“Prefiro morrer, a mudar de clube!”, dizia o Fernando Teixeira (Baião), nas saudáveis discussões, sobre a continuada ausência de títulos do seu Sporting.
Teríamos de todo preferido, que tivesse mudado de clube, e que se tivesse mantido vivo entre os muitos que o estimávamos.
Há uns tempos que a sua saúde se degradava, e o combate era uma luta desigual, mas que o Baião ia encarando com relativa serenidade, e quase invariavelmente com o seu proverbial humor.
É complicado falar de uma pessoa, que era amigo dos seus amigos, pai extremoso, dedicado à família, solidário e de uma probidade intelectual, assumindo sem tibiezas publicas posições políticas, afirmativas da vontade de ver uma Angola independente e progressista.
Depois de ter andado uma vida inteira com números às voltas, dedica-se à escrita, e num curto espaço de oito anos publica quatro livros, onde procura transmitir um colorido de linguagem, com a sua verve, que o tornava um sedutor em todos os locais onde aparecia, e onde todos apreciavam a sua companhia.
Passa a meninice e juventude em Luanda, onde era um verdadeiro “capitão da areia”, na ocasião frequentando o Instituto Comercial, o vetusto colégio D. João II, e a Liga Africana.
Embarca para Lisboa, para prosseguir os seus estudos superiores, acabando por se licenciar em Economia na Bélgica, para onde vai por razões políticas, engajado numa luta contra o colonialismo português em Angola.
Regressa e entra para a Inspecção de Crédito, faz parte da coordenadora que em 14 de Agosto de 1974 nacionaliza a banca, depois no Banco Nacional de Angola onde passa por todos os lugares de direcção, tendo chegado a Governador.
Administrador da parte angolana de uma companhia de capitais belgas (FINA), Fernando Teixeira (Baião) começa a ter tempo para ler e absorver novas realidades, começando a escrever, para que todos nós pudéssemos partilhar a muita história, que contou ao longo dos anos, naquele “jeito” inconfundível, onde nunca havia momentos de tédio.
Pediu-me várias vezes opinião sobre o que escreveu, e sempre o fiz, sem qualquer hipocrisia, porque na realidade era um amigo e aos amigos, ensina-se a tentar ser melhor. Fui muito crítico de alguns textos, que lia antes de o livro ir para o prelo, e agradecia-me a crítica e aceitando algumas sugestões que lhe dava, o que ilustra bem como estava na vida e qual a sua relação com as pessoas.
Desapareceu um amigo, um homem de uma grande energia, e Angola empobrece com o desaparecimento de pessoas com esta nobreza de carácter, que enquanto director do DOI do BNA, nunca regateou ajudar pessoas de parcos recursos, que necessitavam de urgência em tratamentos médicos no exterior do País.
A sua alcunha de Baião, vem do seu virtuosismo para a dança, que fazia furor nas farras de Luanda, onde invariavelmente acabava descalço.
Valia a pena ter mudado de clube, nem que fosse só pelos seus filhos, sua mãe e seus amigos, onde sei por experiencia própria, que tinha lugar cativo.
Fernando Teixeira (Baião) faleceu no passado 12 de Abril com 70 anos e publicou “Estórias a Corta Mato” (Luanda 2002), “Branco de Quintal” (Luanda 2006), “O Crime do Bairro da Cuca” (Luanda 2007), que serviu de guião a uma telenovela recentemente exibida na TPA,”Kimalanga” (Luanda 2009).
Fernando Pereira
18/04/2010
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