Como certamente sabem, a luta pela preservação deste notável corpo arquitectónico foi longa, em praça publica, em jornais, nos bastidores e corredores.... e perdemos! Perdemos todos... mesmo os que julgam que ganharam. Depois de uma dolorosa perda...já não faz mto sentido estar com especulações.... Envio-vos um texto a ser divulgado em nome da ordem dos arquitectos de Angola sobre a demolição do mercado do kinaxixe em Luanda.
M João Teles Grilo
MANIFESTO DA ORDEM DOS ARQUITECTOS DE ANGOLA
> O COLAPSO DE PATRIMÓNIO MUNDIAL DE ARQUITECTURA – O MERCADO 'KINAXIXE' >
Projecto de Arquitectura: 1950 – 1952
Abertura ao público: 1958
Arquitecto: Vasco Vieira da Costa
> Os edifícios nas cidades são marcos da identidade civilizacional dos povos que se assumem como referências para as gerações vindouras.
> Numa época em que são promovidos, cada vez mais edifícios que usam cada vez menos energia, ou seja, 'os amigos do ambiente', já Angola possuia exemplares de grande valor como o edifício do Ministério das Obras Públicas, o Laboratório de Engenharia de Angola, o Instituto de Ciências Religiosas de Angola – ICRA, o edifício de multi-apartamentos, a escola Anangola, Faculdade de Ciências Agrárias no Huambo, entre outros. Neste contexto, quando quisermos estudar um edifício em Angola do ponto de vista ambiental, teremos que recorrer aos livros, porque os exemplares físicos estão a ser demolidos.
> Numa época em que são promovidos, cada vez mais edifícios que usam cada vez menos energia, ou seja, 'os amigos do ambiente', já Angola possuia exemplares de grande valor como o edifício do Ministério das Obras Públicas, o Laboratório de Engenharia de Angola, o Instituto de Ciências Religiosas de Angola – ICRA, o edifício de multi-apartamentos, a escola Anangola, Faculdade de Ciências Agrárias no Huambo, entre outros. Neste contexto, quando quisermos estudar um edifício em Angola do ponto de vista ambiental, teremos que recorrer aos livros, porque os exemplares físicos estão a ser demolidos.
Em 1950, Luanda estava perdida no conflito exorcizado do paradoxo colonial. Vasco Vieira da Costa era um Arquitecto Angolano. (Alguém diria ... 'mas nasceu em Aveiro'... mas quantos angolanos nasceram e nascem em Londres, Paris, Johannesburg ou Rio de Janeiro?). Depois de estagiar com o mestre da arquitectura do Sec XX, Le Corbusier, aceita o desafio: instala-se, revoluciona a arquitectura estando 'dentro' (arquitecto do Governo da Província, antiga Câmara Municipal de Luanda) e subverte as regras do jogo que o poder colonial encobria. O resultado foi um marco notavelmente polémico, o MERCADO DO KINAXIXE, que se queria assumir como um grito de liberdade e oposição ao regime colonial português. Um corpo que desafiava o regime pela imposição de uma nova postura da arquitectura; que impunha modernidade não só no contexto urbano – um mercado no centro da cidade – como também no contexto arquitectónico onde a pureza das formas era a sua principal bandeira.
Conhecido mundialmente como uma peça de arquitectura moderna notável, foi considerada pela UNESCO a hipótese de ser classifcado património arquitectónico da Humanidade. Com lucidez e sabedoria o KINAXIXE seria o nosso 'EDIFÍCIO MANIFESTO': O Corpo simbólico da nossa independência, do nosso grito de liberdade presente na cidade e de contestação ao regime colonial. Imaginemos ser demolido um edifício projectado por Le Corbusier, ou Óscar Niemeyer, ou Frank Gery ou ainda outros de igual renome !!!!!
Quem quer salvar o kinaxixe?
