terça-feira, 2 de outubro de 2007

Baía dos Tigres (+personalidade anónima)


A Baía dos Tigres só teve água potável nos anos 1950, levada do Rio Cunene, 60 Kms. de condutas. Nunca passou duma aldeia de pescadores com uns 500 habitantes, entre brancos e pretos, devido ao isolamento e ao clima agreste. As viagens por terra eram conseguidas por jeeps em baixa mar, aproveitando a areia endurecida e molhada da maré. Nada mais existia para além das dunas altaneiras de areia solta e o mar. Era uma viagem arriscada que alguns aventureiros tentavam, por vezes sem sucesso. A comunicação com a Baía dos Tigres passou a fazer-se por avioneta (correio e passageiros). Acabaram por construir uma igreja, uma escola primária, um hospital, os correios, a casa do chefe do posto e uma rua que era também a pista para a avioneta. As casas eram construídas em cima de pilares, para que as areias levadas pelo vento da garrôa passassem livremente.


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Manuel Joaquim Frota, nasceu em Olhão no dia 15 de Janeiro de 1838.
Em 1887, com 49 anos de idade decidiu fazer a travessia do Atlântico a bordo do palhabote S. José, de Manuel Pereira Gonçalves, levando a primeira "Armação à Valenciana" da pesca da sardinha que Angola conheceu e que foi montada na então Vila de Moçâmedes, hoje cidade do Namibe. Não se sabe o local onde foi instalada, talvez na Torre do Tombo, na praia onde foi construído o cais comercial, na ponta do Noronha. Demorou-se pouco tempo por ali e antes de 1893, ano de chegada do meu avô, já estaria montada na Baía dos Tigres.
Outras armações foram chegando: a de Lourenço Morgado que foi instalada, provàvelmente no lugar da primeira ou muito próximo, e a de Francisco de Sousa Ganho, montada no Baba.
As armações fixas, eram as artes de pesca mais avançadas dessa época e de grande rentabilidade, que fizeram aumentar a produção do pescado naquela zona do litoral angolano.
Poucos familiares conheciam a aventura africana deste nosso ascendente. Porque decidiu emigrar numa idade já um tanto avançada para este tipo de aventura? Porque mudou os seus planos de permanência em África? São perguntas que ficarão sem resposta certa, mas um familiar recordava-se que talvez houvesse um motivo forte para o seu regresso a Olhão: recordava-se de comentários feitos no seio da família que em dado momento, a minha bisavó reconsiderou o embarque definitivo para África, criando a dúvida se lá teria estado alguma vez. O motivo desta decisão da minha bisavó, talvez esteja nas difícies condições de vida que o meio sul angolense oferecia naquela época, com relativa excepção para a vila capital do distrito: Moçâmedes.Manuel Joaquim Frota, o mandador pioneiro, regressou a Olhão em data indeterminada e faleceu no dia 12 de Outubro de 1912 aos 74 anos.
A CATACUMBA ABANDONADA
Decidi um dia entrar no cemitério velho de Olhão, naquele que é uma das principais fontes documentais da cidade, com arquivo próprio.
O funcionário era um simpatizante da pesquisa histórica e prontificou-se consultar os inúmeros registos ao seu dispor. Dois deles chamaram a minha atenção: a sepultura abandonada de um tio-bisavô, Francisco Lopes Frota e a catacumba, também abandonada que servia de última morada ao meu bisavô Manuel Joaquim Frota, o mandador pioneiro das armações à valenciana. Desloquei-me aos dois lugares onde fiz um breve recolhimento. Francisco Lopes Frota era um dos irmãos mais velhos do meu bisavô e não deixou descendência. Mais tarde, numa visita, constatei não existir mais a pedra da sua sepultura. A catacumba do mandador, meu bisavô, encontrava-se sem qualquer identificação, só em parede caiada, graças ao zelo dos funcionários. A minha bisavó migrou para Lisboa com a restante família deixando Olhão para sempre, daí não ter podido cuidar da sua manutenção. Existiu uma chapa, posta por um parente que tinha um táxi mas caíu e perdeu-se,(um gesto de rara sensibilidade vindo de um sobrinho-neto do meu bisavô). Há muitos anos era visitada por familiares ligados à minha bisavó, a família Lota, recordava-se o funcionário que manteve uma forte relação de amizade com o meu parente taxista José Sérgio Frota e que nutria por ele grande respeito e admiração por ser um talentoso apresentador de teatro e autor de várias peças representadas na saudosa sala do teatro velho de Olhão por artistas amadores da cidade. Tive o grato prazer de o conhecer, já reformado, numa breve visita em sua casa, perto de Lisboa, há cerca de 20 anos.
Confesso que, diante daquela catacumba, senti-me deveras emocionado. Ali estava sepultado o meu bisavô, um "africanista olhanense" que fez uma viagem épica a bordo de um palhabote e que era pioneiro das armações á valenciana. A sua pele fora curtida pelas maresias do mar de Moçâmedes e pelas garrôas e lestadas da Baía dos Tigres. Na certidão de óbito vinha mencionada a idade aparente: 88 anos, quando na verdade tinha 74
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Claudio Frota

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