domingo, 16 de janeiro de 2011

151 - Ágora - O Novembro do nosso contentamento


Trinta e cinco anos da vida, de uma Angola que muitos sonhámos diferente, o que confirma que o sonho só se cumpre sempre em percentagens limitadas.


Vou tentar pegar nalgumas referências do que foi este percurso, passando por muita coisa que hoje está enterrada na nossa memória colectiva, ou do que em tempos foram situações sérias, que algumas circunstâncias transformaram em cenas caricatas, e rapidamente alienadas pelo anedotário popular.

“O Povo é o MPLA, o MPLA é o Povo”, “A Luta Continua”, “ A Vitória é Certa”, “Abaixo o Imperialismo”, “Abaixo o Tribalismo”, Abaixo o Regionalismo”, Abaixo o Neocolonialismo”, “Honra ao povo Angolano”,”Glória Eterna aos nossos Heróis”,” Nós faremos de Angola a Pátria dos Trabalhadores e a Revolução continuará a sua marcha triunfal ao lado dos povos que seguem o mesmo caminho”, “Café de Angola, um gosto de liberdade”, “Os diamantes de Angola são os mais brilhantes / estão ao serviço do povo na reconstrução nacional”, “Sonangol/ Nosso petróleo onde é preciso”, “Vamos Purificar o Partido para melhor recebermos os novos membros”…

“A OPA prepara-se para a defesa intransigente da pátria angolana contra os ataques do imperialismo internacional e seus sequazes”, “Tudo pelo Povo”,” ODP- Organização de Defesa Popular”,“Que importa que o inimigo acorde cedo, se as FAPLA não dormem” “FAPLA, o braço armado do povo angolano”, “Angola é e será por vontade própria trincheira firme da revolução em África”, “O que é determinante para a unidade é a ideologia e não a geografia”, “Na edificação de uma sociedade socialista a agricultura é a base, a indústria o factor decisivo”, “Viva o Poder Popular”, “Somos independentes, seremos socialistas”,” Antes Morrermos Todos que Deixar Passar o Inimigo”, “Estudar é um Dever Revolucionário”, “Fieis ao Marxismo-Leninismo, estamos a construir uma Angola socialista”, “ O Socialismo científico é o grande objectivo estratégico da revolução angolana” “A Educação e cultura ao serviço do povo”, “Saude para todos no ano 2000”…

“Por um Partido sólido, unido, disciplinado, avante com o movimento de rectificação”, “Avante com o poder popular”, “O mais importante é resolver os problemas do Povo”,” Mais quadros, melhor produção, melhor solução dos problemas do povo”,”De Cabinda ao Cunene, um só povo uma só nação”, “Abaixo os Fantoches Lacaios do Imperialismo”, “Viva o Internacionalismo Proletário”,”Ao inimigo nem um palmo da nossa terra”…

A sociedade angolana foi alterando algum do seu paradigma político, ideológico e económico, um epifenómeno do arremedo de socialismo que se tentou implantar, e daí que os slogans se começassem a alterar foi um saltinho. 

Hoje estas palavras de ordem, que inundavam o nosso quotidiano nos anos de debute da independência do País, foram paulatinamente sendo substituídas por hábitos novos, léxicos adequado às novas realidades, de uma coisa que se chama a “economia de mercado”, que ainda está numa fase de avaliação, quiçá de desconfiança, quanto a uma opção válida para o desenvolvimento seguro do País.

Hoje já ninguém se lembra de sábados vermelhos, de nos organizarmos para ir receber um dignitário ilustre, nas celebérrimas visitas de cooperação, amizade, partido e Estado, e outras minudências que ao longo dos anos nos habituámos a participar, a observar e muitas vezes a criticar, algo que o angolano prodigaliza.

Por falar em muitos dignitários ilustres, refira-se que saudámos a visita de alguns que o tempo, as circunstâncias políticas e a evolução dos tempos deu para revelar que eram autênticos sátrapas nas suas terras.

Tem valido a pena passar por estes trinta e cinco anos, que foram florindo depois da noite mais bonita de todas as noites que conheci, a de 11 de Novembro de 1975.

Neste tempo presente, que fez de muitos de nós, simultaneamente voyeurs e protagonistas da história deste País cada vez menos recente, só me permito dizer que é o Novembro do nosso contentamento.

Fernando Pereira

1/11/2010


Pensar e Falar Angola

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