Venho lhes dizer que escrevi, na companhia da Kianda kià Anazanga e de outros muitos cazumbis, um livro "Estórias de Angola" que, éué, foi mesmo escrito com a muxima na ponta da caneta. A Editora Prefácio é que lhe pôs na rua, mas não tem havido cumbú para lhe promover a decorrência das vendas.
Por isso lhes anuncio o livro: com prefácio de Manuel Rui e tudo, no sentido de capacitar a vossa boa disposição.
O meu coração se arrebentou e se espalhou de Cabinda ao Cunene nesse book pra vocês
O autor, Luís M. Gaivão, antigo Adido Cultural em Luanda, com muitos abreijões angolanos.
Prefácio:
...COM VERDADE NO MEIO
De que São estórias de Angola que eu vou contar. Todas com verdade no meio permite logo canjonjar, isto é, ensalivar e depois começar a saborear as estórias com devagarmente, sem pressas, para não se prejudicar na maneira de entender a linguagem de um grande e consagrado escriba de literatura de humor e que, agora, com base numa segunda vida ou, quem sabe se era a primeira e que não se revelou em escritos por razões mil, mas a tal segunda vida acontece como a reincarnação de um identidade contraposta a outra por xinguilamento? Ou justaposta acabando dual que se observa a si própria, por isso, numa galáxia para o efeito inventada com cacos de um espelho que se refaz e desfaz mania dele caleidoscópio a fingir ridente como rajada com munições de jindungo e granadas de funji de bombô na cara da muamba em tanta identidade plural com a candengagem a piscar o olho no sol? Observado agora e lido pelo Rei do Congo ou pelo Vasco da Gama, ambos se iriam chanfunar e acabar nos contentores porque nada disto havia sido pensado nem por nenhum profeta profissional ou amador. O percurso e despercurso do colonialismo com todos os traumas por demais conhecidos, finge o autor essa maneira de marinheiro desenjoado pelo fim da vaga e que, na maré já boa, vai desenrolando o fio enrolado que ninguém quer tocar com medo de ser ou fazer parte do fio, principalmente a linha emaranhada que muitas vezes é melhor cortar e devolver às águas. Mas aqui, é a palavra oralmente escrita porque o autor está dentro da narrativa, está a contar, é a palavra que desilude a cegueira falsa e dá à vista o desfazer do pesadelo que o Luis Gaivão conseguiu com muita naturalidade desbaralhar da insónia, desenrolando a linha sem preconceitos nem gangrenas de herdanças de culpa. Como se diz em Angola: matar o trauma.
E são Misosos porque se apresentam como a estória tradicional, de economia verbal, na aparênncia da fala e, aí, pela escrita, há uma intromissão do narrador, sempre de forma a que estória passe por algo verdadeiro e a parte que não “faz parte do meio”...o autor adverte que todas têm verdade no meio, vem a ser a maneira de contar ou inventar, dando mais interesse, quase provocador à leitura já que o colocar da verdade costuma fazer parte de qualquer bom contador de estórias.
Luis Gaivão, regressado à sua terra, com a camisola portuguesa e na veste de diplomata, de repente, deixou-se em catarse de não ser o outro ficou ele ali. E assim andou atrás de um azimute que apontasse para o nós. Aí e por aí começam os textos, incluso, no frenesim de fazer uma recuperação do tempo perdido através do português transformado, o português de Angola, a que ele chama os termos kimbundados.
Os textos, a que o autor dá a categoria de estorias ou misosos, são, em ultima análise, exteriorização literária da intimidade do autor narrando vivências dele ou por outros contadas mas tudo nessa esquina de ver, ouvir e contar que é, no fundo, a essência do ser e estar angolano urbano.
Cada estória quase que é uma temática social. E cada estória quase que é uma forma diferente de contar interferindo e na maneira de interferir e num intuíto em que o autor se redescobre angolano sem se enfeitar de nacionalismos fáceis que impeçam a denúncia do pícaro mas negativo ou o içar da bandeira sobre o enorme vulcão de afectos que transbordam do coração dos angolanos, com música muito alta, os abraços e os sorrisos nas horas mais difíceis. E, com muita coragem e simplicidade, narrativa que embeleza o texto, vem a crónica de usurpadores e sangessugas, a crónica da pilhagem, a crónica de vampiros e a que é mais recente, da vadiagem e lumpenagem das chamadas Ó Éne Gês.
Quer dizer que o Luís, vai para a Melói, regressa e representa-se, em texto, como entidade a quem lhe haviam isolado uma idiosincrassia municiadora de vivências em que ele quase se adivinhava para escrever sobre coisas muito simples de Angola em que a Tuga anda quase sempre a coçar a orelha ou os tugas que por aqui ficaram se articulam tão bem nos calulus como nos vinhos da Melói.
É uma escrita diferente, com o encanto de ser atípica, dando prova de que por mais que se façam distâncias entre os homens – às vezes, numa esquina de Lisboa inquinam-se duas culturas, dois continentes e um polícia cheio de sono - cada vez mais, as distâncias são as redescobertas para as as coisas dos homens serem de todos os homens, cada vez mais próximos, para saborear diferença e as culturas se mesclarem por amor.
Principalmente quando a palavra escrita deixa de ser dogma, fronteira ou propriedade de um dicionário para resplandecer em afecto no que mais importa: a vida, suas cores, tristezas e alegrias.
