Assiste-se na Europa, a um recrudescimento de fenómenos de xenofobia e racismo, que abrem caminho, a cenários políticos perigosos num futuro não muito distante.
A recente decisão do governo francês de expulsar os cidadãos de etnia cigana, aliado ao veto de Paris, de impedir a entrada da Roménia no espaço Shengen, é um claríssimo recuo de uma vivencia inter-étnica e multicultural deve ser a comunidade de países.
As tímidas manifestações condenatórias a esta atitude, trazem-me à lembrança Brecht :”Levaram os ciganos, mas como não sou cigano, não me importei”, e na realidade a Europa, ciosa dos valores assentes na sua herança judaico-cristã, vai tentando assim, esconder a sua incapacidade de lidar com minorias, com hábitos e costumes dificilmente enquadráveis na dinâmica económica e social do espaço de uma União Europeia algo asséptica.
Não me surpreende quando uma bosta, um tal Jean Marie Le Pen, que para além de ter seguidores e votantes, tem entre a sua corja mais intima, uma filha, uma tal Pierrete Le Pen, tão fascista e racista como o seu asqueroso pai. Para justificar a compra de uma mansão de família, no campo, como alternativa à sua morada de Paris, disse que precisava de «uma casa onde os filhos vissem vacas, em vez de árabes». Para ver vacas, a descendência de Le Pen não precisa de ir para o campo. Basta deixar-se estar em casa, em família!
Cinquenta anos depois da morte, de um dos seus prémios Nobel da literatura, Albert Camus (1913-1960), não deixa de causar alguma apreensão, estas aleivosias dos responsáveis eleitos do país, onde eclodiu a primeira revolução burguesa da história, onde se estabeleceu a comuna de Paris, que lutou contra o nazismo e que tem como símbolos a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade.
A Argélia e a França disputam o tributo literário de Albert Camus, e a realidade é que no “Estrangeiro”, “a Peste”, “o Mito de Sisifo”, A Queda”, seus romances referenciais, encontramos uma identificação clara com a Argélia, para onde por circunstâncias dramáticas da sua vida familiar teve que viver grande parte da sua infância e juventude.
Embora um “Pied Noir”, foi sempre um simpatizante da causa da FLN Argelina, o que lhe terá valido alguns ódios, por parte dos colonos franceses que abandonaram a Argélia no fim da década de 50. “La Bataille d'Algiers” (1966), primeira longa-metragem argelina, é um excelente documento sobre esses tempos de esperança e fulgor independentista.
Albert Camus é um dos escritores que mais me entusiasmaram, e os seus romances e ensaios sobre o existencialismo foram decisivos, na afirmação política em determinado período da minha juventude. Nos anos sessenta e setenta do século XX, Sartre, Camus e Senghor, dominaram grandes discussões, em oposição a Aragon, Althusser,Marcuse, Krivine, e outros grandes do pensamento e da filosofia política Europeia.
Quando hoje assistimos aos deprimentes exemplos do pequeno Sarkosy, interrogamo-nos onde anda determinada gente, que projectou esperança naquele distante Maio de 1968, e que transformou a França, no País de caros valores dos cidadãos de todas as latitudes.
Porque esta história da expulsão dos ciganos romenos, já começa a ter muitas adesões de outros governos europeus, é motivo de preocupação quanto baste.
Também estou preocupado, porque neste caso estou de acordo com o Ratzinger, que talvez finalmente tenha uma oportunidade, de expiar os silêncios e as cumplicidades espúrias de Pio XII com Mussolini e Hitler.
Vou sentar-me de novo a rever “La Megio Gioventú” ( A Melhor Juventude) de Marco Tullio Giordana, um filme nostálgico, premiado em Cannes em 2003, sobre uma Itália e uma Europa percorrida em quarenta anos. Adquiram-no, vejam-no, e vão ver que no fim ficam a dizer muito menos mal de mim!
Fernando Pereira
30/08/2010
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