Alguns de vocês já devem ter ouvido a expressão “ A maldição do petróleo “ que ‘e usada em relação a alguns países, ricos em petróleo , exportadores, o que se constitui numa benesse, mas que, exatamente, pela facilidade de disponibilização de moeda estrangeira, acabam tendo um cambio artificial, inviabilizando quaisquer tentativa de produção local, principalmente a industria de transformação, posto que não possuem a menor competitividade em relação aos produtos importados.
Neste contexto, a atividade econômica centraliza-se majoritariamente na exploração de petróleo e na logística associada, o que, por sua vez gera uma elevada concentração, com grandes corporações, controlados por estrangeiros e uns quantos nacionais.
O exemplo típico desta situação ‘e a Venezuela que durante dezenas de anos foi ( e ainda ‘e ) um grande exportador de petróleo e jamais conseguiu que a sua população em geral se beneficiasse disso ( não ‘e de se atribuir a culpa apenas ao Chaves, pois durante as dezenas de anos anteriores, em que havia uma pseudo-democracia, a situação não era diferente. Com o Chaves as coisas apenas pioraram ). Diria que o surgimento do radical Chaves seja uma conseqüência do descaso dos governantes anteriores em promover uma melhor distribuição dos benefícios do petróleo.
Poderíamos levar este tema para discussões sobre elites, corrupção, e outras chagas que acontecem e que sabemos, alias, não serem exclusividade de países subdesenvolvidos. A corrupção nos países ricos ‘e tanta ou maior que nos demais, só que mais discreta.
Quero analisar mais na perceptiva do modelo econômico com base naquilo que ‘e condicionado pela política monetária. Ou seja, de uma certa forma, usando-se este modelo econômico-financeiro, a situação seria praticamente a mesma, com ou sem corrupção. A não ser claro, que se considere que tal modelo possa ser conseqüência daq corrupção, algo que ‘e muito difícil caracterizar.
Inequivocamente, há uma distorção enorme na cotação da moeda angolana em relação ao dólar e euro e, em conseqüência a todas as demais. O Kuanza esta supervalorizado, fazendo com que os preços locais, medidos em dólar sejam exorbitantes, `a exceção claro, de alguns itens, em que incluo os combustíveis ( com preços que são um quinto do de Portugal ) e dos salários do pessoal não especializado que são extremamente baixos.
Ao contrario do Brasil e China, por exemplo, onde a cotação do dólar ‘e extremamente alta e as moedas locais de cotação baixa, visando facilitar as exportações, aqui em Angola, os produtos importados são baratos, pelo que há muita dificuldade em se produzir aqui a maior parte de produtos de consumo, e muito menos de bens de capital. Obviamente, não há como falar em exportações salvo, claro, de petróleo e diamantes ( acho que as madeiras nobres de Cabinda / Maiombe acabaram ou estão quase ).
Poder-se-ia ate esperar que na linha dos modelos das chamadas cadeias produtivas, em seqüências `a producão de petróleo, houvesse a industria transformadora que use tal matéria prima. Não me refiro apenas a refinarias. Seria de se esperar que um pais que produz mais de 2 milhões de barris de petróleo processasse boa parte dele e fosse exportador não apenas de óleo bruto, mas também de derivados. Segundo informações estão construindo agora uma refinaria em Benguela, o que desde logo me deixa uma duvida quanto `a escolha do local, já que não se trata de um centro produtivo ( o petróleo vem de Cabinda ), ao tempo em que o grande consumidor de combustíveis ‘e Luanda. Vão fazer o petróleo passear de navios tanque la para baixo e depois voltar. Deve haver alguma explicação que me escapa.
Como disse, não se trata apenas do refino. Refiro-me também `a petroquímica.
De uma certa forma, a baixa cotação artificial do dólar, ao tempo em que explica que aqui quase tudo seja importado, desde a comida ( frutas, grãos, carne ) ate a maior parte dos produtos industrializados, funciona como uma espécie de ancora em relação `a manutenção dos níveis de preços. Obviamente sem muito sucesso, posto que já são muito elevados, mas pelo menos não devem subir muito mais.
Como aqui ha uma circulação oficial do dólar ( pode-se abrir contas bancarias em dólar ) e a moeda ‘e usada também como meio de troca pelas pessoas comuns, no seu dia a dia, resulta que esta deva ser também o principal recurso de poupança das famílias.
