quarta-feira, 7 de julho de 2010

Prémio de Poesia nas línguas Angolanas

A criação de um prémio de poesia em línguas nacionais - o adjectivo é tomado na acepção de pertencentes e originárias da nação angolana, e não no sentido da extensão do mapa linguístico e do coeficiente de falantes - seria uma forma de valorizar a literatura oral, que, no caso, podia constituir um motivo de evasão metafórica, incentivando a produção de um corpus poético, centrado nos valores culturais da angolanidade e na sua filosofia dos costumes identitários.
Na hipótese mais optimista, a criação do prémio podia contribuir para a consciencialização e respeito dos valores literários e culturais veiculados nas línguas angolanas, motivando os jovens poetas e escritores, em geral, a desenvolver e aprofundar as aptidões literárias, sobretudo a nível da línguas de raiz bantu, dentro de um espírito de competição saudável, motivando o prolongamento dos vários níveis de apreciação crítica e de pesquisa linguística.
Julgamos que a protecção do património cultural imaterial - que engloba os saberes, os modos de produção, as formas de expressão, as celebrações ritualistas, as festas e danças populares, lendas, músicas, costumes e as tradições mais variadas - passa pela preparação dos instrumentos de apoio ao sistema de ensino das línguas nacionais, tendo como material didáctico, de base, o texto literário.
As obras resultantes do prémio de poesia em línguas nacionais, se introduzidas no sistema de ensino, podiam aumentar o número de falantes, com escolaridade e a sua reutilização na estrutura textual da Música Popular Angolana.
Era um processo, paulatino, que redundaria na introdução das referidas línguas na administração, concretizando a funcionalidade comunicativa dos actos administrativos, com as populações rurais.
Edições em línguas nacionais
O fomento da edição de obras literárias de autores angolanos, em línguas nacionais, pode assegurar a presença do livro angolano, endógeno, no mercado nacional e internacional, propiciando o desenvolvimento de uma estratégia de promoção da leitura, de acesso ao livro e, consequentemente, à informação, fortalecendo o espólio da rede de bibliotecas, arquivos, centros de documentação, incluindo o mercado livreiro.
Línguas nacionais nos media
A rádio e a televisão, pioneiras na introdução das línguas nacionais nas suas grelhas de programação, têm estado a diminuir o espectro das assimetrias, em matéria de informação geral das populações. Daí que a transmissão dos aspectos culturais mais representativos da angolanidade devem constar nos planos escolares, no âmbito da formação artística, sendo os textos literários, uma importante fonte e veículo de conhecimento.
A fixação e a estabilização das normas ortográficas das línguas côkwe, kikongo, kimbundu, Nyemba (gangela), Oshikwanyama e umbundo e o estudo dos aspectos fonéticos, fonológicos, morfo-sintácticos, lexicais e semânticos, um trabalho desenvolvido pelo Instituto de Línguas Nacionais, veio contribuir para estabilidade ortográfica da escrita, um importante avanço, por muitos desconhecido, para o desenvolvimento da prática do jornalismo em línguas nacionais.
Ensino das línguas nacionais
A desagregação das famílias nas comunidades rurais, com a guerra, redefiniu um novo quadro de falantes, com um pobre, ou quase nulo, conhecimento das línguas nacionais.
O terceiro encontro sobre línguas nacionais, realizado na província do Huambo, em 2008, constituiu um momento para a inclusão das línguas nacionais no sistema de ensino.
O evento, que contou com participações de especialistas angolanos e estrangeiros, pretendeu conhecer o estado actual das línguas nacionais e perseguiu os seguintes objectivos: incentivar os investigadores, estudiosos, artistas, criadores, principalmente músicos e intérpretes, a reflectirem sobre o património linguístico angolano, contribuir para a implementação da dignidade, unidade e preservação dos valores da cultura nacional, bem como determinar as futuras acções a empreender na normalização de todas as línguas nacionais. Foram ainda abordados temas sobre as “línguas nacionais e seus alfabetos”, “línguas nacionais como matéria de ensino”, e a questão relacionada com “línguas nacionais transfronteiriças”.
A obrigatoriedade do ensino das línguas nacionais, a nível básico, médio e superior, foi uma orientação, de um conjunto de outras não menores, saída do terceiro encontro, incluindo a formação de formadores em línguas nacionais.
Outro aspecto considerado crucial, prendeu-se com a actualização e harmonização dos alfabetos e a tradução dos principais instrumentos jurídicos: lei constitucional, lei dos partidos políticos e declaração dos direitos humanos, incluindo a recolha da tradição oral e a produção literária em línguas nacionais.
Na hipótese de se institucionalizar o prémio de poesia em línguas nacionais, caberá ao júri avaliar a literariedade, ou seja matéria artística que enforma o texto literário, conhecer a estrutura narrativa, a coerência textual, o maior ou menor recurso à oralidade, a correcção linguística, a construção sintáctica, a ortografia e os níveis de ficcionalidade.

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