quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Hoje faz 100 anos que as terras da Damba foram acupada pelos portugueses.



Por Sebastião Kupessa.

Com a criação do posto militar do Mbongi de Zombo em 13 de Janeiro de 1896 e do posto militar do Bembe em 24 de Dezembro de 1903. As forças de ocupação lusitana, pensaram criar um posto intermediário para apoiar os ambos postos citados. Pela sua posição estratégica, a aldeia Nsangi do Mabubu ( onde está situada a vila da Damba ) vai ser escolhida para construir o posto.

A ocupação da Damba não será pacífica, nem será, também, resultado de um tratado entre os portugueses e os nativos. Os europeus decidem entrar pela força no dia 5 de Outubro e estabelecem-se no extremo norte da aldeia do Nsangi ( onde é situado o quartal militar) e ali começam edificar o posto, apesar das hostilidades da aristocracia local, que será inaugarado no dia 30 de Dezembro de 1911.

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                  Uma coluna de militares portugueses no tempo de ocupação( F. de p. Veloso)

Mas antes desta data, o soba de Mabubu* ( não confundir com Mbanza Mabubu ), Soba Namputu, vai incarnar a resistência contra a presença do mundele no território da Damba. Segundo a tradição oral, o Soba Namputu, teria convocado o M'fumu'a Mindele ( o chefe dos brancos ) numa suposta cerimónia tradicional que realizou-se na parte meridional do Nsangi ( no lugar onde está construido o hospital da Damba, ex MST), que procurava ter contacto pacífico com as autordades locais. Impressionado com o espectáculo dos africanos, com o som de masikilu, o representante português na cerimónia, julgou ser ocasião de assinar algum acordo, que  permeteria-lhe entrar na história de Portugal, submeteu-se às exigências do Soba! Este pediu ao português de despir a farda, para envergar o vestuário africano feito de ráfia do bordão e um conjunto de colar de conchas no pescoço. Obrigou-lhe deitar-se no chão, com o seu pé coberto de uma substância avermelhada, chamada Nkula, o Soba vai pisar várias vezes o português, que não desconfiava a humilhação, até quando é imprimida a pegada do Soba na cara mundele. Este último volta, ridiculizado, donde veio vestido de africano e com a impressão do pé de Soba na cara. Assim os dambianos deram messagem aos militares portugueses que a sua presença nas suas terras não era desejada.

Soba Namputu liderou a resistência dambiana contra os portugueses, até ser capturado e preso sob ordem do então governador de Angola, Norton de Matos. O soba rebelde, considerado como herói na Damba, faleceu na prisão em Luanda.

Com a prisão do Namputu, a resistência na Damba continuou com os Sobas Zawambakana, Nkama Ntambu e Madianda Ngungu do Nsoso.

Juntámos ao presente artigo, um documento escrito em 1912 pelo então governador do Congo, o Tenente da Mariha, José Cardozo, arquivado neste site, que confirma a tradição oral:
http://www.muanadamba.net/article-fragmentos-historicos-da-damba-13-54718075.html
http://www.muanadamba.net/article-fragmentos-historicos-da-damba-14-54870832.html
http://www.muanadamba.net/article-fragmentos-historicos-da-damba-16-55287486.html



“ Devido à boa política do general Faria Leal, ex-residente da extinta circunscrição de San - Salvador, circunscrição que ao tempo abrangia todo o território depois repartido pelas capitanias-mores da Damba e Quango e circunscrição de Maquela, conservam-se s povos do Zombo em atitude expectante, até que consegui alcançar Maquela com reforço que me havia sido reclamado.

Ali reunidos quatrocentos sobas e sobetas dos povos litigantes, com os seus “mucuruntos” e conselheiros, se procedeu a monumental “fundação”, na qual se confirmaram todas as informações que o general Leal me dera sobre a situação geral, bem como sobre a responsabilidade que no caso cabia a determinados influentes ali presentes, como intrigantes ou instigadores do estado de rebelião.

Não podia, porém, o governador fazer justiça sem formalidade consagrada pela usança de ouvi-los em “fundação”, que esses povos conservaram até a minha chegada.

Preparava-se, talvez, desde longa data, uma sublevação geral dos povos do Zombo, que se estendia, provavelmente, até os povos do sueste de San-Salvador, com o fim de se libertarem da acção da nossa autoridade, e interpretei, então, como devendo ter sido os primeiros prenúncios dessa rebelião, a manifestação hostil que teve lugar em Setembro de 1910, quando os povos de Quimbubuje, armados, foram declarar à residência de San-Salvador que não pagariam o imposto de cubata que lhes havia sido intimado, atrevimento que, com muito pesar meu, ficou sem castigo imediato…

…” Fácil me foi compreender, pelo exame da situação geral, que a causa oculta da sublevação estava em a gente do Zombo reconhecer que mais cómodo lhe seria viver livre, com os povos da Damba, esquecendo-se, o que é natural, os benefícios que o posto de Maquela lhe tinha trazido… Catorze anos sem ser importunada pelos soldados “Bula matidi” é realmente um período de tempo suficiente para esquecer agruras passadas.

Havia para mais a instigá-los a revolta à proeza dos dambas praticada em 1909 , quando major
Galhardo foi maltratado na povoação de Nsangui pelo soba NPUTO ( hoje preso em Loanda), que havia ficado sem castigo até 1911.

…” Compreendi portanto, desde logo, que só garantiria uma paz e tranquilidade duradouras em Maquela, quando pudesse por completo destruir a causa oculta a que atribuía a perturbação havida.

Para isso era-me necessário instalar na Damba, o mais cedo possível, o domínio da nossa autoridade.

…” Cumpria-me, pois, proceder de maneira a garantir por forma duradoura e efectivas as vidas e os valores dos habitantes de Maquela, e não podia conseguir por outro modo que não fosse dominar os dambas, cuja atitude repontante reanimaria os muzombos a manifestarem-se logo que apresentasse a primeira oportunidade…

Não possuindo na ocasião os elementos de acção necessários para marchar sobre a Damba, mas dispondo de mais que o preciso para assegurar a tranquilidade em Maquela, resolvi, acto continuo, empregar os elementos que me ficavam livres em preparar o nosso estabelecimento na Damba, ordenando imediatamente a ocupação do Quibocolo, Bembe e Quimbubuje, que ficavam sobre os principais caminhos percorridos pelas caravanas da Damba, facultando-me a ocupação de Quimbubuje, alem do objectivo que ora visava, poder ter o ensejo de castigar o atrevimento de 1910, atrás referido.

Estávamos em 2 de Junho de 1911. Em 5 de Junho ocupava-se Quibocolo…” a 19 de Junho o Bembe…” E o Quimbubuje a 25 de Julho.

…” Maquela elevada a sede de circunscrição em Agosto de 1911, transferindo para lá a sede da 2ª. Companhia indígena de infantaria .

“ Recomendado às autoridades locais que encaminhassem a politica indígena no sentido de preparar nossa entrada na Damba, breve começaram a chegar-me noticias, de várias proveniências, de que a montagem dos três postos tinha exercido na gente da Damba uma profunda impressão que urgia aproveitar. Em fins de Agosto apresentava-se-me em Cabinda o general Leal, declarando-se pronto para ir fazer a ocupação. Nos primeiros dias de Setembro partia esse oficial de Santo António com a força que pus à sua disposição para aquele fim, e, em 5 de Outubro de 1911, o general firmava, com uma salva de artilharia, a Bandeira Portuguesa, nos parapeitos da fortaleza construída na povoação do Nsangui…”

   * Mabubu é o território da vila da Damba e da sua periferia.



                                                            Referência: www.associacaodosamigosdouige.pt

                                                                      Em colaboração com Artur Méndes.

retirado daqui

Pensar e Falar Angola

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