Filipe Zau, neste seu primeiro livro de crónicas, cruza uma série de saberes, que vão da história e da crítica musical à antropologia e à sociologia cultural, passando pela pedagogia, a ideologia e a política. Filipe Zau é um talento de muitas faces pouco reconhecido entre os angolanos. É conhecido entre o grande público (se é que podemos afirmar que há "um grande público" de consumidores de cultura em Angola) unicamente como músico. No entanto ele possui igualmente outros talentos: pedagogo por formação (tese brilhante sobre a educação em Angola a editar em 2008), poeta e um excelente cronista.
Colocando-se felizmente na contra mão de uma certa exegese cultural dita pós-moderna, não exita em recorrer às informações e às lições do passado, a fim de explicar certas ocorrências contemporâneas, no campo da música.
"Os blues obedecem a uma tradicional e bem conhecida sequência de acordes e compassos, à qual se associa uma temática que, entre outros aspectos, nos fala de dor, sofrimento, lamento, whisky, emoção, sexo, ciúme, mulheres da vida, acerto de contas à bala e mitos demoníacos que, no início do século XX, caracterizava o pensamento supersticioso do negros fixados na parte sul dos Estados Unidos da América".
A pauta de Filipe Zau é uma defesa firme da identidade angolana, sem cair no engodo de uma certa corrente multi-cultural ocidental, que, em nome do "respeito pela diferença", quer manter os africanos em guetos. Estas notas editadas em crónicas pelas edições Chá de Caxinde estão dentro da pauta do pensamento africano mais moderno e avançado.
"... Mukenga é um músico de Angola que deve dar a conhecer a sua música ao mundo, porque a música angolana é dotada de uma melodia, de uma rítmica e musicalmente muito bonitas... Talento é talento. Filipe, hoje, é mais artista. O seu espectáculo pode ser apresentado em qualquer parte do mundo".
Se os que gostam de música tiverem este livro à mesa de cabeceira que lhes possa de alguma forma contribuir para o alargamento do espaço dedicado ao estudo e à análise das questões musicais de Angola e de África. Como afirmou o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, Filipe Zau, filho de um angolano de Cabinda e de uma caboverdeana, nascido em Lisboa, "coloca Angola e a sua música numa posição singular no contexto de África e do Mundo".
Pensar e Falar Angola
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