domingo, 9 de janeiro de 2011

150 - Ágora - Rennie Q.B.!





“ O Homem é um animal de hábitos”, Charles Dickens (1812-1870), escritor inglês que descreveu magistralmente o “milagre da revolução industrial”, num conjunto de obras, em que o enfoque foi a miserável condição e exploração no trabalho, das crianças na sociedade inglesa.



Peguei na citação do criador de “David Cooperfield”, “Oliver Twist” e “The Pickwick Papers”, por se ter comemorado recentemente, os cento e quarenta anos do seu falecimento, e porque também sou “ um animal de hábitos”, e um dos que cultivo é ir regularmente a umas livrarias ver o “que está a sair”. 



Por “hábito”, e na circunstancia confrontando-me com as bizarrices da distribuidora estatal EDIL, tive a fortuna de ter encontrado, na Livraria Che Guevara em Cabinda, um dos meus livros de eleição, “Os Cantos de Maldoror”, do Conde de Lautremont, , prefaciado por Jorge de Sena, e traduzido por Pedro Tamen .Recordo o entusiasmo por encontrar esta obra-prima do Incrível, escrito em plena euforia do Darwinismo, por volta de 1869. Algum esoterismo, numa obra, sintetizada nesta frase: “A minha poesia dedicar-se-á apenas a atacar, por todos os meios, o homem, esse animal selvagem, e o Criador, que não deveria ter engendrado semelhante parasita.». Uma boa recordação de Cabinda!



Deixando esta “obra demoníaca” de lado, fiquei manifestamente desagradado com aministra da Família e da Promoção da Mulher, Genoveva Lino, que numa recente intervenção disse: "Não há palavra melhor do que a do Senhor, cada cidadão deve ter, ler e absorver o grande livro sagrado, a bíblia, porque é o livro da vida. E se todos nós o seguirmos, teremos uma vida mais digna, tal como a própria bíblia diz, que feliz é a nação que o próprio Deus é o Senhor".



Fiquei perplexo, aliás tanto quando Yuri Cunha, quando foi ao Campo Pequeno, em Lisboa a “berrar por Deus”, numa mensagem subliminar de uma qualquer religião, junto de uma plateia que tinha pago, para ver o musico e os envergonhados convidados, e não para entrar numa qualquer histeria, tipo Jim Jones, numa Guiana de má memória (1978).



A Senhora Ministra, membro de um governo, que é chefiada por um magistrado que jurou cumprir a constituição, no caso a laicidade do Estado, bem clara no artigo 10ª, pode ter as suas convicções, o que não pode é assumi-las publicamente, enquanto em funções. Pode querer estar a bem com Deus e a Pátria, mas não esqueci os tempos do “Acordo Missionário”, de má memória no que toca à liberdade religiosa e à presença de outras convicções religiosas em Angola. 



Para aumentar o meu desconforto, quiçá azia, eis o programa desportivo alusivo ao trigésimo quinto aniversário da independência de Angola: Um jogo entre a equipa B da selecção de Angola, e a equipa B de um clube, que não está no ranking dos trinta da Europa, o Benfica de Lisboa.



Podem dizer que são os meus olhos azuis e brancos a escrever, de certa forma admito-o, mas há também algo que nada tem a ver com isso, é o direito à indignação.



Os trinta e cinco anos de independência mereciam um jogo entre selecções de dois países, num espectáculo que galvanizasse os cidadãos, tão distantes de uma FAF cheia de problemas financeiros, organizativos e até de definição de uma matriz desportiva coerente.



Este jogo, devolve-me de certa forma os tempos dos irmãos Vieira de Brito, da “Sociedade Mário Cunha” no Amboim, grandes entusiastas do Benfica campeão europeu (1961-63), e principais impulsionadores e mecenas da construção do Estádio da Luz em Lisboa. Traz-me à memória também os dislates do “massa bruta”, João Ferreira do Negage, que foi a Lisboa para comprar jogadores ao Benfica, para competir pelo Desportivo, depois de uma querela com uns colegas na direcção do Sporting. Na altura o Negage tinha duas equipas na 1ª divisão do campeonato provincial, com cinco ex- jogadores do Benfica numa delas, embora alguns deles só treinavam, porque o Benfica tinha nesses tempos uma equipa extraordinária, do Coluna, Eusébio, Santana, Águas, etc.



Esta comemoração desportiva é um verdadeiro embuste, e tenho muita pena de não ter os quadros humanos e a participação da juventude, mesmo que acabasse com um jogo com outros protagonistas, que nesta altura do ano não querem arriscar nada, a não ser o dinheirinho que os move.



Já que se fala de desporto, fez oitenta (80) anos que foi publicado o primeiro jornal (semanário) desportivo no então “espaço português”. Foi o "Angola Desportiva". Fundado em 8 de Agosto de 1930, pelo insigne desportista angolano Eduardo Castelo Branco (a quem toda


a gente tratava por "Chateau"). A publicação acabou no dealbar dos anos setenta, e teve a sua última redacção na sua casa, um r/c no Braga.

Fernando Pereira

2/11/2010



Pensar e Falar Angola

1 comentário:

Dioni disse...

Senhor Fernando Pereira.
A mais de dois anos acompanho este blog por afinidade com o povo de Angola pela língua e pelo passado colonial que nos une.
E tenho visto a luta deste povo em superar dificuldades para ter uma vida tranquila como nós aqui no Brasil também buscamos pois apesar de ter-mos alguns aspectos melhores que o povo de Angola não pense que a vida aqui é fácil.
Meu comentário diz respeito as suas colocações sobre a manifestação da ministra quanto a busca de Deus pelo povo para o desenvolvimento de Angola e a aquestão do estado laico que advém da Revolução Francesa como todos nós sabemos.
Pergunto-lhe no que ela feriu a constituição ao manifestar que só Deus pode tornar uma nação feliz?
Nós também somos um estado laico e nem por isso nossas autoridades deixam de manifestar suas preferiencias religiosa inclusive com respeito a divindades africanas como ocorre na passagem de ano em todas as praias ou como é comum ocorrer na lavagem da escadaria da Igreja do Bom Fim em Salvador-Bahia.
elas deixaram de ser servidoras do estado por isso?
O que é um país sem Deus?
Um país sem Deus é como o sol sem Calor meu caro. A onde está a URSS.
Outro ponto imortante é o que diz respeito a pessoas que pregam a palavra de Deus. o senhor menciona o se Jim Jones e o massacre da Guiana agora eu lhe pergunto quem perpetrou os massacras em Ruanda ou no Congo foi algum pastor histérico ou algum governante bem intecionado?
Será que se as pessoas destes paises tivessem ouvido a voz de pastores como Bile Gran, Silas Malafaia ou R.R.Soares teriam praticado tamanha barbárie?
Sabe senhor Fernando um dos vercículos que mais me chama a atenção é quando Cristo Diz que devemos nos amar uns aos outros assim como Ele nos amou. Pense bem nesta palavra.
Se tal fato realmente ocorre-se seria necessário tanto derramar de sangue como temos visto em todo o planeta em que vivemos seriam necessarias leis para dizer o que é meu e o que é do outro?
Creio que não.
Que Angola e o Brasil continuem a caminhar juntos e que Deus continue a ser o nosso primeiro e unico guia.
Feliz a nação cujo Deus é o Senhor".
De seu seguidor João Dioni.