segunda-feira, 16 de julho de 2007

MALA

Exactamente! Há imagens que nunca se perdem pois são fotografias que guardamos no álbum das nossas vivências. Talvez tenha descoberto a razão de eu gostar tanto do nascer e do pôr do sol em África e sempre dizer que na minha terra o sol tem o tamanho do mundo.
Embarcávamos no mala pelo início da tarde no Huambo com destino ao Luau. Era um momento de grande ansiedade como a que vivo hoje em dia num qualquer aeroporto do planeta. Sempre colado ao vidro da janela ia observando a paisagem que mudava como os slides da imaginação do projector da vida. Chegados ao Kuito pela tardinha só esperava que o mala avançasse para ver o pôr do sol da carruagem restaurante enquanto o mambo vestido todo de branco me preparava a cama para a noite dos sonhos. Era fantástico adormecer com o embalar suave, naquela brancura do vagão cama, sempre no beliche de cima, ouvindo o tam tam dos rodados nos carris. E como era bom acordar com as pancadas suaves de quem anunciava um quente matabicho antes de colar a cara no vidro e ver o nascer da vida nas chanas do leste. Foi aí que vi os primeiros felinos bem perto das gentes que nunca me contaram porque é que aquele comboio de passageiros se chamava mala. Talvez fosse um acto subversivo dar um nome diferente ao mesmo comboio em Portugal e Angola. Isso sou eu a falar.

Pensar e Falar Angola

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Dr. Agostinho Neto