quarta-feira, 2 de junho de 2010

Combate à Pobreza

O secretário Executivo da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) considera o combate à pobreza o principal desafio do continente. Tomás Salomão defende o fim dos conflitos e pede aos Governos que promovam uma cultura de paz. O diplomata moçambicano ao serviço da SADC concedeu uma entrevista ao Jornal de Angola no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, momentos depois de participar, em Luanda, no colóquio sobre o Dia de África, onde falou sobre “A Situação da Segurança na África Austral, Principais Desafios e Metas”.

Jornal de Angola – O que fazer para que o mundo deixe de perceber que África é um continente de pobreza?

Tomás Salomão – Só nós, os africanos, é que vamos poder retirar essa percepção de que África é um continente de conflitos, de fome, golpes de estado, HIV/Sida e outras doenças. Esta é a percepção que o mundo transmite do continente africano. Quando ligamos a televisão, a primeira imagem que nos aparece é a de uma criança com a cara cheia de moscas, mastigando qualquer coisa que a mãe conseguiu reunir. Precisamos demonstrar que não somos isso e, para tal, é necessário muito trabalho, empenho e concentrarmo-nos nas coisas que nos unem. Precisamos de trabalhar com paz e estabilidade para vencermos a pobreza.

JA – Os conflitos no continente surgem por influência externa?

TS – Mesmo que isso seja verdade, ou não, compete aos africanos, individual e colectivamente, saberem que isso não os leva a lado algum. Já morreram muitos africanos e compatriotas em conflitos. O continente deve, sobretudo, aproveitar aquilo que são as boas práticas e os bons exemplos da África Austral, para ter estabilidade. A nossa região saiu de uma situação de confrontação violenta e hoje é uma região de paz e estabilidade. Vamos pegar nesses bons exemplos e dizer que este é o caminho que temos de seguir.

JA – Porque defende que a região austral deve ser um exemplo para o continente?

TS – A região austral aprendeu com a sua própria história e tivemos momentos difíceis de confrontação. Tivemos a era do apartheid, da guerra de desestabilização em Angola e Moçambique. Não precisamos de ir para os bancos da universidade para nos falarem sobre o valor da paz. Sabemos qual é o valor da paz. Hoje, os cidadãos da região podem circular por estrada de um país para o outro. Aprendemos a promover a cultura de paz, de reconciliação e de respeito. Hoje, apertamos a mão a quem nos fez mal, porque sabemos perdoar e dizer que temos de promover a paz e reconciliação. É isso que o continente precisa de promover.

JA – A democracia em África é muito discutida, principalmente quando o assunto é o resultado eleitoral…

TS – Primeiro, precisamos de aferir se o modelo democrático que temos no continente é o que serve para África. Se chegarmos à conclusão que sim, é preciso ir educando os líderes de que a democracia funciona desta forma. Na democracia, uns estão no poder hoje e amanhã saem. O continente está num processo de aprendizagem e aperfeiçoamento da cultura do jogo democrático. Precisamos aprofundar, consolidar e desenvolver essa cultura, à medida que o tempo passa. Muitas vezes, aqueles que nos dão grandes ensinamentos de democracia também estão por detrás de incitamentos para atitudes pouco democráticas que ocorrem. Por isso, precisamos pensar o que é bom para os africanos e para África.

JA – O combate à pobreza é o maior desafio dos países da SADC?

TS – A região austral tem o combate à pobreza como o maior desafio. Temos quase metade da população a viver no limiar da pobreza e o nosso grande desafio é fazer com que estes cidadãos tenham melhores condições de vida. A agricultura é um sector fundamental para o combate à fome, uma vez que 80 por cento da população vive nas zonas rurais. Devemos criar infra-estruturas, como estradas, vias-férreas e hidroeléctricas para que os cidadãos tenham acesso aos mercados da região.

JA – Como o Campeonato do Mundo de Futebol pode mudar a imagem do continente e, em particular, da região austral?

TS – Já está a ser vista de maneira diferente. Realizámos mais um CAN e foi um sucesso. É verdade que tivemos um incidente com a selecção do Togo, mas não retirou a beleza a este grande evento africano. Estamos, a menos de duas semanas do Mundial, e creio que vai tudo correr bem. O evento vai colocar o nosso continente e a nossa região como um ponto para investimento. A zona é promissora para receber investimentos. A imagem muda, a própria dignidade e o afecto que os africanos têm com os seus hóspedes também mudam. A mensagem, que estamos a transmitir ao mundo, é que somos um continente que tem valores.

JA – Que ilações tira do colóquio realizado em Luanda, em alusão ao Dia de África?

TS – Tenho de felicitar o Governo de Angola, em particular o Ministério da Relações Exteriores, por ter organizado o evento, onde estiveram membros do Governo, diplomatas, docentes e estudantes de várias universidades, individualidades das Nações Unidas, da União Africana e da SADC. Saímos satisfeitos . Aprendemos e trocámos impressões. O que mais me entusiasmou foi o interesse dos estudantes e docentes em matéria da nossa região, do continente e do mundo, demonstrando vontade para a investigação. Actividades do género devem continuar. Saio com a sensação de que os africanos começam a ter consciência de que têm de ser senhores e donos do seu destino e conceber estratégias que possam tirar África da situação em que se encontra. O nosso maior desafio é a luta contra a pobreza. Os africanos começam a assumir e a tomar as suas responsabilidades. Não vamos colher frutos agora, mas deve ficar claro que todos queremos que, dentro de 10 ou 30 anos, África seja diferente e o melhor sítio para se viver no mundo.




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