quarta-feira, 18 de abril de 2012

Achegas para a História de Angola (6)

Digo frontalmente, era o regime em vigor na altura, era o período da guerra-fria, o nosso pensamento, a nossa ideologia, a nossa acção estavam situadas, evoluimos, o mundo evoluiu, o que hoje é amanhã não será e vice-versa. Havia «modelos» nessa altura. Alguém conseguirá imaginar sequer o esforço titânico que o MPLA fez para sobreviver e para vencer aquelas forças fantoches, repito, fantoches, da FNLA-UNITA, etc? Eu assisti a autênticos actos de heroísmo. O meu camarada Dino Marques, o Maninho, o Fernando Muteka, no Huambo, sabiam que estavam sitiados pela UNITA mas não fugiram, foram torturados até à mote. Samakuva fala disso? Chivuku fala disso? E no entanto eles sabem! O cda José Eduardo dos Santos não era um homem com ambições de poder, sublinho isto para não haver equívocos. Foi eleito pelo BP do MPLA. Vocês queriam eleições num país estoirado pela guerra? Sabem quantas pessoas encontrei em Atrapa, perto do Huambo, em 1981, fugidos da UNITA? Só ali? Dez mil! Sabem com que as mães amamentavam os bebés? Capim esmagado com água. Elas não tinham leite nos seios, estavam ressequidos pela fome. Capim! Já provaram? Eu chorei de dor. Sabem como estava o povo no Chinguar? Nu, repito para que leiam bem, nu! A estrada estava minada pela UNITA, eu cheguei lá num toyota blindado por baixo. Um povo inteiro nu! Queriam que um povo nu votasse? E aquelas raparigas tão lindas, tão lindas, sem uma perna, pisaram uma mina da UNITA, recebendo próteses na Bomba Alta, sabem onde é? Reaprendendo a andar, amarguradas, tão lindas! Isto não é kizomba, não é kuduro, não é kambuá, é violência, é fome, é morte. Voltando ao cda José Eduardo dos Santos. Ninguém o poderá acusar de querer o poder em 79. NINGUÉM! Pois ele é uma pessoa muito tímida e humilde. Naquele dia ele fechou-se em casa - se for mentira eu aceito o desmentido,s em contestar - ele estava surpreendido, ele era jovem, aquilo tinha-lhe caído no colo, eu compreendo, não era pêra-doce. Se a memória não me falha, quem o foi buscar foi o cda Lúcio Lara, que lhe transmitiu coragem. O cda José Eduardo dos Santos era um jovem. Mas não há dúvida: foi a escolha mais acertada, mais sensata, homenageio quem o elegeu. Alguns de vocês podem questionar-me: «Tímido? Humilde? como é isso?». Eu conto, uma vez os Pais dele foram ao palácio falar com ele, tinham um assunto pessoal a tratar. Então o cda José Eduardo dos Santos ficou hesitante, e confidenciou: «Não sei se devo receber os meus pais aqui...»


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