quarta-feira, 25 de abril de 2012

25 de Abril e Angola


Hoje é 25 de Abril. Em 1974 toda a gente ficou estupefacta. Tinha acontecido algo. Já tinha havido movimentações de militares de Lisboa para as Caldas da Rainha, já tinha havido avisos, mas os governos nunca estão precavidos, o regime português de Caetano estava dividido, os mais conservadores, os mais abertos digladiavam-se nas sedes do poder. Os oficiais milicianos estavam muito descontentes, eram os assalariados, os do quadro eram os privilegiados. Mesmo enfrentando dura guerra em várias frentes, havia militares de 1ª e militares de 2ª.
Não pensem que os presos políticos saíram logo em liberdade. Não. Na Cadeia de Peniche, por exemplo, a GNR cercou a fortaleza para impedir a saída dos presos, foi muito difícil, no 2º piso do pavilhão B os presos até se barricaram pois pensavam que ia haver um massacre.
No 1º piso do B estavam os presos do PCP, frustrados há 4 anos por Marcelo Caetano não os ter libertado.
No 2º piso do B estavam os presos «maoistas», considerados os mais duros. Entre eles, um grande grupo de maoistas que tinham vindo de Luanda, da Universidade de Luanda e começaram logo a «conspirar» em Lisboa, foram todos presos em 1971, penso, e encheram o res-do-chão do pavilhão B.
Então a libertação demorou muito, teve de ser bem negociada, muitas famílias aguardavam à porta da fortaleza-prisão.
A GNR, vendo a sua posição enfraquecida pelo êxito do golpe, retirou o cerco e então as saídas foram negociadas uma a uma.
Isto é, os presos não saíram todos ao mesmo tempo, foi um a um.
Esta operação demorou dezenas de horas, prolongou-se por uma noite inteira.
Dois dos presos saíram com residência fixa, imaginem, o Francisco Rodrigues e outro velhote do Santa Maria, neste momento estou a ver a cara dele mas o nome... foi-se... O advogado Macaista Malheiros ficou responsável por eles e levou-os para casa, nos Olivais.
Parece que havia homicídios a considerar, o Francisco tinha participado na execução de um pide infiltrado, o Mateus.
Mas uma vez em casa do advogado, aquilo da residência fixa foi uma «figura de estilo» e no dia seguinte lá começava o Francisco mais o Pulido Valente mais o Ruy d'Espiney mais aquele grupo dos «ex-angolanos», mais outros, a construir a UDP num primeiro andar de uma rua de Campo de Ourique...
No campo de trabalho de S. Nicolau também havia presos políticos (muitos do MPLA) e também foram saindo, mas a Pide manteve-se activa em Angola, muitos agentes foram «transferidos» para repartições da função pública...
No Tarrafal havia presos angolanos (muitos do MPLA), guineenses, cabo-verdianos e também demorou a saírem, as autoridades não queriam acreditar, ficaram com medo... Parece que o cda António Cardoso, preso há mais de 10 anos, sempre despistado, sempre poeta, foi o último a sair, estava distraído...



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