domingo, 30 de novembro de 2008

(42) - Ágora - Acácias que floriam em Álamos- Luanda 17/10/08



No dia 9 de Outubro de 1978, falecia Jacques Brel, uma das muitas vozes, que acordou muita consciência, e as levou a trilhar o caminho do inconformismo.Brel, tem temas que são intemporais, e que marcaram o canto de intervenção, numa fase primária, do tempo em que as palavras e as músicas começavam a desafiar os poderes e a ideologia instalada.Foi um militante de causas em toda a sua vida, e apoiou muitos desconhecidos intérpretes, que na fuga à repressão nos seus países o procuravam para que os apoiasse nos seus projectos, e quiçá nalgumas utopias.Entre os muitos que receberam esse apoio de Brel, conta-se o homem do Huambo, Luis Cília, que para a editora Chants du Monde, faz o seu trabalho Portugal-Angola: Chants de Lutte, disco esgotadíssimo, com uma capa coberta de fotos que ilustravam os desmandos do mando colonial em Angola.Não era para vir a propósito, mas já que se falou em Brel ou Cília, lembrei-me de falar de Luis Filipe Colaço, o próprio colaborador deste jornal, que de uma forma diletante no aspecto de intervenção musical, e militante enquanto homem de causas, foi colaborador directo, de discos que assumiram um papel histórico nos desenvolvimentos políticos de Portugal na ultima trintena do pretérito XX.Em 1969, num trabalho de grande fôlego de Adriano Correia de Oliveira, “ O Canto e As Armas”, o Phil Colaço para além de viola-solo, musicou “O canto da nossa tristeza”. Em 1970, fez com José Afonso, o “Traz outro amigo também”, onde colabora o Carlos Correia “ Boris”, que é natural do Chinguar e professor universitário em Coimbra. Já agora, convém lembrar que o Boris, é uma alcunha que ultrapassou o próprio nome, e surge tendo em conta as parecenças físicas deste com Boris Karloff, actor inglês que fazia de príncipe de Frankenstein, alcunha em que a paternidade é do seu conterrâneo Orlando Rodrigues, ilustre jurista, e contemporâneo de ambos em Coimbra.Em 1971, Luis Filipe Colaço e Bóris, acompanham José Afonso no extraordinário “Cantigas do Maio”, onde está o célebre “Grândola Vila Morena”, musica que foi a senha para o inicio das movimentações militares que levaram ao derrube do fascismo em Portugal, e do colonialismo nos territórios por si dominados.Há uma cena engraçada sobre a gravação desta canção, que é feita com recurso apenas à voz, e com a necessidade do acompanhamento ser apenas feito por uma marcha. Como não havia pés em numero suficiente para que o efeito fosse o desejado, o Bóris lembrou-se que tinha visto no quintal do estúdio em Paris, onde se faziam as gravações, uma quantidade de brita, e num improviso gravado às três da manhã, para evitar ruídos acessórios, todos os músicos a marcharem, e que deu o resultado desejado. Neste trabalho colaborou também José Mário Branco.O Luis Filipe Colaço, era viola solo de um conjunto muito em voga no yé-yé português, “Os Álamos”, na esteira da globalização que os Beatles imprimiram nesses magníficos anos 60.Formado em 1963, “Os Álamos” eram requisitadíssimos por todo o lado, e o Gorduras, nome porque era conhecido o Colaço, era segundo se consta, muito requisitado por hordas de fãs que acompanhavam o conjunto.Este conjunto, para onde entrou em 1969, o Boris, nasceu do “Conjunto de Jazz do Orfeon Académico de Coimbra”, que no dealbar dos anos 60 era o único espaço de algum interesse, na choradinha e lúgubre canção coimbrã, impropriamente chamada de fado de Coimbra.Já que se fala do Orfeon Académico de Coimbra importa referir que Lúcio Lara, sua esposa Ruth e Carlos Mac Mahon Vitória Pereira, foram orfeonistas no início dos anos 50, tendo Lúcio e Ruth, depois cantado no Coro da Academia dos Amadores de Musica de Lisboa, dirigidos pelo maestro Lopes Graça.Anos mais tarde, no fim dos anos 70, Lúcio e Ruth cantaram no Karl Marx, no Coro da Academia, regidos pelo maestro Lopes Graça, que pouco tempo depois falecia, provavelmente a repetir uma frase que ele adorava citar do José Gomes Ferreira: “Recuso-me a ter mais de vinte anos!”Fernando Pereira


