terça-feira, 19 de junho de 2012

Boa educação na disputa eleitoral - OPINIÃO


A Palavra do Director
José Ribeiro |

Boa educação na disputa eleitoral

17 de Junho, 2012
 As eleições gerais marcadas para 31 de Agosto são um marco importante para Angola, porque vão revelar uma organização mais competente e rigorosa, mas também porque surgem no final de uma legislatura marcada pela estabilidade política, crescimento económico e reforço da unidade e reconciliação nacional. Apesar desta realidade há sempre quem pense que a disputa eleitoral, em vez de momento de mostrar a grandeza dos políticos nacionais, é a altura da falta de educação.
As eleições são para os partidos políticos e os seus candidatos. Esses têm direito ao palco todo e é bom que representem o seu papel de uma forma competente, até porque se falharem, não são eleitos. Em termos de disputa eleitoral, as eleições já começaram, com uma pré-campanha que apresenta elementos suficientemente reveladores do tipo de partidos e carácter de políticos que temos em Angola.
A democracia vive dos partidos e quantos mais participarem nas próximas eleições, melhor. Por isso,
independentemente das opções políticas e ideológicas de cada um, é um dever de cidadania viabilizarmos com a nossa assinatura listas de deputados e até o aparecimento de novos partidos. Mas não é uma obrigação. E também não é papel dos órgãos de comunicação social fazer publicidade aos que andam à procura de assinaturas que lhes permitam apresentar listas de deputados no Tribunal Constitucional.
Os partidos que estiverem em dificuldades para conseguir o número mínimo de assinaturas para as suas listas de candidatos às eleições gerais, podem sempre recorrer à publicidade, mesmo que em forma de pequenos anúncios. É uma sugestão. Mas ninguém de bom-senso espera que os órgãos públicos de comunicação social se transformem em angariadores de assinaturas ou promovam as tendas de recolha que eventualmente sejam colocadas nos locais públicos ou nas proximidades dos grandes mercados informais em todo o país.
A disputa eleitoral é exclusiva dos políticos e partidos. Uns e outros sabem – ou deviam saber – que em democracia não há inimigos, apenas adversários. No momento em que encerram as urnas acaba a disputa eleitoral e começa outra forma de fazer política: levar aos cidadãos as ideias, os projectos, os programas, as críticas, a doutrina e a ideologia que cada um defende.
Os órgãos de comunicação social não são inimigos de ninguém, portanto, os políticos que estão empenhados na disputa eleitoral não podem tratá-los na lógica da caça ao “inimigo público”. Os meios de comunicação que pertencem ao sector empresarial do Estado e que alguns políticos candidatos às eleições gerais consideram como seus, também não podem ser encarados como inimigos dos partidos da oposição nem amigos do partido da maioria parlamentar.
Pelo facto de serem órgãos do sector público, não quer dizer que sejam instrumentos às ordens dos políticos e dos partidos. Muito pelo contrário, exactamente porque pertencem ao sector empresarial do Estado, têm responsabilidades acrescidas no rigor e na verdade dos factos, um critério que tem tantas mais implicações éticas e deontológicas quanto alguns entendem a política como um exercício de falta de educação.
A linha editorial dos órgãos de comunicação social públicos é autónoma e da responsabilidade exclusiva dos seus jornalistas. Cada repórter que cobre a campanha de um partido, seja ele qual for, é soberano nas opções que toma perante o acontecimento. É ele que decide e não os directórios partidários.
Durante a disputa eleitoral, o Jornal de Angola vai continuar a recusar pressões de qualquer espécie. Muito menos aceitar que sejam terceiros a definir a sua linha editorial. Os repórteres que estejam a cobrir acções de campanha dos partidos, sabem fazer o seu trabalho, levar aos leitores o que de facto acontece, com rigor e respeito absoluto pela verdade dos factos. O que os candidatos disserem, é reportado e chega aos leitores sem qualquer deturpação ou manipulação. Desafiamos quem quer que seja a vir verificar isso.
Alguns políticos acham que pelo facto de o Jornal de Angola ser um órgão público, têm o direito de dirigir o jornal, corrigir os repórteres, interferir na produção e, pelo meio, de enxovalhar quem está a realizar um serviço público e merece todo o respeito. Esses políticos não têm esse direito. A direcção do Jornal de Angola é legítima e tem um mandato outorgado por quem tem a legitimidade do voto popular para fazê-lo. 




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