Ana Vaz Milheiro, Jornal Público, p.33, 28-07-2008
O edifício é uma prova da qualidade da arquitectura portuguesa fora do território nacional
Há muito tempo que se fala da destruição do mercado municipal do Kinaxixe na cidade de Luanda. Mas nunca como agora - que o edifício se encontra entaipado - esses rumores se transformaram em ameaças reais. Os meios arquitectónicos da cidade e de Angola têm vindo a alertar contra o atentado patrimonial que representa a destruição deste importante edifício moderno desenhado pelo arquitecto Vasco Vieira da Costa (1911-1982) no início dos anos 50. Talvez seja o momento dos responsáveis pela cultura portuguesa também se manifestarem. A primeira pergunta que se deve fazer quando se pretende destruir um edifício - principalmente se existem vozes que reclamam a sua manutenção e reabilitação - é ponderar sobre o significado do que se vai destruir. E depois reflectir sobre o que se vai construir no seu lugar. No caso do Kinaxixe, há que ler o arquitecto angolano André Mingas, em texto, ainda de 2002, intitulado Em louvor de Luanda vamos salvar a cidade - Kinaxixe, exemplo maior da arquitectura tropical. Diz este arquitecto que "o Kinaxixe, para além do valor patrimonial enquanto obra arquitectónica, é um dos últimos grandes exercícios de arquitectura tropical produzidos no país e que traduz, de forma indelével, o pensamento que deve estar subjacente à cultura construtiva em países tropicais". Segundo explica, o edifício não só é um caso reconhecido de qualidade arquitectónica, como deve ser tomado enquanto exemplo para a prática contemporânea. Cabe agora encontrar novas funcionalidades que não destruam a sua integridade arquitectónica. Sob o ponto de vista histórico, é tido como prova da qualidade da arquitectura portuguesa fora do território nacional. O seu autor, Vasco Vieira da Costa, arquitecto angolano de origem portuguesa, é um dos raros exemplos de profissionais que contactam directamente com a moderna arquitectura internacional no momento certo. Após a conclusão do curso da Escola de Belas-Artes do Porto, em 1945, desloca-se para Paris, aí trabalhando no escritório de Le Corbusier até 1948. Em 1950 já está em Luanda. É nessa altura que começa o projecto do Kinaxixe, a primeira encomenda pública que receberá. Vasco Costa percebe a adequabilidade excepcional dos princípios da arquitectura moderna aos climas tropicais - é exactamente isso que prova com o Kinaxixe, razão por que este se torna num modelo tipológico para outras obras de programa semelhante. Talvez nesse sentido a sua obra se possa aproximar da experimentação brasileira sua contemporânea. Um dos aspectos principais é a organização em torno de dois pátios abertos e a introdução de brise-soleil que controlam a luminosidade e a ventilação interna sem recurso a meios mecanizados ou máquinas de ar condicionado. A arquitecta Maria João Teles Grilo, que tem estudado o seu percurso, declarou a certa altura tratar-se de "uma arquitectura-manifesto que desafiou o poder colonial, convidando-o a repensar a cidade, desenhado que estava o lugar da mudança". Inaugurado em 1958, constitui dentro da cultura portuguesa uma realização inovadora, não existindo na "metrópole", durante a mesma época, realização similar que tenha apreendido de forma tão precisa os ensinamentos corbusianos. Mesmo fora de Angola, e dentro do panorama da arquitectura africana de raiz moderna, o Kinaxixe é uma obra de referência. Aliás, os países africanos de língua oficial portuguesa possuem, na generalidade, uma boa arquitectura colonial do período moderno. Continua André Mingas: "Dir-me-ão que o Kinaxixe não funciona! Tudo bem, ou seja, tudo mal, porque tudo bem seria o reconhecimento da nossa incapacidade comparativamente aos nossos colonizadores, o que obviamente não será aceitável!". Deste modo, desloca para a sociedade angolana o dever de qualificar o Kinaxixe, mas não terão também os portugueses um contributo a fazer? Há muito que nas páginas do PÚBLICO se tem sugerido que a presença cultural portuguesa em países com história comum deve ser marcada através de edifícios de qualidade ímpar. Imagine-se casas da cultura portuguesa em espaços como a Escola Portuguesa, do arquitecto Raul Chorão Ramalho, em Macau; no Leão que Ri, de Pancho Guedes, em Maputo; no antigo Liceu do Lobito, de Francisco Castro Rodrigues; ou agora no mercado municipal do Kinaxixe, em Luanda? A conotação entre Portugal e edifícios históricos de valor patrimonial, construídos nesses países durante a presença colonial, daria consistência a uma política cultural séria e eficaz. Principalmente, reconheceria a importância estratégica que a cultura arquitectónica contemporânea nacional pode deter num quadro de desenvolvimento futuro. Também por isso, e porque é uma questão de desenvolvimento, procuram-se empresários, políticos ou mecenas que queiram salvar o Kinaxixe.