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sexta-feira, 28 de novembro de 2008

AJAPRAZ

A Associação dos Jovens Angolanos Provenientes da República da Zâmbia (AJAPRAZ) fez hoje, quinta-feira, uma entrega de 13 toneladas de bens alimentares e brinquedos ao Hospital Esperança da capital.
No momento da entrega dos bens alimentares, o presidente da AJAPRAZ, Bento Raimundo, explicou que é mais um gesto de solidariedade a estender-se ao Hospital Esperança, na qual irá apoiar o dia Mundial de Luta Contra a Sida, visto que Angola e os governantes mundiais estão preocupados com esta endemia de formas a estanca-la.
Fonte: portalangop 27/11/2008








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quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Chinatown, Africa


Um grande obrigado a MarianaVanZeller por me ter dado a possibilidade de conhecer esta optima peça jornalistica que acabou de estrear na Current Tv dos Estados Unidos de América.


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Há literatura em África


E boa, acrescento. Por mais que esta afirmação seja óbvia, ainda existem muitas pessoas que ignoram a produção literária do continente africano. Muita gente ainda acredita que África é apenas safáris, tribos exóticas, aventuras no deserto e recordações do passado. Assim num mero acaso me veio parar às mãos "Angola e Moçambique – Experiência Colonial e Territórios Literários", da professora Rita Chaves.
O livro é uma resenha de ensaios e artigos que retratam a literatura de Angola e Moçambique.
Do passado colonial português e com uma história marcada profundamente por mandos e desmandos da metrópole européia, Angola e Moçambique criaram autores que procuraram a construção, aparentemente utópica, de uma identidade nacional.
Com uma linguagem clara e direta, sem apoiar-se na estrutura hermética comum em muitos textos acadêmicos, a professora Rita Chaves faz, por exemplo, uma leitura brilhante da obra de Pepetela, o escritor mais famoso e premiado do país. A autora traz também uma entrevista com José Craveirinha, poeta (e aparentemente fanático de futebol) que lutou pela independência de Moçambique.
Rita Chaves é professora de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa na Universidade de São Paulo, Brasil. Entre outros títulos, publicou A Formação do Romance Angolano.



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Morena de Angola

"Morena de Angola" - pintura de Cláudia Regina.



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quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Filomena Cabral




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Escritores Angolanos - Raul David

Bio-bibliografia:

Raul David nasceu em 1918 na cidade da Ganda, província de Benguela. Fez os estudos primários na cidade natal onde passou a infância. Frequentou o seminário católico de Ngalangui. Iniciou a sua actividade literária aos 45 anos de idade. Mas estreia-se aos 57 anos, já no alvorecer da independência. Publicou Colonos e Colonizadores (1974), Escamoteados na Lei (1987), Cantares do nosso Povo,versões escritas de cantos e poemas em língua Umbundu (1987) Narrativas ao Acaso (1988), Ekaluko lya kwafeka ( 1988) Crónicas de Ontem para ouvir e contar (1989), Da Justiça Tradicional nos Umbundos (ensaio) (1997).
A leitura de toda a sua obra permite detectar a existência de um fio condutor que aponta para a predominância da narrativa-testemunho, apesar das incursões que realiza nos domínios da poesia oral em versões escritas e da ensaística. Mesmo assim está subjacente uma intenção de transmitir um conhecimento que, tendo-lhe chegado pela via oral, ele prefere reduzi-lo a escrito.
Por todas estas razões, Raúl David é na verdade um cultor da memória, o que pode ser comprovado pela sua capacidade de improvisar a narração de experiências e factos ocorridos há cinquenta anos.O que qualifica o seu discurso narrativo no contexto do que é a contribuição para a história social da região de Benguela.
A sua proficiência na língua Umbundu associada à frescura com que trabalha quando conta as suas histórias, constituem dois elementos entre tantos daquilo que permite distingui-lo de outros escritores angolanos que usam o português. Nele se reconhece a coexistência actual das línguas nacionais e da língua portuguesa.


