LUBANGO - PÁTRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA

Para quem gosta de viagens há livros que merecem uma alusão mais que perfeita. Gonçalo Cadilhe natural da Figueira da Foz, Portugal, é um daqueles cronistas dos tempos modernos que nos fazem estar nos lugares sem sequer, por vezes, os termos apontado no mapa. E neste livro, África Acima, leva-nos, durante 8 meses, por 50.000 palavras, a 27.000 quilómetros de travessia de um continente que nós aprendemos a amar. Falo por mim.

Recusando o avião, "aliás, voar não é viajar" como afirma, mas percorrendo África utilizando as estradas, recorrendo aos transportes públicos, aos autocarros maltratados pelos anos, aos comboios que ainda andam, pedindo boleia, viajando com as pessoas da terra, Gonçalo Cadilhe passou também por Angola. E é dessa Angola e do Lubango que o autor viaja no tempo pela sua adolescência, a infância e pelo império conservador e pardacento do salazarismo. "Em Portugal, afirma, não existe nenhum centro urbano íntegro e fiel a este período..."
E sobre o Lubango? " O Lubango devia candidatar-se a Património Mundial da UNESCO, e Portugal devia tomar como missão, como desígnio nacional, esta candidatura. Portugal devia oferecer-se a Angola para fazer desta cidade um monumento único no género no mundo: recuperando-a, investindo nela, ajudando-a a reencontrar um sentido, uma razão de ser.
Que podia ser a partir da universidade, que é o mesmo motivo que diferencia Salamanca, Perugia, Williamstown. Ou a partir de cursos intensivos de língua portuguesa para estrangeiros - tal como são as "cidades UNESCO" de Oaxaca e Antígua, na América Central, o são para a língua espanhola. O Lubango podia ser até a capital dessa pátria imensa que é a língua portuguesa, porque não? Mais prosaicamente, podia ser um dos pontos cardeais do turismo no Sul da África, ligada ao Parque Etosha, às cataratas de Vitória, ao delta do Okavango. E, naturalmente, a razão de ser podia ser a arquitectura. Um museu vivo do modernismo, um pouco em art déco plantado no planalto austral africano."

Um livro a não perder!

Pensar e Falar Angola