Ana Vaz Milheiro, Jornal Público, p.33, 28-07-2008
O edifício é uma prova da qualidade da arquitectura portuguesa fora do território nacional
Há muito tempo que se fala da destruição do mercado municipal do Kinaxixe na cidade de Luanda. Mas nunca como agora - que o edifício se encontra entaipado - esses rumores se transformaram em ameaças reais. Os meios arquitectónicos da cidade e de Angola têm vindo a alertar contra o atentado patrimonial que representa a destruição deste importante edifício moderno desenhado pelo arquitecto Vasco Vieira da Costa (1911-1982) no início dos anos 50. Talvez seja o momento dos responsáveis pela cultura portuguesa também se manifestarem. A primeira pergunta que se deve fazer quando se pretende destruir um edifício - principalmente se existem vozes que reclamam a sua manutenção e reabilitação - é ponderar sobre o significado do que se vai destruir. E depois reflectir sobre o que se vai construir no seu lugar. No caso do Kinaxixe, há que ler o arquitecto angolano André Mingas, em texto, ainda de 2002, intitulado Em louvor de Luanda vamos salvar a cidade - Kinaxixe, exemplo maior da arquitectura tropical. Diz este arquitecto que "o Kinaxixe, para além do valor patrimonial enquanto obra arquitectónica, é um dos últimos grandes exercícios de arquitectura tropical produzidos no país e que traduz, de forma indelével, o pensamento que deve estar subjacente à cultura construtiva em países tropicais". Segundo explica, o edifício não só é um caso reconhecido de qualidade arquitectónica, como deve ser tomado enquanto exemplo para a prática contemporânea. Cabe agora encontrar novas funcionalidades que não destruam a sua integridade arquitectónica. Sob o ponto de vista histórico, é tido como prova da qualidade da arquitectura portuguesa fora do território nacional. O seu autor, Vasco Vieira da Costa, arquitecto angolano de origem portuguesa, é um dos raros exemplos de profissionais que contactam directamente com a moderna arquitectura internacional no momento certo. Após a conclusão do curso da Escola de Belas-Artes do Porto, em 1945, desloca-se para Paris, aí trabalhando no escritório de Le Corbusier até 1948. Em 1950 já está em Luanda. É nessa altura que começa o projecto do Kinaxixe, a primeira encomenda pública que receberá. Vasco Costa percebe a adequabilidade excepcional dos princípios da arquitectura moderna aos climas tropicais - é exactamente isso que prova com o Kinaxixe, razão por que este se torna num modelo tipológico para outras obras de programa semelhante. Talvez nesse sentido a sua obra se possa aproximar da experimentação brasileira sua contemporânea. Um dos aspectos principais é a organização em torno de dois pátios abertos e a introdução de brise-soleil que controlam a luminosidade e a ventilação interna sem recurso a meios mecanizados ou máquinas de ar condicionado. A arquitecta Maria João Teles Grilo, que tem estudado o seu percurso, declarou a certa altura tratar-se de "uma arquitectura-manifesto que desafiou o poder colonial, convidando-o a repensar a cidade, desenhado que estava o lugar da mudança". Inaugurado em 1958, constitui dentro da cultura portuguesa uma realização inovadora, não existindo na "metrópole", durante a mesma época, realização similar que tenha apreendido de forma tão precisa os ensinamentos corbusianos. Mesmo fora de Angola, e dentro do panorama da arquitectura africana de raiz moderna, o Kinaxixe é uma obra de referência. Aliás, os países africanos de língua oficial portuguesa possuem, na generalidade, uma boa arquitectura colonial do período moderno. Continua André Mingas: "Dir-me-ão que o Kinaxixe não funciona! Tudo bem, ou seja, tudo mal, porque tudo bem seria o reconhecimento da nossa incapacidade comparativamente aos nossos colonizadores, o que obviamente não será aceitável!". Deste modo, desloca para a sociedade angolana o dever de qualificar o Kinaxixe, mas não terão também os portugueses um contributo a fazer? Há muito que nas páginas do PÚBLICO se tem sugerido que a presença cultural portuguesa em países com história comum deve ser marcada através de edifícios de qualidade ímpar. Imagine-se casas da cultura portuguesa em espaços como a Escola Portuguesa, do arquitecto Raul Chorão Ramalho, em Macau; no Leão que Ri, de Pancho Guedes, em Maputo; no antigo Liceu do Lobito, de Francisco Castro Rodrigues; ou agora no mercado municipal do Kinaxixe, em Luanda? A conotação entre Portugal e edifícios históricos de valor patrimonial, construídos nesses países durante a presença colonial, daria consistência a uma política cultural séria e eficaz. Principalmente, reconheceria a importância estratégica que a cultura arquitectónica contemporânea nacional pode deter num quadro de desenvolvimento futuro. Também por isso, e porque é uma questão de desenvolvimento, procuram-se empresários, políticos ou mecenas que queiram salvar o Kinaxixe.