Luis Kandjimbo
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terça-feira, 25 de novembro de 2008

Uma vez por outra eu comento


As eleições democráticas foram há quase 3 meses. A organização nacional vai-se fazendo. Para uns muito lentamente, para outros rapidamente, demais até. Agora é necessário reorganiizar a sociedade civil e fazê-la actuar na vida do país.

A informação está a melhorar com os novos orgãos em papel que têm surgido, falando-se noutros meios de som e de imagem a aparecer em breve, e com isto melhora-se a organização civil.

Terminada a guerra a sociedade civil tem de ajudar o Estado, tem de contribuir para que este Estado consiga ter capacidade de reconstruir-se, tem de ter capacidade reivindicativa/fiscalizadora.


Por isso saúdo o incío da 2ª Conferência Angolana da Sociedade Civil, fazendo votos para que hája uma verdadeira diferença entre Sociedade Civil e Estado.


A segunda Conferência Angolana da Sociedade Civil debateu hoje, no seu primeiro dia, a questão do mecanismo de coordenação das organizações da Sociedade Civil em Angola, representatividade e legitimidade.

Estão reservados para os últimos dois dias abordagens sobre «O papel do voluntarismo e dos diferentes doadores», «Actividade económica e seu impacto ambiental», «Sociedade civil e a política, eleições, constituição».

foto de FERNANDO NAIBERG
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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Angola na Imprensa (6)


