Desculpem o arrojo desta crónica, mas como faço anos por estes dias, tenho o direito a este devaneio, porque como diria Chaplin, “tenho a impressão que os homens estão perdendo o dom de rir”, ou mesmo do mesmo "Através do humor nós vemos no que parece racional, o irracional; no que parece importante, o insignificante. Ele também desperta o nosso sentido de sobrevivência e preserva a nossa saúde mental”
Hoje resolvi introduzir este tema!
Por falar em introduzir, hoje vou falar do paquete Infante D. Henrique, essa jóia da ex- Companhia Colonial de Navegação, fundada por Bernardino Correia, um homem com muitas participações em Angola, onde viajei algumas vezes entre Lisboa e Luanda e ” versa ou vice”.
Para falar do paquete em causa, tenho de começar por falar do próprio Infante. O Henrique de Lencastre era filho do João e Filipa, que já nesse tempo era um nome da moda, e fazia parte da Ínclita Geração, e de facto era uma significativa parte da visão do que se tentava incutir na «raça» portuguesa ao longo dos séculos.
Essa tal ínclita geração tinha de tudo um pouco! Um gestor da treta que cavalgava em toda a sela, mas que se esquecia de deveres conjugais mínimos, que eram usurpados por outros cavaleiros e quiçá alguns pajens; Estou a falar do Duarte, depois um Pedro que era galfarro, e também enchia páginas da "Caras", e outras revistas mundanas ou “nundanas” do tempo, havia o Fernando, que levou na mona dos mouros em Ceuta, que virou santo, o que hoje seria fácil ao ritmo a que são feitas beatificações. Aqui uma certa semelhança com o F. C. Porto no tempo do fascismo, em que os clubes de Lisboa tudo ganhavam, com o beneplácito do regime. Roger Moore era Santo, porque atacava umas moças em filmes de alguma acção e beijoca a esmo.
Ainda havia duas infantas, que nunca entraram na dita ínclita geração, e devem ter sido sepultadas em Mouriscas do Vouga, pois não estão ao pé da “malta” na Batalha das Imperfeitas Capelas, ao pé de um infeliz, ou um conjunto de ossadas de uns infelizes, a quem em vida nunca perguntaram se porventura se importariam de ser soldado desconhecido, só para ser guardado toda a eternidade por infelizes conhecidos, com horário rígido copulado com um “faceas” esfíngico.
O quarto da Ínclita, já que eu a bem dizer ainda prefiro os quatro de Liverpool, era o Infante D. Henrique!
O Infante era um homossexual assumido, que ia passeando pelas praias da costa com cosmógrafos italianos, que iam fazendo umas cartas de marear para o achamento de novos territórios. O Henriquinho de Lencastre era um tipo mal vestido, todo de negro, tipo anúncio da Sandeman, com uma tez de quem sofria da figadeira, com um bigode de carpinteiro de uma construtora estrangeira em Angola, e com um chapéu ao estilo de Matta-Hari. Ele lá corria as praias todas, com os cosmógrafos e compassos italianos na sua peugada, e era bom e bonito, o que eles faziam nas falésias de Sagres ou na” Meia Praia ao pé de Lagos”, como 500 anos depois cantava José Afonso.
Enquanto os italianos se entretinham com as cartas de marear, o Infante ia mareando nas faldas da Serra de Monchique, à procura de padrões de aspecto fálico para colocar em todas as possessões a achar, de forma a perpetuar em "Novos Mundos ao Mundo", também a sua ousada opção sexual, que a coberto da linhagem, possibilitava que a Igreja fosse permissiva” indulgendo” um pecaminoso nobre.
E eis que Portugal penetrava, pelos vistos por penetração também na epopeia dos achamentos.
Em Luanda o largo do Infante, era em frente ao Baleizão, onde conviveram várias arquitecturas e actividades. No centro do largo removido um canteiro, onde estava uma placa, que perpetuando-se o colonialismo iria dar uma estátua do Infante, surge hoje um monumento, desinteressante arquitetónicamente, mas de grande significado na cooperação entre o povo angolano e cubano.
O conjunto de prédios ao lado do Continental, só aguardam mais umas chuvadas, para que o camartelo actue, e o Treme-Treme, passará a um anexo do que se por lá construir. A fábrica de sabão, hoje abandonada à espera do centro comercial, que dava um cheiro inconfundível à praça em tempos idos, vai-se convenientemente deteriorando. Sobra o prédio cor-de-rosa do Café Baia, estilo português-suave dos anos 50, ex-libris da marginal, mandado construir por um roceiro do Uige, Leonel Arroja, que segundo se consta tinha opções bem divergentes do Infante D. Henrique, o que lhe terá abreviado a sua vida, pois escolhia raparigas novas, e deu razão ao ditado: “Homem velho com mulher nova, uma mão a empurrar para a cova”
E eu que ia falar do paquete “Infante D. Henrique”, que tinha um pianista que presumivelmente tocava melhor que o Bill Evans, mas havia gente que discordava, sem tampouco o terem ouvido numa dessas viagens de vice-versa!
Desculpem, esta linguagem homofóbica, mas calhou!
Fernando Pereira
16/5/2010
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