O arquitecto Cláudio Carlos disse, ontem, em Luanda, ao Jornal de Angola, que as cidades angolanas devem ser construídas numa perspectiva mais inclusiva.
Cláudio Carlos, que exprimiu a opinião à margem da 3ª conferência sobre os “Grandes desafios do Direito Imobiliário à Luz da Legislação angolana e do direito comparado”, que decorreu no Hotel de Convenções em Talatona, criticou as novas construções que, referiu, não obedecem ao “modus vivendi” da população.
“Essas edificações que são modelos importados e que, muitas vezes, não cumprem com o mínimo dos nossos usos e costumes não são as melhores opções”, afirmou.
“É preciso que haja na cidade de Luanda, e noutras de Angola, um planeamento que desenvolva bens e serviços e a habitação compatível com o modo de vida das pessoas”, disse.
Sobre a sustentabilidade das cidades angolanas garantiu não haver nelas qualquer sinal disso, pois para tal “era necessário que existisse mobilidade urbana, controlo e uso racional dos recursos energéticos e uma relação de compatibilidade entre o homem e o espaço”.
“Deve haver uma intervenção que inclua o homem e também um processo de balanceamento entre o espaço rural e o urbano para que este seja valorizado e isso pressupõe a existência de um equilíbrio de forças entre os dois”, defendeu.
A ausência de sustentabilidade nas cidades de Angola, que se reflecte na falta de estacionamento e, entre outros, de espaços verdes, acentuou, decorre do facto não existir um sistema de desenvolvimento integrado e planificado. Cláudio Carlos argumentou que os bairros, enquanto unidades mínimas, devem surgir e desenvolverem-se como “componentes da cidade e não como unidades dissociadas do todo”.
Como exemplo, referiu o caso de Talatona, zona que, sublinhou, “cria uma completa clivagem urbana por serem modelos de construções que se fecham com o exterior”. “Este modelo contraria a cultura de proximidade. Estamos habituados a interagir e dentro dos bairros devem existir relações”, declarou.
Reconstrução nacional
António Gameiro, também arquitecto, disse acreditar que o processo de reconstrução em curso no país vai melhorar as condições de habitabilidade.
“O futuro tem de ser direccionado para aquilo que é o planeamento, não podemos continuar a construir sem uma orientação precisa e específica”, disse.
Nesta base, frisou, as questões fundamentais que tem a ver com a problemática urbana, como o verde e a biodiversidade, devem, no futuro, constar dos programas e dos projectos. “É preciso que haja um planeamento urbano rigoroso, com os elementos de base bem assentes e estruturados”, concluiu.
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