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O Futungo de Belas tem origens muito recentes. Já quase à beira dos acontecimentos que precipitaram a independência de Angola, um grupo de portugueses abastados de Luanda decidiu instalar nessa área um clube de pesca luxuoso. Para o complexo projectado, demarcou-se uma vasta zona e nela, após a construção da sede, foram os sócios espalhando moradias sólidas, embora naquele gosto duvidoso tão à maneira pomposa da plutocracia do último período colonial.
O Futungo de Belas tem origens muito recentes. Já quase à beira dos acontecimentos que precipitaram a independência de Angola, um grupo de portugueses abastados de Luanda decidiu instalar nessa área um clube de pesca luxuoso. Para o complexo projectado, demarcou-se uma vasta zona e nela, após a construção da sede, foram os sócios espalhando moradias sólidas, embora naquele gosto duvidoso tão à maneira pomposa da plutocracia do último período colonial.
O conjunto, olhado dum plano superior, onde passa a estrada para a Barra do Quanza, tem na verdade uma certa imponência. Espraia-se em suave declive até às águas quietas e metálicas da baía do Mussúlo, semeadas de ilhotas, cerradas no horizonte pela linha escura e longa da ilha do mesmo nome. As diversas construções e vetustos embondeiros pontuam, aqui e ali, um imenso espaço de relvados, jardins e pequenas matas, que morre num palmar junto ao mar. Abarcado no seu todo, o conjunto ganha grandeza e elegância.
Diz-se que Agostinho Neto preferiu instalar-se no Futungo, a quedar-se no belo palácio dos Governadores, que desde os finais do século XVI fora sede do Poder colonial, para “fisicamente” romper com o passado. Ademais, ter-se-á julgado mais fácil manter uma segurança eficaz nos espaços abertos do Futungo, do que em plena capital.
Entretento, à medida que cresceu a ameaça da UNITA, assim se foi o Futungo de Belas transformando numa verdadeira fortaleza. É também uma ilha de ordem, sossego e limpeza nesta capital degradada. Em suma, o Futungo assemelha-se a uma prisão dourada.
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Pinto da França, António, in “Angola O dia-a-dia de um embaixador 1983/88”
Pensar e Falar Angola
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