sábado, 14 de abril de 2012

Achegas para a História de Angola (2)

Rui Ramos
 Nós, em Janeiro de 75, não tínhamos ilusões, nem Agostinho Neto tinha ilusões.O Zaire queria dominar territorial e politica e economicamente Angola, era a «espada» da estratégia da CIA, através de Holden Roberto, asfixiando o MPLA no centro de Angola, com a Áfirca do Sul a pressionar a sul. Em Agosto-Setembro de 1974 eu percorri grande parte do centro-sul-leste e a Primeira Região. Ajudei a organizar um comício do MPLA num Kimbo do Huambo nessa altura, não havia muita gente naquele pequeno campo de futebol dos arredores da cidade, mas houve pessoas gritando «independência imediata e completa» - isso eu posso testemunha. E ouvi muitas pessoas dos kimbos, Savimbi não era conhecido. Estive no meio da greve dos trabalhadores da Cãmara, havia vivas ao MPLA, mas nunca ouvi uma referência á Unita. Em meados de 74 a Unita era desconhecida no Huambo. Depois dali segui para Benguela-Lobito para apoiar a greve dos trabalhadores do porto do Lobito e então aí ouvi claramente o nome de Neto. A Unita não existia. NO Lubango, logo a seguir, fui ao primeiro comício da Unita, nessa altura, num pavilhão desportivo, a Unita era uma curiosidade, no pavilhão só havia colonos, ninguém me desminta porque a imagem ainda está nos meus olhos. Era uma noite fria. Percorri muitas Missões onde havia racismo, repito, racismo, havia enfermarias para brancos e enfermarias para negros. Longonjo, Lepi, Vouga, outras que tenho o nome em baixo da língua. Aí deixei muita propaganda do MPLA sobretudo aos enfermeiros angolanos. Cheguei ao Cunene e aí estive com os refugiados da SWAPO, viviam em barracões. Ficaram com medo de mim, pensaram que eu fosse um espião. Mostrei o meu cartão, os líderes foram conferenciar e depois vieram, aceitaram-me, dialogámos horas e saiu uma entrevista (a primeira da SWAPO) na revista Angola (tenho-a aqui comigo). Dali segui para sul e no hospital encontrei-me com o Vahekeni, enfermeiro, se ele for vivo e se tiver sido morto por Savimbi, pode testemunhar o nosso encontro e o que lá lhe deixei. Ele queixou-se a mim de que estava isolado, nenhum dos movimentos tinha ido ter com ele, ele não era na Unita, repito, ele não era da Unita, e aceitou todo o material de propaganda do MPLA que lhe dei e ficámos em contacto.
O meu encontro com a SWAPO foi emocionante, tiraram fotos, ficaram contentes, estava ali um angolano que conhecia a história deles e a apoiava. Era Agosto de 1974. Dali segui para Leste ao encontro do nossos Camaradas, no Luena, havia muito activismo pelos militantes locai. Depois apanhei o comboio, comprei bilhete de 3ª classe bancos de pau e fui no meio do povo, das mamãs, até ao Huambo, penso que foi das útlimas viagens do comboio. Na zona do Munhango, ou mais para lá, havia jovens a entrar no comboio, iam para a base da Unita, tinham meias compridas até aos joelhos era a imagem de marca deles. Do Huambo regressei a Luanda e dei conta de tudo ao Camarada Agostinho Neto. Depois segui para a Primeira Região. Disso falarei a seguir, porque as minhas relações com Nito Alves eram muito complicadas, muito mesmo.

Pensar e Falar Angola

Sem comentários: