Por Sebastião Kupessa.
Com a criação do posto militar do Mbongi de Zombo em 13 de Janeiro de 1896 e do posto militar do Bembe em 24 de Dezembro de 1903. As forças de ocupação lusitana, pensaram criar um posto intermediário para apoiar os ambos postos citados. Pela sua posição estratégica, a aldeia Nsangi do Mabubu ( onde está situada a vila da Damba ) vai ser escolhida para construir o posto.
A ocupação da Damba não será pacífica, nem será, também, resultado de um tratado entre os portugueses e os nativos. Os europeus decidem entrar pela força no dia 5 de Outubro e estabelecem-se no extremo norte da aldeia do Nsangi ( onde é situado o quartal militar) e ali começam edificar o posto, apesar das hostilidades da aristocracia local, que será inaugarado no dia 30 de Dezembro de 1911.
Uma coluna de militares portugueses no tempo de ocupação( F. de p. Veloso)
Mas antes desta data, o soba de Mabubu* ( não confundir com Mbanza Mabubu ), Soba Namputu, vai incarnar a resistência contra a presença do mundele no território da Damba. Segundo a tradição oral, o Soba Namputu, teria convocado o M'fumu'a Mindele ( o chefe dos brancos ) numa suposta cerimónia tradicional que realizou-se na parte meridional do Nsangi ( no lugar onde está construido o hospital da Damba, ex MST), que procurava ter contacto pacífico com as autordades locais. Impressionado com o espectáculo dos africanos, com o som de masikilu, o representante português na cerimónia, julgou ser ocasião de assinar algum acordo, que permeteria-lhe entrar na história de Portugal, submeteu-se às exigências do Soba! Este pediu ao português de despir a farda, para envergar o vestuário africano feito de ráfia do bordão e um conjunto de colar de conchas no pescoço. Obrigou-lhe deitar-se no chão, com o seu pé coberto de uma substância avermelhada, chamada Nkula, o Soba vai pisar várias vezes o português, que não desconfiava a humilhação, até quando é imprimida a pegada do Soba na cara mundele. Este último volta, ridiculizado, donde veio vestido de africano e com a impressão do pé de Soba na cara. Assim os dambianos deram messagem aos militares portugueses que a sua presença nas suas terras não era desejada.
O Soba Namputu liderou a resistência dambiana contra os portugueses, até ser capturado e preso sob ordem do então governador de Angola, Norton de Matos. O soba rebelde, considerado como herói na Damba, faleceu na prisão em Luanda.
Com a prisão do Namputu, a resistência na Damba continuou com os Sobas Zawambakana, Nkama Ntambu e Madianda Ngungu do Nsoso.
Juntámos ao presente artigo, um documento escrito em 1912 pelo então governador do Congo, o Tenente da Mariha, José Cardozo, arquivado neste site, que confirma a tradição oral:
http://www.muanadamba.net/article-fragmentos-historicos-da-damba-13-54718075.html
http://www.muanadamba.net/article-fragmentos-historicos-da-damba-14-54870832.html
http://www.muanadamba.net/article-fragmentos-historicos-da-damba-16-55287486.html
“ Devido à boa política do general Faria Leal, ex-residente da extinta circunscrição de San - Salvador, circunscrição que ao tempo abrangia todo o território depois repartido pelas capitanias-mores da Damba e Quango e circunscrição de Maquela, conservam-se s povos do Zombo em atitude expectante, até que consegui alcançar Maquela com reforço que me havia sido reclamado.
Ali reunidos quatrocentos sobas e sobetas dos povos litigantes, com os seus “mucuruntos” e conselheiros, se procedeu a monumental “fundação”, na qual se confirmaram todas as informações que o general Leal me dera sobre a situação geral, bem como sobre a responsabilidade que no caso cabia a determinados influentes ali presentes, como intrigantes ou instigadores do estado de rebelião.
