O Novo Jornal comemora o seu quinto aniversário e desde a sua criação procurou assumir-se como um jornal de referência no panorama da imprensa escrita angolana.
Enquanto colaborador desde o primeiro número, não acho que conseguisse ser suficientemente imparcial para fazer uma abordagem sobre o percurso deste semanário, relativamente importante, porque julgo ser referenciado por muita gente, nos mais diversificados sectores de atividade.
Com vários jornalistas premiados, alguns muito novos e com um futuro promissor pela frente, esta equipa que faz o Novo Jornal conseguiu começar a tratar de assuntos que não eram “atualidade” no quotidiano dos assuntos que são mediatizáveis no País.
Nasceu este projeto na euforia de uma Angola de crescimento económico enorme, o que augurava que os anos que se seguiriam fossem de uma prosperidade que o País já não vivia desde o dealbar da década de setenta, então colónia de Portugal.
Conseguimos mostrar que a essa euforia não correspondiam avanços inerentes a um desenvolvimento social harmonioso, e fomos, sem o enfatizar, dando relevo ao que de menos bom ia acontecendo no nosso País, sem que o jornal entrasse pelo facilitismo das parangonas que se transformam rapidamente em labelos de autênticos assassínios de carácter de pessoas e que, nalguns casos, de forma soez, tolheram carreiras políticas promissoras.
O Novo Jornal tem que crescer, mas tem que o fazer com otimização dos seus recursos humanos, que são dedicados, trabalhadores, mas que também devem assumir a humildade de que o futuro merece-se conquistando, e a vida de um jornalista faz-se passo a passo e com a modéstia que é apanágio de uma profissão mais vezes incompreendida e tolerada do que desejada. Napoleão Bonaparte dizia a propósito que “tinha mais medo de um jornalista que de um exército inteiro”.
Se me perguntarem o que falta ao Novo Jornal acabo por ter a sensação de que há muita coisa a melhorar e rubricas a ir incluindo para que mais gente nos leia e a sua base de idades seja alargada.
O Novo Jornal, por vezes, torna-se maçador quando pretende fazer uma grande reportagem. Digo-o como um leitor que até tem o privilégio de nele poder escrever o que pensa, sem nunca ver coartada qualquer opinião ou censurada qualquer crónica, ainda que de forma sub-reptícia, como já me aconteceu noutros órgãos de informação, que ao tempo se chamavam órgãos de difusão massiva.
Acho que deveria haver uma página de “mujimbice”, quase telegráfica, em que se passasse para o prelo algumas situações que se circunscrevem aos corredores do poder, ou aos restaurantes da cidade, e a maior parte das vezes com os pés na água no Mussulo ou nas salas de espera dos aeroportos de Luanda ou de outras cidades do mundo onde a Angola dos bons e maus negócios se movimenta, por vezes, com soberba em demasia.
Talvez neste quadro se desenvolvesse uma das maiores pechas do jornalismo angolano - falo de toda a informação - a quem falta a tradição do jornalismo de investigação. Já vamos aprendendo a ler melhor as informações que a Angop vai dando, já temos uma quantidade e qualidade maior de recursos a fontes que não tínhamos há uns anos, mas continuamos a funcionar com muitas “ofertas”, e as noticias que elas envolvem e volvem, sem nos preocuparmos muito na procura "da notícia".
É um trabalho duro para o jornalista, pois exige muita coerência de princípios e também uma solidariedade, não só retórica por parte dos superiores hierárquicos, mas sobretudo por parte de administradores, que não se devem alhear dos problemas do jornal. Mas a história, a solidez e o prestígio dos jornais fazem-se só com isto. O resto, todos adquirem, porque é o mais fácil.
Em determinada altura assistiu-se em Angola a “imitações” , ainda que algo artesanais de “Citizen Kane”, esse imorredoiro filme de Orson Welles de 1941, que é uma critica enorme aos barões dos “media”, que iam proliferando numa América que se preparava para dominar, no universo, o mundo da informação.
A maior parte desses projetos foram jazendo pelo caminho, com um corrupio de credores à espera do dinheiro que nunca irá aparecer. Outros para lá caminham e fazem o que é normal numa fase de estrebuchar: diminuem o número de páginas, o mesmo jornalista assina quatro ou cinco artigos com um nome diferente, mas indisfarçável porque os erros são os mesmos em todos os trabalhos, recorrem a notícias de mails, normalmente de duvidosa proveniência, e outros ardis e subtilezas recorrentes para manter o jornal à tona.
Já agora, em jeito de fim de festa, só me apetece dizer que o Novo Jornal é melhor que os outros porque nos tem a nós, e teve outros que saíram e que nos ajudaram a ser bons, e se quiserem saber a excelência desta equipa acaba por ser fácil, estamos todos na Ficha Técnica do Novo Jornal em que o único que não conta no grupo é o Guilherme Pereira Inglês.
Fernando Pereira
19/1/2013
Pensar e Falar Angola
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