Ao tempo em que esta política monetária, de certa forma, mantem a inflação com um certo nível de controle, indiretamente, traz uma conseqüência nefasta, posto que será muito difícil que as autoridades financeiras estabeleçam uma política cambial de interesse econômico, virada ao desenvolvimento estruturado, desvalorizando o kuanza ( como disse melhoraria a competividade local ), já que a conseqüência imediata seria o aumento dos preços em kuanzas, num processo de indexação de preços, semelhante `a maldita correção monetária que havia no Brasil ( atualmente só o governo a pratica na cobrança de impostos ). Obviamente, se os salários da população local, não forem ajustados, estes serão reduzidos em termos de dólar, gerando, ou mais desigualdade, ou uma pressão trabalhista forte.
Pedindo desde já desculpa por esta dissertação um tanto quanto chata, vou falar de amenidade, ainda no campo da lingüística.
Já coloquei exemplos angolanos e portugueses. Para não parecer injusto vou colocar alguns exemplos brasileiros. E vou exagerar. Vou colocar 3.
O IBOPE
Há alguns anos um individuo ( Carlos Montenegro ) estabeleceu no Brasil uma empresa de pesquisa de opinião que se chama Instituto Brasileiro de Opinião e Pesquisa – IBOPE.
Pois bem, Ibope no Brasil passou a ser sinônimo, não de pesquisa ( o que ate poderia ser considerado normal ), mas sim de algo que esta nos píncaros da preferência popular.
Eu explico. O IBOPE ‘e o principal instituto de pesquisa contratado pelas emissoras de TV ( talvez também do radio ) para avaliação dos índices de audiência. Eis, entretanto, que os meios de informação ao querer divulgar que determinado programa estaria tendo tantos por cento de índice, de acordo com o IBOPE, por simplificação, diziam que estava dando tantos por cento de IBOPE.
Daí a que a população passasse a usar o termo sempre que queriam se referir a alguém ou algo que se destaca, foi um passo. ‘e então comum, ouvir-se que fulano esta com ibope. Reparem no detalhe: Obviamente, o IBOPE, como pesquisador de opinião, registra estatisticamente opinioes ( positivas e negativas ). Entretanto, na pratica virou sinônimo apenas de preferência. De aceitação. Raramente o contrario.
OS FREIOS
No Brasil, quando alguém quer parar um carro pisando naquele pedal do meio, não esta usando travões, mas sim os freios.
Podem perguntar mas então os brasileiros não travam os carros?
Eu não disse isso. Os brasileiros realmente travam os carros, mas só quando usam o freio de mão
Resumindo. No Brasil usa-se o verbo travar ( jamais com os pés), mas não existem travões.
BOCA A BOCA
Acho que também em Portugal se usa a expressão pela qual determinada informação ‘e disseminada por “ boca a boca” . ‘E comum, ouvir-se: que determinado restaurante ficou conhecido através da publicidade “ boca a boca “.
Já me detive a pensar como será que isto ‘e feito. Boca a boca que eu conheço seria o ato de beijar. O correto, obviamente, seria a transmissão da informação “ boca a orelha” quando muito. Que ‘e a forma usada pelos franceses. Se não me falha a memória: Bouche oreille.
Tenham um excelente dia.
Fernando
Pensar e Falar Angola
1 comentário:
Caro F.Quelhas sobre os seus apontamentos aqui apresentados gostaria de fazer 2 correções:
1° O dolar no Brasil esta super desvalorizado o que tem causado grandes prejuizos as nossas exportações e infelizmente tem servido para que se importe muita quinquilharia principalmente da China que na minha opínião é um dos maiores países escravagistas do mundo.
Por exemplo no dia de hoje 26 de janeiro o dolar esta cotado a R$ 1,669 com queda de 12%.
o 2º ponto é o IBOPE.
Este instituto de pesquisa não foi fundado pelo senhor Montenegro este senhor trabalha na empresa e lhe deu uma nova dinamica.
No entanto este mesmo instituto tentou muitas das vezes moldar comportamentos no Brasil inclusive com relação a eleição de governantes como se a estatística fosse algo infalível.
Entretanto ela falhou muitas vezes e houve um certo descrédito dos institutos de pesquisas aqui.
Um grande abraço.
João Dioni
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