Não podia, porém, o governador fazer justiça sem formalidade consagrada pela usança de ouvi-los em “fundação”, que esses povos conservaram até a minha chegada.
Preparava-se, talvez, desde longa data, uma sublevação geral dos povos do Zombo, que se estendia, provavelmente, até os povos do sueste de San-Salvador, com o fim de se libertarem da acção da nossa autoridade, e interpretei, então, como devendo ter sido os primeiros prenúncios dessa rebelião, a manifestação hostil que teve lugar em Setembro de 1910, quando os povos de Quimbubuje, armados, foram declarar à residência de San-Salvador que não pagariam o imposto de cubata que lhes havia sido intimado, atrevimento que, com muito pesar meu, ficou sem castigo imediato…
…” Fácil me foi compreender, pelo exame da situação geral, que a causa oculta da sublevação estava em a gente do Zombo reconhecer que mais cómodo lhe seria viver livre, com os povos da Damba, esquecendo-se, o que é natural, os benefícios que o posto de Maquela lhe tinha trazido… Catorze anos sem ser importunada pelos soldados “Bula matidi” é realmente um período de tempo suficiente para esquecer agruras passadas.
Havia para mais a instigá-los a revolta à proeza dos dambas praticada em 1909 , quando major
Galhardo foi maltratado na povoação de Nsangui pelo soba NPUTO ( hoje preso em Loanda), que havia ficado sem castigo até 1911.
…” Compreendi portanto, desde logo, que só garantiria uma paz e tranquilidade duradouras em Maquela, quando pudesse por completo destruir a causa oculta a que atribuía a perturbação havida.
Para isso era-me necessário instalar na Damba, o mais cedo possível, o domínio da nossa autoridade.
…” Cumpria-me, pois, proceder de maneira a garantir por forma duradoura e efectivas as vidas e os valores dos habitantes de Maquela, e não podia conseguir por outro modo que não fosse dominar os dambas, cuja atitude repontante reanimaria os muzombos a manifestarem-se logo que apresentasse a primeira oportunidade…
Não possuindo na ocasião os elementos de acção necessários para marchar sobre a Damba, mas dispondo de mais que o preciso para assegurar a tranquilidade em Maquela, resolvi, acto continuo, empregar os elementos que me ficavam livres em preparar o nosso estabelecimento na Damba, ordenando imediatamente a ocupação do Quibocolo, Bembe e Quimbubuje, que ficavam sobre os principais caminhos percorridos pelas caravanas da Damba, facultando-me a ocupação de Quimbubuje, alem do objectivo que ora visava, poder ter o ensejo de castigar o atrevimento de 1910, atrás referido.
Estávamos em 2 de Junho de 1911. Em 5 de Junho ocupava-se Quibocolo…” a 19 de Junho o Bembe…” E o Quimbubuje a 25 de Julho.
…” Maquela elevada a sede de circunscrição em Agosto de 1911, transferindo para lá a sede da 2ª. Companhia indígena de infantaria .
“ Recomendado às autoridades locais que encaminhassem a politica indígena no sentido de preparar nossa entrada na Damba, breve começaram a chegar-me noticias, de várias proveniências, de que a montagem dos três postos tinha exercido na gente da Damba uma profunda impressão que urgia aproveitar. Em fins de Agosto apresentava-se-me em Cabinda o general Leal, declarando-se pronto para ir fazer a ocupação. Nos primeiros dias de Setembro partia esse oficial de Santo António com a força que pus à sua disposição para aquele fim, e, em 5 de Outubro de 1911, o general firmava, com uma salva de artilharia, a Bandeira Portuguesa, nos parapeitos da fortaleza construída na povoação do Nsangui…”
Ali reunidos quatrocentos sobas e sobetas dos povos litigantes, com os seus “mucuruntos” e conselheiros, se procedeu a monumental “fundação”, na qual se confirmaram todas as informações que o general Leal me dera sobre a situação geral, bem como sobre a responsabilidade que no caso cabia a determinados influentes ali presentes, como intrigantes ou instigadores do estado de rebelião.
