quinta-feira, 9 de agosto de 2007

CAMACOUVE

Antes de escrever seja o que for vou confessar um pecado: gosto de ícones. Gosto e tenho "raiva" de quem diz que gostar de alguém é fazer o culto da personalidade. Raios para os intelectuais! Isto para agradecer os dois excelentes vídeos da Lady Di em Angola aqui colocados. Como eu gostaria de ter um poster recordando este momento no meu gabinete de trabalho. Vamos ver se tenho sorte!

CAMACOUVE


Aqui está um ícone que sempre viveu no meu imaginário e que ao longo da minha vida me tem acompanhado. Este comboio, tipo salada russa, que tanto levava vagões de mercadorias como carruagens de passageiros e que lá na banda resolveram chamar de Camacouve, porque tinha camas e levava couves - digo eu - segundo reza a lenda, foi o sonho das minhas viagens. Só fiz duas ou três viagens neste comboio quando visitava o Bongo e a sua missão. Deslocava-me aí em "negócios", mal sucedidos diga-se, com o Dr. Parson, saindo cedo do meu Huambo e apanhando o ar fresco da manhã naquele rame-rame que se prolongava por horas. Era lindo de ver a "cobra" a subir a serra do Lépi, ouvir o nascer do dia e sentir o cheiro da terra que se modificava pelo dia em diferentes aromas. Um dia, pensei, quando acabarem com isto ficarei mais só e sem imaginação para sonhar. Era aqui, nestas carruagens, que eu um dia cheguei à conclusão que na minha Angola havia muitas pessoas que não eram todas iguais e que contavam histórias que a professora Maria nunca me tinha contado na escola do Bairro. Comecei a sentir que aquela treta do Império era ficção e que só nos filmes mais foleiros é que passava a epopeia dos igrejos avós. Eu queria era ouvir, ver, falar e pensar no que se dizia naquele Camacouve.
Hoje sei que estou mais só, numa encruzilhada, sem saber se ainda sei sonhar.


Pensar e Falar Angola

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