sexta-feira, 12 de novembro de 2010

apontamentos de F. Quelhas (8)

Em vários foruns sempre que discutimos questões associadas a sistemas capitalistas versus marxistas, liberalismo versus socialismo, etc., somos, normalmente,  levados a abordar a questão num enfoque mais abrangente, numa perspectiva macro, analisando mais o papel do Estado e sua interferência em maior ou menor grau na sociedade, etc.

Talvez por vicio de formação, os economistas e até sociólogos, concentrados na visão macro deixam de observar alguns aspetos sobre comportamento individual, que são, no entanto, lá no fundo, o que explica o sucesso ou insucesso de determinados modelos políticos e sociais.

Angola é um excelente laboratório para análises sobre comportamento social, principalmente para quem vem de fora e, de certa forma, ainda esta com a capacidade de analisar sem a interferência dos efeitos da sua inserção nessa sociedade, algo que demora algum tempo a acontecer.

Um amigo meu daqui de Luanda, mora, desde antes da independência, no sexto andar de um prédio cujo elevador há muito está fora de funcionamento. Isto obriga-o, claro, a si e a sua família, a subir e descer, vários lances de escadas para terem acesso a sua casa, algo que se, por um lado, até constitui um bom exercício físico diário, com a idade, passa a ser algo deveras incomodo.


Curiosamente, pelo que me contou, os moradores do edifício são ate, de uma forma geral, pessoas bem situadas economicamente ( majoritariamente, profissionais liberais e executivos ), ao tempo em que os seus apartamentos por estarem bem localizados possuem valor elevado, apesar de não disporem de elevador. Neste contexto, é obvio que a reinstalação do elevador, se possível acompanhada de melhorias nas instalações comuns do prédio, etc,. muito mais que uma despesa, deveriam ser considerado investimentos, já que implicariam numa excelente valorização dos imóveis.

Então, qual o motivo porque não conseguem o consenso para que se instale o desejado elevador?

Acreditem: Por uma razão bem simples que tem a ver com o egoísmo característico do ser humano e sua dificuldade em visualizar que em inúmeras situações, o beneficio individual resulta, indiretamente, de ações em prol do beneficio coletivo ( perspectiva socialista ) em contraponto a outra visão pela qual as coisas acontecem no sentido oposto. “ Se cada um procurar o melhor para si próprio, indiretamente, acontecera o melhor para a sociedade”  ( Nem sempre ).

A dificuldade começa porque a tal necessidade do elevador, apesar de ser uma necessidade coletiva, não e idêntica para os moradores que residem em andares mais altos, vis a vis, o dos moradores do primeiro ou segundo  piso, por exemplo. Sendo assim, estes moradores  se recusam a contribuir com os custos, pelo menos na mesma proporção, para que os elevadores sejam instalados, estabelecendo-se, portanto, o impasse, já que os moradores dos andares mais altos também não acham justo serem so eles a bancar o custo total. Tão pouco é exeqüível a situação pela qual, na eventual instalação dos elevadores, o seu uso futuro, seja restrito aqueles que contribuíram.

Não pensem que estou falando de um caso isolado. Aqui em Luanda, esta situação acontece na maior parte ( certamente quase todos ) os prédios de apartamentos ou escritórios que existem em Luanda e que foram construídos antes da independência. E que não existe aqui ( se é que já existiram ao abrigo da legislação portuguesa, portanto, de aplicação questionável ) aquelas convenções condominiais que regem as relações entre condôminos com a descrição exaustiva e detalhada dos direitos e obrigações de moradores de um imóvel com áreas comuns.

Acredito que, ao largo da analise de posturas e comportamentos sociais com visão mais coletiva ou mais individual, a solução desta questão certamente passara pelo estabelecimento de uma norma jurídica ( no caso padrão ) que o Legislativo de Angola  venha a impor, para ser adotada compulsoriamente  em todos os predios,  e portanto a  todos os moradores e que, entre outras coisas, estabeleça a implantação de convenções e, mais especificamente, o instituto da assembléia de moradores que possua uma soberania decisória obrigando todos.  A decisão de adquirir elevadores, por exemplo. Neste caso, todos os moradores, mesmo os que não concordaram, mas tenham sido voto vencido, seriam obrigados a contribuir.


Mudando  de assunto.

Já por diversas vezes cruzamos aqui, em pleno horário de rush, por cortejos fúnebre ( já estão imaginando o transtorno que provocam no transito  ). São filas enormes de carros e motocicletas, aceitando-se ate, neste caso, que as carrinhas ( pick ups ) carreguem dezenas de pessoas nas carroçarias, com uma peculiaridade curiosa. Todos os carros que compõem o cortejo, acho que obrigatoriamente, portam no para brisas uma fotografia do defunto, impressa numa folha A4.

Um abraço

Fernando Quelhas


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