domingo, 6 de junho de 2010

Exercício Kwanza 2010 e a Saúde

Montado a três quilómetros de distância do centro de comando do “Exercício Kwanza 2010”, em Cabo Ledo, o hospital médico-cirúrgico de campanha, realizou em cinco dias, mais de 700 consultas em diferentes especialidades. A estrutura móvel pertence às Forças Armadas do Gabão. Além de terem realizado consultas, sobretudo a doentes com paludismo, os profissionais de saúde que integram os países membros do exercício fizeram entrega de medicamentos gratuitamente à população
Durante uma semana, os habitantes da vila de Cabo Ledo, na província do Bengo, beneficiaram de serviços de saúde gratuitos, por médicos que participam no “Exercício Kwanza 2010”. No hospital médico-cirúrgico de campanha, profissionais de saúde e pessoal de apoio logístico de Angola, Gabão, República Centro Africana, Chade e São Tomé e Príncipe, não pouparam esforços para atender centenas de pacientes.
No hospital de campanha as regras eram cumpridas logo à entrada. O processo de consulta é rápido. À chegada do doente é feito o registo, a triagem e o encaminhamento para a especialidade em função dos sintomas que apresenta.
Na fila de militares encontrámos o sargento Augusto Vapor que presta serviço no Estado-Maior da Força Aérea Angolana. Há duas semanas que se queixa de dores na coluna e logo que chegou ao hospital de campanha teve atendimento imediato. Antes de ser medicado, Augusto Vapor passou pela tenda de triagem e posteriormente pela tenda de Raios X.
Dionísia Cafeca anda há sete meses com problemas de visão. A jovem mora em Cabo Ledo. Esperou 15 minutos na fila da população civil para ser atendida. Dionísia Cafeca tem 19 anos: “já fui consultada, fiz exames e passaram-me uma receita para levantar os medicamentos na farmácia”, disse. Filha de um oficial subalterno das Forças Armadas Angolanas (FAA), Madalena Noémia soube que médicos da Comunidade Económica de Estados da África Central (CEEAC) que participam do “Exercício Kwanza 2010” montaram um hospital de campanha onde fazem consultas e exames gratuitamente.
Madalena Noémia vive com a mãe na Rua Santa Rita, no município do Cazenga, mas foi a Cabo Ledo: “tenho dificuldades para ser consultada nos hospitais públicos e também nem sempre tenho dinheiro para suportar os preços praticados nas clínicas privadas, por isso vim ao hospital de campanha”, adiantou. Teve consultas de estomatologista e de ginecologia. Na quinta-feira, extraiu um dente e na sexta-feira iniciou um tratamento para atenuar as dores menstruais.
Vítima de acidente de viação no trajecto Sumbe-Cabo Ledo, Baptista Bento esteve dois dias internado no Hospital Médico-Cirúrgico de Campanha. Teve um traumatismo craniano e teve que ser reanimado. Neste momento, Baptista Bento está em fase de recuperação em casa.
A nossa reportagem apurou que o Hospital Médico-Cirúrgico de Campanha tem as especialidades de cirurgia, estomatologia, pediatria, oftalmologia, ginecologia e otorrinolaringologia. Tem ainda uma tenda de medicina geral, um bloco operatório, enfermaria para internamentos, radiologia, reanimação, psicologia, farmácia e um laboratório. Além disso, desenvolve campanhas de sensibilização contra doenças sexualmente transmissíveis. O enfermeiro e técnico de laboratório que veio do Gabão, Ongouadjo Koch, aponta o paludismo e o teste ao HIV-SIDA como as análises mais frequentes.
“As nossas análises laboratoriais constataram vários casos de paludismo e cinco casos de HIV-SIDA entre os civis e militares da Força Multinacional da África Central”, disse.

Afluência à pediatria

Rosa Chilombo vive no Catambor, em Cabo Ledo. A jovem mãe levou o filho ao hospital de campanha para ser observado, um dia depois de ter sido avisada pela vizinha de que as consultas eram gratuitas. O filho de Rosa Chilombo tem uma dor no ouvido que lhe dificulta a audição e a mãe estava na tenda de pediatria à espera da sua vez para a criança ser vista pelo médico pediatra.
Nelson Martins, capitão do Exército e destacado no Estado-Maior das Forças Armadas aproveitou a oportunidade para levar o filho ao hospital de campanha.
O pequeno Crésio Martins foi consultado e continua o tratamento em casa: “não levou muito tempo para que o meu filho fosse atendido e também encontrei bons médicos”, disse.
O médico pediatra Gody Cryssstome disse à nossa reportagem que foram atendidas 143 crianças. Apontou a malária, infecções respiratórias, diarreias e má nutrição, como as doenças mais comuns entre as crianças atendidas.
Gody Cryssstome, coronel das Forças Armadas da República Centro Africana, explicou que a gravidade do estado de saúde de duas crianças obrigou à sua evacuação para Luanda. O pediatra diz ter verificado que o uso de sal não iodizado está a criar problemas nas crianças e que também as mães deixam de amamentar muito cedo: “prometemos no final fazer um relatório para as autoridades de saúde do país”, garantiu. Em cinco dias de atendimento, a equipa médica do Hospital Médico-Cirúrgico de Campanha montado pelo contingente militar do Gabão está satisfeita pelo trabalho realizado.
O médico chefe, Mikiela Anicet, revelou que mais de 700 pacientes foram consultados e foram realizadas 19 intervenções cirúrgicas em pessoas que foram vítimas de acidentes. Mas também foi removido um cancro da mama. “. Estamos satisfeitos com a adesão da população porque foi esse o principal objectivo da nossa missão”, disse Mikiela Anicet. Chefe do hospital militar de campanha do Gabão há quatro anos, Mikiela Anicet disse que trabalha com médicos da CEEAC e as consultas são gratuitas e estão incluídas no âmbito humanitário.

Emergência médica

O Instituto Nacional de Emergência Médica também se associou ao “Exercício Kwanza 2010” e montou uma tenda de campanha para atender a população civil de Cabo Ledo. O médico cirurgião e chefe de equipa da estrutura móvel, Álvaro Pedro, disse que “nós viemos munidos de medicamentos que são fornecidos gratuitamente depois das consultas médicas”, disse.
No âmbito das emergências médicas, Álvaro Pedro adianta que tudo corre como o previsto. A tenda dispõe de três compartimentos com uma área de primeiros socorros, um consultório médico e uma farmácia.“Já prevíamos que íamos encontrar enchentes nos nossos serviços porque não é a nossa primeira experiência em comunidades onde a assistência médica é escassa”, disse o médico.
Álvaro Pedro explicou que sempre que necessário há o apoio de uma ambulância que está em permanente contacto com os hospitais de referência em Luanda. A clínica do Prenda e o Hospital Josina Machel são as duas unidades hospitalares escolhidas.





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