A educação em análise no novo livro de António Burity da Silva

Reflexões sobre o processo de formação sustentada de Angola

Filipe Zau
Tal como Luanda, onde ocorre a grande maioria dos actos culturais deste teor, também Benguela não deixa de ser uma cidade emblemática. Foi porto escoadouro de escravos para a Europa e para o novo mundo, especialmente, para o Brasil, quando este país ascendeu à independência, em 7 de Setembro de 1822. Foi em Benguela, mais propriamente, no Forte de S. Filipe, que, na sequência do “Grito do Ipiranga”, foi dado o primeiro grito de independência por um oficial do exército, que era um nativo “Filho do País”. Tratava-se do tenente-coronel Francisco Pereira Diniz, um homem negro, natural de Benguela, que comandava as companhias de linha da capitania e dirigiu o movimento, que hasteou a bandeira do café e, do tabaco. Foi, em Dezembro de 1869, fundada a província de Angola, como resultado da união dos reinos do Ndongo e de Benguela, no mesmo ano em que ocorreu a abolição da escravatura em todas as possessões portuguesas. De Benguela parte o caminho-de-ferro que une o litoral ao Leste do país. Em Benguela, tal como em Luanda, também há tradição literária. De entre outros sobressaem os nomes dos escritores: Ernesto Lara Filho, Alda Lara, Aires de Almeida Santos, Pepetela e Raul David. Para além do acto central do Dia do Educador, a cerimónia do lançamento deste livro reveste-se da maior importância para a história da Educação de Angola, uma disciplina que urge criar nos cursos dos Institutos Superiores de Ciências da Educação e nos cursos do Magistério Primário. Não é possível fazer investigação em Educação e para a Educação, sem se conhecer a própria história da Educação.As intervenções do autor, enquanto ministro da Educação, constituem fontes do maior interesse, para que, por exemplo, se entenda melhor: A transição de uma política educativa assente numa economia centralizada, para uma outra direccionada para a formação de recursos humanos, no contexto de uma economia de mercado; as dificuldades de um sistema educativo sujeito à pressão da guerra, num país de grandes dimensões e diferentes assimetrias de desenvolvimento; a herança de uma rede escolar distorcida e com poucos professores, sendo a maior parte deles possuidores de um baixo nível de escolaridade e ausência de formação pedagógica; a perda de valores e de ética educativa por parte de agentes de ensino, fruto da anomia social criada pelos largos anos de conflito armado; a perda sistemática de quadros da Educação, motivada pelo aliciamento de outros sectores da actividade económica com maior capacidade de remuneração salarial e garantia de melhores condições sociais; a necessidade de estabilizar um sistema educativo e, ao mesmo tempo, reformulá-lo…Enfim, todo um quadro de dificuldades diagnosticadas a partir de 1986, mas com soluções adiadas pela guerra e pela estreita fatia do Orçamento Geral do Estado em cada ano civil. Com a paz o sistema educativo cresceu substancialmente.As linhas de força para a criação de uma história da Educação em Angola situam-se a partir do decreto de Joaquim José Falcão, publicado a 14 de Agosto de 1845, ao instituir o ensino público em Angola. Antes, a Educação em Angola era caracterizada por um proselitismo religioso e por uma formação oficinal de baixa qualidade. Até ao final do processo de assimilacionismo, em 1961, a política educativa colonial esteve apenas preocupada em instruir os portugueses residentes em Angola, bem como os seus descendentes. Decorreu depois um período em que a política educativa colonial procurou abranger um maior número de angolanos. Mas, já era tarde, porque, em 1975, chegou a independência. O primeiro sistema educativo angolano caracterizou-se pela gratuitidade e pela unicidade do sistema educativo. Como único instrumento de comunicação utilizou um idioma de origem latina, não suficientemente dominado por uma maioria populacional de origem bantu, que não aprendeu a língua portuguesa como língua materna. Tal facto constituiu uma das maiores dicotomias de uma prática educativa desfasada da realidade social da maioria dos angolanos. Só, com a reforma educativa, o princípio da sustentabilidade e da endogeneidade, respeitando a identidade cultural dos aprendentes, passou a ser considerado, após a introdução das línguas africanas de Angola no sistema educativo.
Havia uma necessidade de mudança, que está de acordo com uma nova orientação política superiormente traçada pelo Chefe do Estado, Eng. José Eduardo dos Santos, Presidente da República de Angola. Havia, por outro lado, necessidade de dar corpo a essa mudança na gestão das questões educativas. O protagonista dessa mudança tem, evidentemente, um rosto. Esse rosto chama-se António Burity da Silva Neto, o ministro da Educação, que é o autor deste relevante trabalho, que, hoje, chega ao nosso conhecimento. Dos programas e projectos estruturantes realizados, a partir de 1991, sob sua gestão constam, entre outros, os seguintes: Mesa Redonda sobre Educação para Todos; Definição pelo Ministério da Educação do quinquénio 1991-1995, como o da preparação e reformulação do Novo Sistema Educativo; Reinício da actividade do ensino privado em Angola; Exame Sectorial da Educação; Plano Quadro Nacional de Reestruturação do Sistema Educativo; Estratégia Integrada para a Melhoria do Sistema de Educação; Lei de Bases do Sistema Educativo; Reforma do Ensino Técnico profissional com criação de 35 Institutos Politécnicos de novo tipo; Programa de Alfabetização e Aceleração Escolar; Plano Mestre de Formação de Professores; Adopção de um programa de Educação Ambiental e outro de Educação Intercultural; Introdução da merenda escolar; Fornecimento gratuito de livros escolares para o ensino obrigatório, que, no presente ano lectivo teve uma cobertura de 64,5%; Estatuto Orgânico da Carreira dos Docentes do Ensino Primário e Secundário, Técnicos Pedagógicos e Especialistas de Administração da Educação; Criação de um Sistema de Avaliação do Desempenho da Educação…Na realidade, a Educação é um fenómeno sociável. De um modo geral, todas as pessoas têm filhos na escola e sentem-se encorajadas a falar sobre Educação, mesmo que saibam pouco sobre a mesma. Tal facto, por vezes, leva a que se subestime a importância de muitas das preocupações educativas, que terão de ser analisadas ao nível macro, meso ou micro-sociológico. Em meu entender, a leitura deste livro, por parte de pais e encarregados da educação, bem como de outros parceiros sociais, se faz necessária. Mas, principalmente, para os gestores e professores da Educação, essa leitura tem carácter obrigatório, sob pena de continuarmos a ter uma comunidade educativa pouco informada e elucidada sob questões que lhe dizem inteiramente respeito. Julgo que seja o maior desejo do seu autor. Os textos ilustram, de forma frontal e com carácter pedagógico, as dificuldades e os sucessos vividos pelo sector da Educação e abre caminho para o futuro. Felicito o trabalho de selecção levado a cabo por Adérito Manuel Oliveira da Silva, António Campos, Daniel Mateus e José Miguel Cristóvão. Louvo, o bonito prefácio de José Carlos Capinan e a edição de Raimundo Lima e, como não podia deixar de ser, dou os meus parabéns ao Dr. António Burity da Silva Neto, ministro da Educação, pelo livro que soube escrever.



