segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Ingenuidade ternurenta

“Há muito tempo, em Berlim, surpreendeu-me o telefonema de um amigo, um companheiro de infância, lá da minha querida Chibia. Disse-me que saíra há dois dias do Lubango, que fora de mota até Luanda, e de Luanda voara até Lisboa, e de Lisboa embarcara para a Alemanha, decidido a fugir à guerra. Devia ter um primo à espera dele mas não estava ninguém, e então decidiu procurar a casa do primo, saiu do aeroporto e perdeu-se. Estava aflito. Não falava uma palavra em inglês, tão-pouco de alemão, e nunca antes estivera numa grande cidade. Procurei acalmá-lo. Estás a telefonar de onde?, perguntei-lhe, De uma cabine, respondeu-me. Encontrei o teu número de telefone na minha agenda e resolvi ligar, - Fizeste bem, concordei. Não saias daí. Diz-me apenas se vês alguma coisa que te pareça estranha, que chame a atenção, para que eu me possa orientarUma coisa estranha?
Bem, do outro lado da rua tem uma máquina com uma luz que se acende e apaga e vai mudando de cor, verde, vermelho, verde, com a figura de um homenzinho a caminhar.”

Agualusa, José Eduardo in O vendedor de passados


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