sexta-feira, 25 de julho de 2008

bom mesmo é não falar de política

Antes de começar a campanha eleitoral, utilizando os conhecimentos das recentes e profundas idas, bem como a leitura dos ‘periódicos’, blogs, páginas partidárias e outras tantas coisas, vou tentar descrever a ‘minha’ Angola, que não é necessariamente igual a tantas outras que vou ‘encontrando’ por aí.
Não vou querer dar uma opinião nem mostrar um saber que não posso ter. Quero mesmo só lhe visitar nas palavras que os meus olhos viram, a minha cabeça lhe fotografou e os meus dedos teclam.
Angola é um país em obras, grandes e pequenas, divididas por empresas brasileiras, portuguesas, angolanas, italianas e chinesas. Se me falhou algum país desde já as minhas desculpas, mas de facto não me recordo de ter visto.
Ao que fui sabendo, os chineses foram os últimos a chegar. São os primeiros neste momento e, segundo os mujimbos, rondam 3% da população, cerca de 650000 espalhados no país. Trabalham por turnos os sete dias da semana e as 24 horas do dia. Paulatinamente começam a integrar a sociedade e já dão os primeiros passos as crianças sino-angolanas.
A Rede Globo e a Tv Record entram a toda a hora nas casas angolanas através da DSTV. É inegável a influência brasileira. Na música, nos restaurantes, na roupa, na língua e já nos costumes. Já se houve falar nas Sacoleiras, mulheres que desembarcam diariamente no aeroporto 4 de Fevereiro com sacos a abarrotar de roupas que são vistas nas últimas novelas da Globo e que serão vendidas num porta a porta dos bairros IN. Quase todas as semanas está um cantor brasileiro para uma estadia de quatro dias, tempo para um show e gravação dum spot publicitário.
O que também une brasileiros e angolanos é o facto de ambos terem-se visto livres do colonizador comum.
O crescimento económico ronda os 17%, mais coisa menos coisa com tendência para a mais coisa, fazendo parte do roteiro da legião de empreendedores que chegam via TAAG, TAP, SAS e mais umas. A ideia é pegar numa actividade económica qualquer. Claro que sempre associado a angolanos.
Como há falta de mão de obra especializada, as empresas contratam mão de obra no estrangeiro, condicionando a sua ida ao padrão de vida similar à origem, o que faz com que, pelo menos Luanda, seja uma das cidades mais caras do mundo para viver, mais lentas de circular. Se se quer um almoço rápido com cerveja doméstica prepare-se para os 35 dólares, sem pontualidade e sem muitas hipóteses de escolha. O menu é invariavelmente português. Se é hábito chamar artérias às vias de comunicação, Luanda gangrenou pois as artérias estão permanentemente entupidas. É uma autêntica fábrica de stress e a centena de metros andados é medida em tempo largo. Belíssima cidade na margem duma belíssima baía. Belíssimos prédios coloniais, pena muitos estarem ao abandono na sua conservação, se misturam com prédios moderníssimos de alta tecnologia, assim como esgotos a céu aberto contrastam com moderníssimas bocas de incêndio. Não encontrei o clássico transporte público nem o mundialmente conhecido táxi. Um autocarro, machimbombo, se sair da estação não passa da primeira paragem porque o trânsito não lhe deixa. Vi milhares, número que atiro para o ar na incerteza de ter um número certo, de candongueiros. NISSAN, azul clara e branca na capota, circulando a abarrotar de gente numa condução de perigar qualquer montanha russa dum qualquer parque de diversões. Para eles tudo vale, mesmo andar em sentido contrário. Por acaso, e talvez seja mesmo só por acaso, não vi nenhum a voar.
Um pouco a sul está a nascer Luanda Sul. Mesmo assim, Luanda Sul. Não tarda e um dia estaremos a ouvir Luanda a Velha e Luanda a Nova, ou coisa parecida. Aqui coexistem largas avenidas, shoppings, condomínios fechados, carros soberbos acima do topo de gama, moradias de fazer inveja.
Luanda dizem ter 4 milhões de habitantes. Mas Luanda província, composta por nove municípios e não só a Luanda cidade capital.
A população total do país ronda os 16 milhões, mas este parece ser um número indisfarçadamente inflacionado. Não há censo recente.
Iniciativas tímidas do governo têm sido tomadas em várias frentes desde a saúde, à educação e a infra-estruturas. As estradas inter províncias estão em fase de recuperação, assim como a rede de distribuição eléctrica, os caminhos de ferro, as escolas, hospitais.
Mas mesmo assim o angolano é um povo orgulhoso e alegre. Tudo é motivo de festa. Kizomba, Kuduro são os ritmos que todos dançam e bem.
Bom mesmo é não falar de política.
JCC

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