quarta-feira, 16 de abril de 2008

Escritores Angolanos - Uanhenga Xitu


Uanhenga Xitu, nome próprio em língua Kimbundu de Agostinho André Mendes de Carvalho. Nasceu em Kalomboloca, a 29 de Agosto de 1924, Icolo e Bengo.

Foi preso político em 1959, tendo feito parte do chamado “Processo dos 50”. Cumpriu os oito anos da sua pena de prisão no campo de concentração do Tarrafal. É membro fundador da UEA de que foi Presidente da Cimissão Directiva. Publicou Meu Discurso (1974); Mestre Tamoda (1974); Bola com Feitiço (1974); Manana (1974) Vozes na Sanzala- Kahitu (1976); Maka na Sanzala (1979); Os Sobreviventes da Máquina Colonial Depõem (1980); Os Discursos do Mestre Tamoda (1984); O Ministro (1989): Cultos Especiais (1997)
Enquadrar este autor no grupo da geração de 48, é de certo modo um acto inusitado, além de problemático, na medida em que ele revela-se para a literatura na década de 70. Ora, se operarmos com um conceito de geração literária em que se dê relevância à experiência, talvez não hesitássemos em proceder assim. É que a sua narrativa carrega as vivências de décadas anteriores, não podendo a sua escrita traduzir facilmente a permeabilidade relativamente às motivações diferencialistas dos narradores de 60 e 70.
Do conjunto da obra deste autor, a crítica e o público celebram com frequência o conto Mestre Tamoda.
Tamoda, simbolizando, o mimetismo cabotino, é uma personagem típica do mundo rural que através da exibição de maneirismos expõe à hilaridade o uso da língua portuguesa perante uma audiência de jovens e crianças, transformando-se em modelo, no que diz respeito ao emprego e manipulação de vocábulos portugueses.
Mas é a narrativa Manana que merece uma atenção particular. Trata-se de uma história cujo interesse reside na incorporação de universos da tradição oral e na sua concentração à volta do tema da constituição da família e motivações da sua ruptura. Os sinais da oralidade impregnam o texto com alguma intensidade. O que pode ser verificado pela utilização de determinados códigos da oralidade: o musical, o cinésico, o onomástico.
O código musical rege os trechos cantados mais ou menos longos. O código onomástico rege os nomes de algumas personagens. Assim, o código musical associa-se ao código linguístico.
O funcionamento e as regras do código onomástico verificam-se, por exemplo, na decifração do nome Manana . O sentido e o procedimento de nominação é referido pelo personagem-narrador nos seguintes termos: “Soube mais tarde que o nome dessa Manana não é de origem portuguesa. É de quimbundo. Significa ninfa ou larva de abelhas. Alimento dos jithuxi, dos caçadores e de mais pessoas que fazem vida permanente nas matas”.
O código onomástico e as suas regras funcionam igualmente em relação a grande parte das personagens de segundo plano que têm nomes em kimbundu. Do mesmo modo os topónimos. No elenco dessas personagens destacam-se as seguintes: avô Mbengu, velha Kazola, Kalunga, velha Kifila, avô Matadi, Kunda Nzenze.
Na qualidade de escritor com um envolvimento directo na actividade política, pois é deputado à Assembleia Nacional, na sua bibliografia destacam O Ministro e Cultos Especiais duas obras consagradas à crítica social, ao culto da personalidade e a outros comportamentos dos políticos.






Pensar e Falar Angola

2 comentários:

Fernando Ribeiro disse...

O nome Uanhenga Xitu significa "O que leva carne" e corresponde às palavras iniciais de um provérbio em quimbundo que diz o seguinte: Uanhenga xitu nguma ia jimbua ("Quem leva carne é inimigo dos cães").

V. Dias disse...

Adoro este escritor. Grande homem.

Zicomo

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