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domingo, 23 de novembro de 2008

Thó Simões


Pinturas de Thó Simões

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(41) - Ágora - O Incontornável Dr. Videira - Luanda 09/10/08



Um determinado indivíduo estava na barra do tribunal acusado de ter chamado "filho da p...", com todas as letras que nós conhecemos, a um outro que então se queixava. O advogado de acusação, o Dr. Videira, pedia punição severa, como era seu hábito. O outro causídico, na pele de advogado de defesa, dizia que, afinal, "filho da p..." não era ofensa... que era assim a modos que... uma palavra que se dizia, que entrava no vocabulário normal... que era só uma expressão que já era vernácula, normal...
O bom do Dr. Videira ia ouvindo... ouvindo... e... nada, não mexia um músculo da cara. Até que o Juiz, admirado com a passividade, o interrogou mesmo.
- Será que a acusação não tem nada a dizer?
E o Dr. Videira, com o ar de bonacheirão que sempre teve... foi dizendo:
- Claro que não, meritíssimo. Depois da brilhante defesa que o "filho da p..." do meu colega fez... que é que eu posso dizer?
E o outro:
- Senhor Dr. Juiz... Senhor Dr. Juiz...o meu colega Videira está a ofender-me.
- Ah, sim?! Agora já é ofensa ?
Esta história é verdadeira, e apenas uma das muitas que fizeram do causídico António Videira, uma das personagens mais marcantes da sociedade luandense do século XX.
Licenciado em Coimbra em 1912, embarcou para Luanda dois anos depois para em 1916, fundar “O Jornal de Angola”, que nada tem a ver com o que conhecemos actualmente, e que seria um jornal politica e culturalmente activo, na sociedade luandense muito fechada, excessivamente marcada pela intriga, e muito pouco permissiva a alterações culturais que pudessem alterar o status quo prevalecente.
Rapidamente destituído de director pelo Centro Democrático de Angola, a sua resignação já tem algo de premonitório, no que virá a ser a sua intervenção cívica e política na sociedade luandense até à sua morte em 1955: “Sou gaúche em todas as coisas. Anunciei um jornal político, e quase só acusei correlegionários; prometi pugnar pelo desenvolvimento desta província, e lançam-me a responsabilidade de o ter entravado, delineei um critério mais justo para mais justa apreciação de brancos e pretos, europeus e indígenas, civilizadores e civilizandos, e a política local caça votos, acusando-me de pretofobo..."António Videira morava numa vivenda na ladeira que desemboca no Cine Tropical, na zona das Ingombotas, e segundo as descrições, era frequente vê-lo com o seu fato completo de linho branco, num carro descapotável, acompanhado com um macaquinho de estimação, que utilizava para as suas diatribes, principalmente contra o servilismo político e a hipocrisia de uns tantos conservadores, que naturalmente não achavam grande piada a um homem, que sempre afirmou os seus princípios de democrata, e de combatente pelo debate de ideias.Recuando um pouco, ao seu escrito de resignação do Jornal de Angola: “Não posso mais. Cedo. O meio é um charco; e, de tanto mexer na lama, sinto-me agoniado." "Fujo. Perseguido? -Não. Estafado e enojado. Desgostoso comigo mesmo pela falta de persistência que inutiliza a minha acção e deliberadamente convencido de que é impossível, já agora, salvar-se este país da falência moral para que caminha. (...), vemos que António Videira acreditava em valores que a sociedade angolana não ousava sequer querer conhecer.O meu falecido amigo Felisberto Lemos, ofereceu-me um dos seus livros, “Angola – 10 Bilhetes Postais Ilustrados”, excelente obra sobre a fauna e a natureza de Angola, com desenhos de Neves de Sousa, e que é uma estimável relíquia, para os poucos que ainda o possuem.Deste homem que se descrevia ,"Cidadão português, domiciliado em Luanda, de jure no gozo dos seus direitos civis e políticos, livre de culpa, bacharel em Direito", há centenas de histórias que passaram a lenda, e não deixa de ser curioso que há algumas que ainda hoje se mantém com devido realce na história jurídica portuguesa.Entre várias, há um recurso para o Supremo Tribunal em Lisboa, relativa a uma acção em que o juiz terá dito ao Dr. Videira, para não vir ao tribunal “dar música”. Com base nisso o ilustre advogado, resolveu enviar no início da exposição, a pauta musical com a abertura do Anel do Nibelungo, ópera de Richard Wagner, ficando o juiz furibundo, ameaçando-o de um processo de desrespeito pelo tribunal, mas o bom senso do colectivo acabou por saudar o bom humor do Dr. António Videira.Pode mesmo dizer-se que em histórias, esta Videira deu mesmo muita uva.


