sexta-feira, 16 de maio de 2008

Escritores Angolanos - Decio Bettencourt Mateus



Naturalizado e residente em Luanda, nasci em Menongue provincia do Kuando-Kubango, sul de Angola.
Desde muito cedo me habituei a ouvir vozes silenciosas no meu interior.
Desde muito cedo compreendi que tinha de colocar estas vozes no papel!


Licenciado em Geofísica pela Faculdade de Ciências da Universidade Agostinho Neto, no ano de 1998.
Cumpriu o serviço militar obrigatório entre 1986 e 1992, tendo atingido o grau militar de capitão.
Foi professor Pré-Universitário e do ensino de base, tendo leccionado as disciplinas de Física e Matemática.
Actualmente trabalha na Industria Petrolífera.
Obra Publicadas: A Fúria do Mar (Poesia, 2004)
Aguarda publicação: Os Meus Pés Descalços (Poesia)



A ZUNGUEIRA

O miúdo nas costas, faminto
O sol queimando
O sol assando
O miúdo nas costas, faminto de alimento
As moscas acariciando-o
E o lixo distraindo-o!

A zungueira zunga, cansada
Na cabeça, o negócio e o sustento
E nos pés empoeirados
O cansaço dos quilómetros galgados
O cansaço da distância percorrida
A zungueira zunga, o miúdo nas costas faminto!

A zungueira zunga, cansada
E vai gritando e berrando a plenos pulmões:
Arreou, arreou, arreou nos limões...
A zungueira zunga, empoeirada
E arreia o negócio, arreia o preço e faz desconto
Arreia o preço do sustento

O miúdo nas costas faminto
A lombriga na barriga rói, a lombriga pede
O miúdo nas costas, faminto de alimento
Chora e berra
Não é birra
É a fome que aperta, é a fome da sede!

A zungueira zunga, apressada
E arreia o negócio, arreia o preço:
Arreou, arreou, arreou no chouriço...
A zungueira zunga empoeirada
E arreia o preço do negócio
Arreia o preço da mercadoria, coisas do ofício

Depois, a viatura da fiscalização
Os travões chiam, as marcas dos pneus no asfalto
E os homens arrogantes a perseguirem
E a baterem
E a zungueira a fugir, e o negócio e o sustento
Caídos, espalhados no chão!

Depois vem o fiscal, também faminto,“Você tem autorização?
Acompanha, isso é transgressão!”
A zungueira implora e mostra a fome:
Tem dois dias o miúdo não come
A lombriga na barriga precisa alimento!

O fiscal, também faminto
Arreia o lucro da zungueira cansada
E desesperada
Arreia o lucro, senão a zungueira vai presa
Senão a zungueira não volta a casa
E a zungueira cede, com medo no pensamento

Depois a zungueira chega a casa
De bolsos vazios, mas alívio no coração
E grata, afinal não foi presa
Afinal não foi à prisão
A zungueira chega a casa, o miúdo faminto
O miúdo sedento de alimento

Mas amanhã, a zungueira voltará a berrar
Amanhã a zungueira voltará a arrear:



Arreou, arreou, arreou em qualquer coisa…







Mulheres da minha terra

São todas belas
Elas
As mulheres
Que meus quereres
Se confundem
E perdem
Vejo Rosa
Formosa
E me encanta
Que canta
Meu coração
De emoção
Vejo Margarida
Querida
Alta
E esbelta
E é ela
A minha estrela
Vejo Teresa
Beleza
Baixinha
E cheinha
E por ela suspiro
E passo noites em claro
Vejo
Bela
Gazela
Ternura
E candura
E logo meu coração
É todo paixão
Vejo Maria
Feia
Mas bela
Ela
No interior
E é meu grande amor
São todas belas
Elas
E muitas,
Pretas, albinas, brancas, mulatas...
Mas todas bonitas
Todas catitas
E belas!




Pensar e Falar Angola

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Dr. Agostinho Neto