domingo, 1 de fevereiro de 2009

(50) - Àgora - Cruzei-me com a História



Tem sido recorrentes as queixas, principalmente de sectores desafectos ao MPLA , de serem relegadas para um quase anonimato, ou deturpações premeditadas, a participação de alguns elementos na luta de libertação de Angola, contra o colonialismo português.
Numa leitura cuidada do livro de Samuel Chiwale, “Cruzei-me com a história”, editado pela Sextante em Lisboa (Julho de 2008), fico com a ideia que estou perante o relato, de alguém que poderia dar uma contribuição significativa à luta armada, mas o que se vai revelando na autobiografia, é que há omissões, que talvez pudessem esclarecer “pecadilhos” do movimento/ partido de que o autor foi seu fundador.
“Cruzei-me com a história”, talvez seja um título demasiado pretensioso, tendo em conta o conteúdo do livro, em que o autor quer dar uma imagem de grande seriedade, e não duvido dela em qualquer circunstancia, mas que faz uma descrição de determinados factos, com uma enorme ingenuidade, que só se me ocorre dizer que há um grande “estampanço com a história em certos cruzamentos”.
Para além do que Samuel Chiwale manifesta do movimento anti-colonial em Angola e em África, associada ás circunstancias que o levaram com Savimbi à fundação da UNITA, mostra que não se conta tudo, pois com a difusão da informação, a abertura de processos confidenciais na PIDE e no Departamento de Estado Americano, levam a concluir que há algumas arestas que não são coincidentes.
Há uns tempos atrás li o livro de Alcides Sakala Simões, “Memórias de um guerrilheiro”, editado em 2006, pela D. Quixote, e achei um livro interessante, aqui e ali polvilhado com alguma imprecisão em termos de datas e que em circunstancia alguma põe em causa as decisões controversas de Savimbi, ao longo do tempo em que estiveram juntos.
Aqui estes livros coincidem, e Chivwale, que acompanhou Savimbi desde a fundação da UNITA, é pouco preciso na complacência como o movimento de Savimbi era visto pelas autoridades portuguesas, algumas cumplicidades que surgem referidas por generais portuguesas de ideologia radicalmente diferente, e também relatórios da PIDE /DGS, hoje tornados públicos, que só reafirma o que se vai sabendo há 35 anos pelo menos.
O autor omite alguns fuzilamentos, nomeadamente Tito Chigunji e Wilson Santos, os “autos de fé” e consequentes rituais sórdidos de queima de pessoas em fogueiras e até mesmo castigos corporais exercidos por Savimbi sobre proeminentes dirigentes da UNITA, alguns hoje referentes na estrutura política, militar e empresarial da Republica de Angola,.O próprio Chiwale, explica ainda que utilizando alguma condescendência, a forma como a BRINDE, lhe terá quase preparada a tumba, para além de outras formas ignóbeis com que foi tratado e que o levaram a um estado de degradação física e emocional a raiar o quase suicídio.
Por tudo isto, acho que se quiserem ser protagonistas da história de Angola, ou se querem que o líder, que revelava um indiscutível ascendente sobre os seus companheiros, passe a figurar nessa história com alguma relevância, devem em todas as circunstancias contar as verdades sobre omissões que se vão perpetuando, avolumando-se com o decorrer do tempo, e a ganharem contornos de exageros com o desaparecimento das testemunhas desses momentos.
Quando assim acontecer, então sim podem dizer e escrever:”Cruzei-me com a história”!

Fernando Pereira 1/12/08


Pensar e Falar Angola

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