros animais selvagens em áreas rurais remotas.

As cooperativas comunitárias geraram cerca de US $ 11 milhões em retornos e benefícios da vida selvagem e mais de 5.000 empregos, em 2019.

 




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