O “Quimbo dos Sobas” resultou da necessidade dos alunos angolanos possuírem uma casa sua já que os 1000-Y-Onários não tinham lugar para os que vinham. Inicialmente instalaram-se na Nicolau Chanterene, num andar que se denominava “Solar do Quimbo dos Sobas”. Em 1963/64 um grupo onde estava o médico Fernando Martinho, do Lubango e os homens do Huambo, Manuel Rui Monteiro e Segadães Tavares alugam uma casa ao Dr. Dantas, ao tempo proprietário da Clinica de Montes Claros para instalarem a entretanto aceite pelo Conselho de Republicas, a “Republica do Quimbo dos Sobas”. No Antero Quental, hoje praticamente em ruinas, o estado do edifício é para todos uma enorme amargura. “O Quimbo dos Sobas” tem muito a ver com os caboucos do nascimento do País, mais que não fosse porque Manuel Rui Monteiro, seu fundador, é o autor da letra do hino de Angola. Os hoje generais Joaquim Rangel, Roberto Leal Monteiro (Ngongo), João Saraiva de Carvalho (Tetembwa) e o assassinado a 27 de Maio de 1977 Comandante Eurico Gonçalves são alguns dos homens do “Quimbo” que saíram de Coimbra para se juntar à luta armada nas fileiras do MPLA. A PIDE era visita constante e Garcia Neto, outra vitima dos fraccionistas em 27 de Maio de 1977 e o falecido Fernando Sabrosa, médico, foram presos em 20/2/1970, o que motivou uma onda de solidariedade em toda a academia coimbrã para a sua rápida libertação. Por aqui ainda que por pouco tempo passou Gilberto Teixeira da Silva, o comandante Gika, morto em combate na 1º guerra de libertação do País, o jurista Aníbal Espírito Santo, um homem da Catumbela e Néne Pizarro, que conseguiu fugir um dia antes da PIDE fazer mais uma visita de “cortesia” ao Quimbo. António Trabulo do Lubango e alguns da prole, Fonseca Santos do Huambo e Benguela também estiveram na casa, aproveitando esta ocasião para fazer uma homenagem tardia ao Henrique José Fonseca Santos (Quicas), morto pela Unita em Fevereiro de 1979 no Longonjo. Jaka Jamba também passou pelo Quimbo e saiu para se juntar à UNITA. Rui Cruz, Aníbal João de Melo, Eloy Malaquias, Jaime Madaleno da Costa Carneiro, Hernani Santana, o malogrado Noélio da Conceição e outros reuniam regularmente nesta casa que durante muitos anos foi só um dos embriões do que viria a ser “República Popular de Angola” em Coimbra, mesmo com a vigilância atenta da PIDE a pouco mais de cem metros, na mesma rua. Não foram habitantes do Quimbo, mas eram habituais nas suas festas, e muitos “patos” proporcionaram a gente da casa, o Carlos Correia (Bóris) do Chinguar e o viola baixo dos Álamos, o Luis Filipe Colaço, que gravaram com José Afonso dois discos emblemáticos, “Cantigas do Maio” e o “Traz outro amigo Também”. Na gravação deste trabalho, Phil Colaço aproveita para sair para um exílio para o reencontro em 11 de Novembro de 1975.
Em Janeiro de 1975 Agostinho Neto reúne todos os angolanos residentes em Coimbra numa exígua sala do Hotel Oslo e incentiva-nos a lutarmos de todas as formas possíveis contra as ameaças que se preparavam para obstar à independência do País. Foi uma assembleia muito participada e discutida e Neto com serenidade ia refreando a nossa impetuosidade dos “verdes anos”. Não esqueci nunca mais esse momento, em tempos que eram bem difíceis.
É interessante fazer notar que o “centenário” do “Quimbo”, que mais não é que a festa anual de convívio entre novos e antigos repúblicos, se realiza desde sempre no dia 4 de Fevereiro, uma homenagem ao início da luta armada em Angola, outra iniciativa que muito aborrecia a PIDE.
O “Quimbo” está hoje em ruinas, mas antes de acabar só quero informar que há um grupo de antigos repúblicos que está a fazer um livro com a história completa da república e a participação dos seus elementos na história recente dos dois Países.
FIM
Fernando Pereira
5/11/2012
Pensar e Falar Angola
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