sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Casa Angola, S’A @ Construir

O fenómeno da eco-arquitectura tem vindo a ser menosprezado pelo contexto que o precede. Não raras vezes, arquitectos com oportunidade para exprimirem as suas opiniões sobre sustentabilidade tendem a refugiar a critica no que o tema tem de mais redutor: a forma, ou, no limite, a expressão construída do objecto.
O preconceito da forma assume-se como o maior handicap no campo da arquitectura sustentável precisamente porque esta não tende a produzir luxo ou ostentações tectónicas, pelo contrário, pretende acontecer a partir da máxima gestão de recursos com considerações conscientes no que à economia de meios e ao conhecimento tecnológico diz respeito, para que o resultado final não seja apenas produto do intelecto, mas antes um acto consciente de resolução de um problema com muito mais variáveis para além do romance do lugar e a fotogenía do edificado.
A casa Angola propõe-se generosa. Pretende operar em lugares desérticos, sítios de clima quente e onde os recursos financeiros não se prestam a despesas. Pelo contrário, desenhar para a classe média/baixa em Angola, é exercício que exige a maior reflexão estratégica, de modo a que se garanta ideal harmonia entre o acto criativo, agente indissociável do processo, e a própria sustentabilidade financeira do projecto.
É aqui que se reconhece o ponto de cisão entre duas arquitecturas distintas: a primeira, que ainda se assume como o mais notório ocupante no veículo da divulgação artística, e a segunda, nobre nos seus propósitos, mas que continua a não comprovar suficientes mais valias para que se reconheça como igual à primeira, curiosamente, não nos coloca entraves, não media a sua relação com o arquitecto através de promotores confusos ou clientes disfuncionais, pelo contrário, assume-se tão redutora nos seus propósitos como o é na essência do processo que leva à sua construção – Simples, e para além disso, mais nada.
O custo da casa pretende ser controlado a partir do princípio de 50€ por metro quadrado, resolvendo, a partir daí, o problema do conforto ambiental, luxo com que ainda se não vive neste quadrante do continente africano.
A planta é simples e adaptável às necessidades das famílias que em número e em estilo poderão variar na ocupação do espaço, e, a partir de um sistema eficiente de composição modular, o interior serve as necessidades e condições sócio-económicas dos seus habitantes.
Por fora é uma casa típica, que se pretende revestir em alegoria ao sitio em que se insere, através de um revestimento exterior em Bambu, Madeira ou palhota, permitindo assim um controlo térmico a partir da menor inércia da pele exterior por oposição ao interior da casa, controlando assim as alterações térmicas ao longo do dia e à noite.
O perfil do corte não engana. Identifica o objecto na lógica do seu propósito: para além de todas as estratégias, ainda é uma casa, e, apesar de se poder vir a assumir como mais um dos parentes pobres no mundo ainda dominado pela magnificência do que a engenharia tem para oferecer, a casa Angola é o mais autêntico dos exercícios de construção.

Nenhuma arquitectura, igualmente potenciada para o conforto e excelência na assumpção dos seus propósitos se pode vir a assumir como mais arquitectura.



Fonte: aspirinalight.com


Pensar e Falar Angola

1 comentário:

Anónimo disse...

Conceito bastante interessante, sob o ponto de vista etnográfico e arquitectónico. Uma solução que favorecia o conforto de de uma massa que se encontra esquecida, abandonada. Seria um passo para a evolução destes povos.