Fernando Pereira

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sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Tenda das letras

Quarta "Tenda das Letras" será sábado e domingo na escola 147

Luanda - Cinco escrirotes angolanos estarão sábado e Domingo na IVª Tenda das Letras, para uma sessão de autográfos e manter contactos com o público, a ter lugar na escola do Iº nível 147, nos combatentes, em Luanda.

Os escritores John Bela, autor do livro "Zamba o rei sou eu", Cremilda de Lima, "Balão vermelho", Tazuary Keita "A minha pulseira de ouro", Noqui Nogueira "Sinais de Sílabas" e António Fonseca "Contos de antológias" estarão sábado e Domingo na referida tenda, com estes e outros dos seus livros.

Segundo Gabriel Cabuço, membro da organização da Tenda, estarão igualmente expostos e a venda livros de diversas editoras e livrarias do país, das 10h às 17h destes dois dias.

A actividade insere-se no programa Novembro Cultural, do Instituto Nacional do Livro e do Disco.

A terceira Tenda das Letras teve lugar nos dias 15 e 16 deste mês.
ANGOP


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Nova Imprensa



Aos poucos vai-se constituindo um leque que permite uma maior e, consequentemente, uma melhor escolha na informação prestada aos angolanos.

A juntar ao diário Jornal de Angola, ainda uma referência (com as devidas reticencias e consequente necessidade de filtragem), aos semanários de difícil leitura porque pecam duma impressão gráfica incipiente, porque serão muitas vezes fruto de 'carolice', porque são edições marcadamente políticas, têm aparecido uma nova imprensa, apoiada numa maior força económica, que desejamos venha a vingar para lá da fase inicial, para lá dos foguetes de lançamento.
Há necessidade de não esquecer que informação é cultura.

Em tempos saudámos o NOVO JORNAL, hoje, com algum atraso saudamos o O País e a segunda edição do Angola In.


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Neves e Sousa, Pintor de Angola


Capa de uma publicação para a Nestlé
enviado por Rodrigues Vaz, a quem agradecemos a colaboração.

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ANMAP


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Angola na Imprensa (5)

As fortes chuvas que desde Outubro se têm feito sentir em Angola já fizeram quatro mortos e deixaram desalojadas quase cinco mil pessoas, anunciou ontem o Serviço Nacional de Protecção Civil (SNPC).
A época das chuvas só começou há um mês e já deixou estragos avultados, principalmente nas províncias do Cuango-Cubango, Uige, Zaire, Kuanza Sul e Kuanza Norte e também Moxico.
A província do Uige, além de ter sido palco para duas das quatro mortes, viu cerca de 1800 pessoas ficarem desalojadas. Já em Luanda-Norte 738 famílias ficaram sem casa.


A Protecção Civil apoiou as pessoas que ficaram desalojadas recebendo-as no centro de abrigo e providenciando apoio alimentar. O SNPC pôs em prática algumas acções no sentido de minimizar os efeitos negativos das chuvas e que assentam principalmente no resgate e transporte das pessoas em perigo para locais mais seguros. No que diz respeito a acções de prevenção, foi levada a cabo uma campanha de sensibilização da população para que evitem zonas de maior risco estando também as autoridades sanitárias em estado de alerta para possíveis epidemias geralmente associadas a cenários de chuvas prolongadas.


A actuação relativa à reparação dos estragos provocados conta com o apoio de organizações não governamentais, assim como do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e do Programa Alimentar Mundial (PAM).
(c) PNN Portuguese News Network



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CLAUDIO VERSIANI


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