terça-feira, 29 de junho de 2010

Reorganização Nacional (IX) - Economia

Aos poucos, as moedas vão surgindo no ciclo normal da economia quotidiana dos angolanos e estão a contribuir para um maior rigor nos trocos, até aqui "arredondados" a favor dos comerciantes ou, pior ainda, convertidos em géneros não solicitados pelo cliente, como guloseimas e pastilhas elásticas. A introdução, pelo Banco Nacional de Angola, de moedas de 1,00, 2.00 e 5,00 kwanzas e 10,00 e 50,00 cêntimos, representa uma mudança, mesmo que tímida, para o cliente pagar exactamente o preço marcado.
Mário Noélio compra um refrigerante e paga na caixa do supermercado o preço exacto. Para isso usa moedas. Ele tem dez anos mas já conhece as moedas de 10 e 50 cêntimos e de 1,00, 2,00 e 5,00 kwanzas em circulação no mercado nacional. É aluno da quarta classe e diz que na hora de comprar pastilhas e biscoitos paga o preço exacto porque usa o novo dinheiro em circulação.
Muitos clientes quando recebem os trocos em moedas ficam admirados. Para muitos, elas são um empecilho, porque os comerciantes se recusam a aceitá-las, embora haja também clientes que se neguem a recebê-las no troco.
Um restaurante que oferece serviços de “take away”, o cliente Mário Sérgio solicita um prato e recebe o troco em moedas. Rejeita à partida, mas depois conforma-se, embora preferisse receber pastilhas.
O estudante universitário Samuel Paulo, no momento em que lhe deram o troco, gostou de receber as moedas porque, no seu entender, “deviam circular no mercado formal e informal”.
Teresa Lacher, responsável de um supermercado, disse que a empresa enfrenta dificuldades na entrega das moedas, porque os clientes reclamam. “Optámos por substituir o troco por outros produtos do mesmo valor, quando o cliente rejeita as moedas”, explicou.
Teresa Lacher considera importante a entrega de trocos em moedas, porque é uma forma de sensibilizar todos os agentes económicos a terem a mesma atitude. Além do grupo Sanders Investments, existem outros estabelecimentos, em Luanda, que entregam trocos em moedas metálicas aos clientes.
Embora as moedas ainda sejam desvalorizadas, Sónia Silvestre, operadora de caixa da loja Estrela Branca, diz encarar a iniciativa como “uma forma de permitir o consumo de produtos com menor valor, tal como nos outros países”.
Cátia Monteiro foi às compras e disse que muitas lojas em Luanda já dão aos clientes os trocos em moedas.
Francisco Costa, gerente de uma loja, começou a fazer trocos em moedas há mais de 15 dias. O comerciante defende a circulação de moedas, umas vez que tem sido lastimável a conservação das notas “pequenas” que mais circulam no mercado. “Às vezes, recebemos trocos em notas manchadas com sangue e malcheirosas”, afirmou. Além de dar os trocos em moedas, o comerciante tem sensibilizado os clientes para o uso de moedas.
António Ramos da Cruz; do Banco Nacional de Angola (BNA), informou que as moedas de 5,00 kwanzas voltam a circular no mercado, dada a elevada procura das notas de menor valor facial. “Reintroduzimos as moedas de cinco kwanzas, porque achamos que vai facilitar a actividade comercial dos agentes económicos. Em função da escassez das notas de 5,00 e 10,00 kwanzas, decidimos lançar novamente as moedas”.
O gestor bancário aponta a redução da inflação como estando na base da aceitação da moeda, uma vez que no passado “o nível da inflação era muito alto e circulavam apenas notas de maior valor facial”.
António Ramos da Cruz explica que as moedas de menor valor facilitam os trocos, tendo em conta os sinais de estabilidade económica que o mercado apresenta: “verificámos que os operadores substituíam os trocos com biscoitos, rebuçados ou pastilhas elásticas e muitas vezes furtavam-se a fazer o troco”, acrescentou.
António Ramos da Cruz garante que as moedas têm curso legal no país e devem ser aceites nas transacções comerciais, numa altura em que o BNA emitiu um considerável volume de moedas, devido à escassez de notas de menor valor facial.
O BNA voltou a introduzir, no dia 24 de Maio, as moedas de 5,00 kwanzas. As de 1,00 e 2,00 kwanzas e as de 10,00 e 50,00 cêntimos já existem no mercado.
O Banco de Poupança e Crédito (BPC) pediu ao BNA moedas no valor de 1,5 mil milhões de kwanzas, para as operações de troca no mercado nacional. “A intenção do Banco Central é promover campanhas de sensibilização para o uso das moedas em circulação”, disse António Ramos da Cruz, acrescentando ser obrigação do BNA intervir e exigir junto dos operadores económicos a utilização das moedas.

Consumo obrigatório

A directora adjunta do Instituto Nacional de Defesa do Consumidor (INADEC), Nilza Muafumba, reprova a atitude dos operadores comerciais na fixação de preços que implicam a entrega de notas de menor valor facial. “Muitos agentes económicos furtam-se à entrega de trocos, o que é reprovável”, referiu. Os preços devem ser estipulados de acordo com as notas que a empresa tem disponíveis. Nilza Muafumba denunciou que os agentes económicos induzem os clientes a um consumo obrigatório.
“Nas actividades de fiscalização que efectuamos nos estabelecimentos comerciais tem sido frequente assistirmos à entrega de biscoitos como troco em kwanzas”, uma atitude que Nilza Muafumba qualifica de desleal.
A directora adjunta do Instituto Nacional de Defesa do Consumidor (INADEC) afirma que os actuais níveis de inflação já permitem que os operadores façam o uso das notas de menor valor facial. Mas aconselha os consumidores a reclamarem os seus trocos, pois a circulação das moedas no mercado já é um dado notável.



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