E é isso esta escrita de Luis Gaivão nas Estórias de Angola que são Misosos acontecidos entre 1996 a 2001 e que nos sugerem música em terra com o pensamento no mar de sabor a muzongué.
Luanda, 14 de Abril de 2006-
Manuel Rui
De que São estórias de Angola que eu vou contar. Todas com verdade no meio permite logo canjonjar, isto é, ensalivar e depois começar a saborear as estórias com devagarmente, sem pressas, para não se prejudicar na maneira de entender a linguagem de um grande e consagrado escriba de literatura de humor e que, agora, com base numa segunda vida ou, quem sabe se era a primeira e que não se revelou em escritos por razões mil, mas a tal segunda vida acontece como a reincarnação de um identidade contraposta a outra por xinguilamento? Ou justaposta acabando dual que se observa a si própria, por isso, numa galáxia para o efeito inventada com cacos de um espelho que se refaz e desfaz mania dele caleidoscópio a fingir ridente como rajada com munições de jindungo e granadas de funji de bombô na cara da muamba em tanta identidade plural com a candengagem a piscar o olho no sol? Observado agora e lido pelo Rei do Congo ou pelo Vasco da Gama, ambos se iriam chanfunar e acabar nos contentores porque nada disto havia sido pensado nem por nenhum profeta profissional ou amador. O percurso e despercurso do colonialismo com todos os traumas por demais conhecidos, finge o autor essa maneira de marinheiro desenjoado pelo fim da vaga e que, na maré já boa, vai desenrolando o fio enrolado que ninguém quer tocar com medo de ser ou fazer parte do fio, principalmente a linha emaranhada que muitas vezes é melhor cortar e devolver às águas. Mas aqui, é a palavra oralmente escrita porque o autor está dentro da narrativa, está a contar, é a palavra que desilude a cegueira falsa e dá à vista o desfazer do pesadelo que o Luis Gaivão conseguiu com muita naturalidade desbaralhar da insónia, desenrolando a linha sem preconceitos nem gangrenas de herdanças de culpa. Como se diz em Angola: matar o trauma.
E são Misosos porque se apresentam como a estória tradicional, de economia verbal, na aparênncia da fala e, aí, pela escrita, há uma intromissão do narrador, sempre de forma a que estória passe por algo verdadeiro e a parte que não “faz parte do meio”...o autor adverte que todas têm verdade no meio, vem a ser a maneira de contar ou inventar, dando mais interesse, quase provocador à leitura já que o colocar da verdade costuma fazer parte de qualquer bom contador de estórias.
Luis Gaivão, regressado à sua terra, com a camisola portuguesa e na veste de diplomata, de repente, deixou-se em catarse de não ser o outro ficou ele ali. E assim andou atrás de um azimute que apontasse para o nós. Aí e por aí começam os textos, incluso, no frenesim de fazer uma recuperação do tempo perdido através do português transformado, o português de Angola, a que ele chama os termos kimbundados.
Os textos, a que o autor dá a categoria de estorias ou misosos, são, em ultima análise, exteriorização literária da intimidade do autor narrando vivências dele ou por outros contadas mas tudo nessa esquina de ver, ouvir e contar que é, no fundo, a essência do ser e estar angolano urbano.
Cada estória quase que é uma temática social. E cada estória quase que é uma forma diferente de contar interferindo e na maneira de interferir e num intuíto em que o autor se redescobre angolano sem se enfeitar de nacionalismos fáceis que impeçam a denúncia do pícaro mas negativo ou o içar da bandeira sobre o enorme vulcão de afectos que transbordam do coração dos angolanos, com música muito alta, os abraços e os sorrisos nas horas mais difíceis. E, com muita coragem e simplicidade, narrativa que embeleza o texto, vem a crónica de usurpadores e sangessugas, a crónica da pilhagem, a crónica de vampiros e a que é mais recente, da vadiagem e lumpenagem das chamadas Ó Éne Gês.
Quer dizer que o Luís, vai para a Melói, regressa e representa-se, em texto, como entidade a quem lhe haviam isolado uma idiosincrassia municiadora de vivências em que ele quase se adivinhava para escrever sobre coisas muito simples de Angola em que a Tuga anda quase sempre a coçar a orelha ou os tugas que por aqui ficaram se articulam tão bem nos calulus como nos vinhos da Melói.
É uma escrita diferente, com o encanto de ser atípica, dando prova de que por mais que se façam distâncias entre os homens – às vezes, numa esquina de Lisboa inquinam-se duas culturas, dois continentes e um polícia cheio de sono - cada vez mais, as distâncias são as redescobertas para as as coisas dos homens serem de todos os homens, cada vez mais próximos, para saborear diferença e as culturas se mesclarem por amor.
Principalmente quando a palavra escrita deixa de ser dogma, fronteira ou propriedade de um dicionário para resplandecer em afecto no que mais importa: a vida, suas cores, tristezas e alegrias.
E é isso esta escrita de Luis Gaivão nas Estórias de Angola que são Misosos acontecidos entre 1996 a 2001 e que nos sugerem música em terra com o pensamento no mar de sabor a muzongué.
Luanda, 14 de Abril de 2006-
Manuel Rui
1 comentário:
ESSE BLOG É UM ENCANTO!
TEM DE TUDO. BEM QUE MINHA AMIGA ME FALOU.
VOLTAREI AQUI.
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