domingo, 15 de abril de 2012

Achegas para a História de Angola (3)

Rui Ramos 
Vou fazer um salto para continuar a responder aos apoios externos. Em meados de 1975 o camarada Agostinho Neto convidou-me a integrar a delegação do MPLA à Cimeira de Nakuru no Kénia, com a FNLA e a UNITA. Nessa Cimeira, é um parêntesis, Daniel Chipenda integrava a delegação da FNLA. Acabada a Cimeira a delegação dividiu-se, uma parte foi para Luanda, onde os combates tinham recomeçado mais uma vez por iniciativa da FNLA. Eu segui com o camarada Neto, Lúcio Lara, Iko Carreira, entre outros, para Maputo, para assistirmos à independência de Moçambique, a convite da FRELIMO. Eu estava junto de Agostinho Neto quando preparámos a primeira entrevista da televisão cubana, falei com os jornalistas cubanos, aquilo era novidade para eles, ainda não sabiam bem o que se passava em Angola e nós explicámos. Agostinho Neto aproveitou para receber em Maputo, na casa que habitava aqueles dias a convite da FRELIMO, uma série de diplomatas ocidentais. Eu vi mas não assisti, não tinha essa permissão, é evidente. Mas no fim das audiências, Agostinho Neto confidenciou-me, amargurado: «Não consigo a simpatia nem o apoio de nenhuma chancelaria ocidental». E mo dia seguinte ele convidou-me a almoçar com ele no quarto (era uma prática do camarada Agostinho Neto) e disse-me o mesmo, salientando que a situação militar estava difícil, que todos conspiravam contra o MPLA, os zairenses, os sul-africanos, os portugueses. Mas ele estava calmo, na adversidade ele tinha Confiança nos seus camaradas. Crieo que foi nesse dia que eu o informei de que a FNLA tinha desencadeado novos combates em Luanda e ele disse-me: «estamos a negociar mas não vale nada, lá somos atacados.».
NITO ALVES e URSS - Nito encostou-se à URSS, a URSS fingia que apoiava o cda Agostinho Neto mas apoiava sim Nito Alves, que apresentou em fevereiro de 1977 as Teses em Sua Defesa, foi um texto colectivo, escrito pelos ideológos do nitismo ligados ao Partido Comunista Português. Nito Alves foi á URSS asssitir ao Congreso do PCUS e trouxe de lá apoios, ajudado pelo namoro do PCP português, através do professor Rui Coelho e Sita Vales e Edgar vales e outros.
Em Maputo, Agostinho Neto recebeu, á minha frente, uma portuguesa sua conhecida do PCP, de apelido Veloso, que lhe confidenciou querer ir para Angola. E foi! E assessorou o cda Agostinho Neto, até o trair, até se ligar a Nito Alves.
Em Nakuru, durante a Cimeira, lembro-me, à noite a delegação reunia. Nito Alves e José Van Dunem ficavam silenciosos, nada diziam, e depois reuniam os dois em separado. Camaradas, isto foi em meados de 75. Nito já estava a preparar a cisão e o golpe.
Penso que já era Setembro de 75, Nito Alves tomou de assalto as Comissões de Bairro, acabou com elas e tudo teve de passar para os Comités do MPLA que ele começava a controlar. A mim, os homens de Nito Alves fizeram o seguinte: certo dia eu ia a entrar nas instalações da Comissão de Bairro que ajudara a fundar meses antes e um elemento de Nito bloqueou-me: «não pode entrar». Eu respondi: «Porque não» Eu ajudei a fundar esta Comissão». »O camarada Nito ordenou que não entre mais nas instalações. está proibido de entrar». Eu era jovem, reguila, e gritei para todos ouvirem: «Nito Alves é fascista!». Havia jovens muito activos nas Comissões. Nito mandou prender. Nomes? Solonhé, Matadi e creio que a Ana Major.

Vou deixar bem claro o seguinte: NÃO FOI NITO ALVES QUE FUNDOU OU AJUDOU A FUNDAR AS COMISSÕES POPULARES DE BAIRRO DE LUANDA NEM AS FRENTES DE KIMBO NO HUAMBO. Quem lançou esse processo, quem o organizou, quem lhe deu vida e ideologia de massas unitária foram os Comités do MPLA Amilcar Cabral. Os CAC eram muito activos, eu podia estar aqui dias seguidos a falar da nossa actividade nos bairros, nas fábricas, no porto de Luanda, na 5ª Avenida do Cazenga, nos kimbos do Huambo. Vou falar daquilo em que participei activamente. Nós, nos CAC, queriamos que existissem dois planos: as Comissões Populares de Bairro eleitas pelas Assembleias Populares de Bairro, e os Comités de Acção do MPLA. E porquê? - 1-Porque nos bairros podia haver moradores que não fossem do MPLA; 2 -Esses moradores não podiam pertencer aos Comités do MPLA, mas podiam participar nas Comissões Populares de todos os moradores. Eu fundei a Comissão Popular do Bairro do Cruzeiro, juntamente com muitos outros moradores, e a nossa Comissão era activa, eu fui eleito pela assembleia para a representar no Órgão Coordenador das Comissões. Então, quando Nito Alves começou a ganhar força dentro do MPLA, COMEÇOU A REPRIMIR-NOS. Mas antes devo dizer-vos que fiquei muito contente até hoje por a mudança do nome do bairro ter sido aceite pelo Governo em 1976 e ficado até hoje. Eu propus a mudança do nome de Cruzeiro para Patrice Lumumba e foi aceite pela assembleia Popular e ficou até hoje, bem como o nome da rua Paiva Couceiro mudou para Rua Conego Manuel das Neves, que eu admiro. Estas palavras podem ser confirmadas por moiradores que ainda se recordem daqueles tempos...
Nós, CAC, fundámos o poder popular, com o apoio do camarada Agostinho Neto. A FNLA massacrou muitos bons filhos de Angola nos bairros, por intermédio dos assassinos da BJR (Juventude hitleriana da FNLA). Agostinho Neto declarava sempre: VIVA O PODER POPULAR! A FNLA chamava-nos «anarquistas» e assassinava os nossos militantes e outros levava para as delegações onde os torturava.

Pensar e Falar Angola

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