Arquitectos chocados com a destruição do mercado do Kinaxixi, em Luanda
Alexandra Prado Coelho, Jornal Público, p. 16, 06-08-2008
A obra, do arquitecto angolano de origem portuguesa Vasco Vieira da Costa, era um exemplo maior do modernismo construído em África.
As fotos, vindas de Luanda, que chegaram ontem aos e-mails de vários arquitectos em Portugal mostram já semidestruído o mercado municipal do Kinaxixi, desenhado no início dos anos 50 pelo arquitecto angolano de origem portuguesa Vasco Vieira da Costa. Ontem, ao telefone com o PÚBLICO a partir da capital angolana, a arquitecta Ângela Mingas confirmava o desaparecimento de uma obra considerada exemplar da arquitectura modernista em África: "Está quase completamente demolido." Os esforços de Mingas e outros arquitectos angolanos que nos últimos anos tentaram travar o processo não foram suficientes para salvar o Kinaxixi. "Primeiro foi evacuado, depois deixado a apodrecer, até que a própria comunidade chegou ao ponto de pensar que era melhor ser demolido", conta Ângela Mingas. "É mais ou menos o mesmo que abandonar o Mosteiro dos Jerónimos à sua sorte." No lugar daquele que foi até 2003 o grande mercado de frescos de Luanda deverá nascer um centro comercial do grupo Macon (ligado aos transportes públicos). Mas, segundo a arquitecta, o novo projecto não foi apresentado publicamente e nem sequer foi afixado no local da obra. "Acto bárbaro" "Só podemos chorar lágrimas de todo o tamanho perante este acto bárbaro", diz o arquitecto português Manuel Correia Fernandes, que conhecia bem o edifício do mercado. "Era uma arquitectura de enormíssima qualidade, um belíssimo exemplar do modernismo, corbusiano [influenciado pelo arquitecto Le Corbusier], mas com uma grande autonomia." O que tornava o Kinaxixi único, do ponto de vista arquitectónico, era o facto de ser "uma interpretação africana do modernismo europeu, feita com muita inteligência". Além disso, sublinha Correia Fernandes, foi, na década de 50, uma "obra anunciadora da modernidade" na cidade de Luanda. Vasco Vieira da Costa terminou o curso na Escola de Belas-Artes do Porto, viajou para Paris, onde trabalhou durante algum tempo com Le Corbusier, e em 1950 chegou a Luanda, sendo o mercado a primeira obra que fez na cidade. A destruição do Kinaxixi é, na opinião do crítico de arquitectura Jorge Figueira, "um escândalo absoluto", porque se trata de "um edifício absolutamente excepcional do ponto de vista da escala, da dimensão, da magnitude". E é, acrescenta, "o mais significativo da arquitectura moderna portuguesa construída em África". Estranha, por isso, que a notícia do seu desaparecimento tenha tido sido recebida com indiferença nos meios intelectuais portugueses. Mas acredita que daqui a umas décadas vai-se perceber que isto foi "uma tragédia para a arquitectura portuguesa". A agonia do Kinaxixi começou há pouco mais de quatro anos, quando foi anunciado que os comerciantes seriam retirados e transferidos para outros mercados. "Na altura falou-se em reabilitação do edifício, e as pessoas ficaram à espera que isso acontecesse", explica Ângela Mingas. Mas em 2005 foi anunciada a alienação do mercado a uma empresa privada. Surgiu então um primeiro projecto - desenvolvido por uma empresa que tinha parceiros portugueses - e que previa que o edifício não fosse totalmente destruído. "Era menos invasivo", diz Mingas, "mas também mau". No entanto, esse projecto foi substituído pelo actual - que ninguém conhece exactamente mas que, como já se provou, implica o total desaparecimento do Kinaxixi. Hoje, em Luanda, o bastonário da Ordem dos Arquitectos, António Gameiro, vai pronunciar-se publicamente sobre a destruição do edifício. Mas já nada pode salvar o Kinaxixi.