Não podia, porém, o governador fazer justiça sem formalidade consagrada pela usança de ouvi-los em “fundação”, que esses povos conservaram até a minha chegada.
Preparava-se, talvez, desde longa data, uma sublevação geral dos povos do Zombo, que se estendia, provavelmente, até os povos do sueste de San-Salvador, com o fim de se libertarem da acção da nossa autoridade, e interpretei, então, como devendo ter sido os primeiros prenúncios dessa rebelião, a manifestação hostil que teve lugar em Setembro de 1910, quando os povos de Quimbubuje, armados, foram declarar à residência de San-Salvador que não pagariam o imposto de cubata que lhes havia sido intimado, atrevimento que, com muito pesar meu, ficou sem castigo imediato…
…” Fácil me foi compreender, pelo exame da situação geral, que a causa oculta da sublevação estava em a gente do Zombo reconhecer que mais cómodo lhe seria viver livre, com os povos da Damba, esquecendo-se, o que é natural, os benefícios que o posto de Maquela lhe tinha trazido… Catorze anos sem ser importunada pelos soldados “Bula matidi” é realmente um período de tempo suficiente para esquecer agruras passadas.
Havia para mais a instigá-los a revolta à proeza dos dambas praticada em 1909 , quando major
Galhardo foi maltratado na povoação de Nsangui pelo soba NPUTO ( hoje preso em Loanda), que havia ficado sem castigo até 1911.
…” Compreendi portanto, desde logo, que só garantiria uma paz e tranquilidade duradouras em Maquela, quando pudesse por completo destruir a causa oculta a que atribuía a perturbação havida.
Para isso era-me necessário instalar na Damba, o mais cedo possível, o domínio da nossa autoridade.
…” Cumpria-me, pois, proceder de maneira a garantir por forma duradoura e efectivas as vidas e os valores dos habitantes de Maquela, e não podia conseguir por outro modo que não fosse dominar os dambas, cuja atitude repontante reanimaria os muzombos a manifestarem-se logo que apresentasse a primeira oportunidade…
Não possuindo na ocasião os elementos de acção necessários para marchar sobre a Damba, mas dispondo de mais que o preciso para assegurar a tranquilidade em Maquela, resolvi, acto continuo, empregar os elementos que me ficavam livres em preparar o nosso estabelecimento na Damba, ordenando imediatamente a ocupação do Quibocolo, Bembe e Quimbubuje, que ficavam sobre os principais caminhos percorridos pelas caravanas da Damba, facultando-me a ocupação de Quimbubuje, alem do objectivo que ora visava, poder ter o ensejo de castigar o atrevimento de 1910, atrás referido.
Estávamos em 2 de Junho de 1911. Em 5 de Junho ocupava-se Quibocolo…” a 19 de Junho o Bembe…” E o Quimbubuje a 25 de Julho.
…” Maquela elevada a sede de circunscrição em Agosto de 1911, transferindo para lá a sede da 2ª. Companhia indígena de infantaria .
“ Recomendado às autoridades locais que encaminhassem a politica indígena no sentido de preparar nossa entrada na Damba, breve começaram a chegar-me noticias, de várias proveniências, de que a montagem dos três postos tinha exercido na gente da Damba uma profunda impressão que urgia aproveitar. Em fins de Agosto apresentava-se-me em Cabinda o general Leal, declarando-se pronto para ir fazer a ocupação. Nos primeiros dias de Setembro partia esse oficial de Santo António com a força que pus à sua disposição para aquele fim, e, em 5 de Outubro de 1911, o general firmava, com uma salva de artilharia, a Bandeira Portuguesa, nos parapeitos da fortaleza construída na povoação do Nsangui…”
* Mabubu é o território da vila da Damba e da sua periferia.
Referência: www.associacaodosamigosdouige.pt
Em colaboração com Artur Méndes.
retirado daqui
Pensar e Falar Angola
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