terça-feira, 1 de julho de 2008

Aos 100 anos, Fernando Batalha lança mais um livro sobre Angola









Aos 100 anos, Fernando Batalha lança mais um livro sobre Angola



LEONOR FIGUEIREDO





Legado. Arquitecto continua a escrever sobre património desaparecido que os seus olhos testemunharam



Todos os dias, o arquitecto escreve para os livros que ainda lhe faltam publicar sobre património angolano



"Só queria viver até ao lançamento do meu próximo livro, Povoações Históricas de Angola", confessava, numa entrevista ao DN, em Julho de 2007, o arquitecto Fernando Batalha, uma personalidade muito conhecida em Angola, por ter sido o pioneiro do estudo e da preservação do património daquele país africano e a sua publicação sistemática ao longo de 50 anos.

O seu desejo concretizou-se. Pouco tempo depois de ter completado um século de existência, a obra, editada pelos Livros Horizonte, deu à estampa.

Mas o arquitecto, que continua a revelar uma lucidez espantosa, alerta-nos: "Ainda tenho seis originais para publicar!" Na verdade, Fernando Batalha prefere ignorar a sua idade, trabalhando diária e arduamente no escritório do seu apartamento, em Belém, de onde pode admirar o Tejo.

Quando está sozinho, escreve com a sua letra trémula para, no dia seguinte, a sua secretária decifrar num ápice e passar para o computador.

Fernando Batalha nasceu a 5 de Maio de 1908 no Redondo e fez o curso de Arquitectura na Escola de Belas Artes de Lisboa e mais tarde tirou Urbanismo em Paris. O seu curriculum, com dez páginas, também explica que ele dirigiu gabinetes de arquitectura e urbanismo em variadíssimos distritos de Angola e é autor de muitas dezenas de publicações e brochuras sobre etnografia, história, arqueologia e arquitectura.

Foi parar à antiga colónia africana portuguesa no primeiro cruzeiro de férias dos estudantes da metrópole às colónias, em 1935, com um director cultural, Marcello Caetano, que "mandava fazer muitas palestras e dissertações durante a viagem que durou várias semanas".

Angola ficou-lhe no coração. Só regressou a Portugal com 83 anos, depois de uma passagem pela Universidade de Luanda, onde leccionou a cadeira de Arquitectura. Quando voltou para Lisboa ,deixou em Angola "o inventário do património do novo país", fruto dos milhares de quilómetros percorridos naquele imenso território.

"Andei por todos os lugares onde se registou presença portuguesa. Confirmei ruínas desaparecidas, recolhi imensa informação. Fiz a lista completa daquilo que lá existe e do que existiu e os meus olhos testemunharam."

A sua longevidade proporcionou-lhe alguns encontros da História. Uma das personagens que conheceu foi o rei do Congo, D. Pedro VII, corria o ano de 1942. "Ele é que foi mostrar-me os escombros da primeira igreja portuguesa da cidade de São Salvador, erguida em 1491, onde actualmente fica o M'banza Congo", recorda-nos o arquitecto.

Com uma memória ainda em bom estado, não há dúvida que Fernando Batalha simboliza uma enciclopédia viva sobre a arquitectura e o património angolano. No escritório, uma estante cheia de plantas, esboços, projectos e dossiers muito antigos indicam nomes de cidades e povoações angolanas. São documentos que ele guarda para alimentar o texto dos livros que, como faz sempre questão de dizer, "ainda faltam editar".

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