Alexandra Prado Coelho, Jornal Público, p. 16, 06-08-2008
A obra, do arquitecto angolano de origem portuguesa Vasco Vieira da Costa, era um exemplo maior do modernismo construído em África.
As fotos, vindas de Luanda, que chegaram ontem aos e-mails de vários arquitectos em Portugal mostram já semidestruído o mercado municipal do Kinaxixi, desenhado no início dos anos 50 pelo arquitecto angolano de origem portuguesa Vasco Vieira da Costa. Ontem, ao telefone com o PÚBLICO a partir da capital angolana, a arquitecta Ângela Mingas confirmava o desaparecimento de uma obra considerada exemplar da arquitectura modernista em África: "Está quase completamente demolido." Os esforços de Mingas e outros arquitectos angolanos que nos últimos anos tentaram travar o processo não foram suficientes para salvar o Kinaxixi. "Primeiro foi evacuado, depois deixado a apodrecer, até que a própria comunidade chegou ao ponto de pensar que era melhor ser demolido", conta Ângela Mingas. "É mais ou menos o mesmo que abandonar o Mosteiro dos Jerónimos à sua sorte." No lugar daquele que foi até 2003 o grande mercado de frescos de Luanda deverá nascer um centro comercial do grupo Macon (ligado aos transportes públicos). Mas, segundo a arquitecta, o novo projecto não foi apresentado publicamente e nem sequer foi afixado no local da obra. "Acto bárbaro" "Só podemos chorar lágrimas de todo o tamanho perante este acto bárbaro", diz o arquitecto português Manuel Correia Fernandes, que conhecia bem o edifício do mercado. "Era uma arquitectura de enormíssima qualidade, um belíssimo exemplar do modernismo, corbusiano [influenciado pelo arquitecto Le Corbusier], mas com uma grande autonomia." O que tornava o Kinaxixi único, do ponto de vista arquitectónico, era o facto de ser "uma interpretação africana do modernismo europeu, feita com muita inteligência". Além disso, sublinha Correia Fernandes, foi, na década de 50, uma "obra anunciadora da modernidade" na cidade de Luanda. Vasco Vieira da Costa terminou o curso na Escola de Belas-Artes do Porto, viajou para Paris, onde trabalhou durante algum tempo com Le Corbusier, e em 1950 chegou a Luanda, sendo o mercado a primeira obra que fez na cidade. A destruição do Kinaxixi é, na opinião do crítico de arquitectura Jorge Figueira, "um escândalo absoluto", porque se trata de "um edifício absolutamente excepcional do ponto de vista da escala, da dimensão, da magnitude". E é, acrescenta, "o mais significativo da arquitectura moderna portuguesa construída em África". Estranha, por isso, que a notícia do seu desaparecimento tenha tido sido recebida com indiferença nos meios intelectuais portugueses. Mas acredita que daqui a umas décadas vai-se perceber que isto foi "uma tragédia para a arquitectura portuguesa". A agonia do Kinaxixi começou há pouco mais de quatro anos, quando foi anunciado que os comerciantes seriam retirados e transferidos para outros mercados. "Na altura falou-se em reabilitação do edifício, e as pessoas ficaram à espera que isso acontecesse", explica Ângela Mingas. Mas em 2005 foi anunciada a alienação do mercado a uma empresa privada. Surgiu então um primeiro projecto - desenvolvido por uma empresa que tinha parceiros portugueses - e que previa que o edifício não fosse totalmente destruído. "Era menos invasivo", diz Mingas, "mas também mau". No entanto, esse projecto foi substituído pelo actual - que ninguém conhece exactamente mas que, como já se provou, implica o total desaparecimento do Kinaxixi. Hoje, em Luanda, o bastonário da Ordem dos Arquitectos, António Gameiro, vai pronunciar-se publicamente sobre a destruição do edifício. Mas já nada pode salvar o Kinaxixi.
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