Coincidindo com o fim do ano de 2008, acabei de ler um “tijolo” de perto de mil páginas, editado pela D. Quixote, de Jonatham Littel, “As Benevolentes”, livro que tenho vindo a citar nalgumas das minhas crónicas recentes.Admito que foi um livro, que não me deixou indiferente, e a espaços criou-me mesmo sentimentos díspares e naturalmente confusos. É o primeiro livro que leio escrito por um dos “vencidos” da IIª guerra, e o que chega a ser pungente é a minúcia das descrições da brutalidade e das belezas nas envolvências, de alguém que passados estes anos todos está suficientemente bem consigo próprio, para nem hoje nem nunca ter pedido desculpa a quem quer que seja.
Em determinadas fases do livro, perplexamente reflectia sobre o que é que me levava a ler, uma descrição simultaneamente fria e também polvilhada de afectos mecânicos pontualmente. A verdade é que sem esforço lia, mas com o assumir, idiotamente diga-se de passagem, de algumas culpas perante os que levaram uma bala na nuca, ou que foram fuzilados perante os seus familiares, como o autor descreve com os pormenores mais sórdidos, mas também sem cupidez, cometendo todas as barbaridades por obrigação fundamentalmente, e na descrição com a convicção, que estava certo.
É também um livro da história do terceiro Reich, a sua esquizofrenia burocrática, que tentava esconder fraquezas, complexos e que servia objectivamente, para que nunca se permitisse que uma parca porção de duvida, pudesse em qualquer circunstancia, macular o discurso oficial fanatizado e com objectivos bem determinados, como tardiamente muitos deram infelizmente conta.Saio da leitura das “Benevolentes” com mais taquicardia, e numa ou noutra descrição mentalmente nauseado, do que o autor, J. Littel, oficial das SS, que viveu calmamente até hoje para nos contar como foi do lado de Hitler, sem emoções, e com a convicção que era aquilo que tinha que se fazer, e nada havia para se arrepender.
Quem tiver oportunidade, leia o livro, nem que pontualmente chegue à varanda a encher o peito de ar, porque está perante uma obra imorredoira da literatura universal contemporânea.No Natal, ou melhor no Dia da Família, como prefiro o 25 de Dezembro, recuperando uma designação, dos tempos em que Angola procurava a via para o socialismo científico, recebi um presente. Quem mo deu, fê-lo com o objectivo claro de me provocar, mas azar o seu, pois soube-me bem receber o livro do Jaime Nogueira Pinto, “Jogos Africanos”, editado pela “ Esfera dos Livros”, em Novembro de 2008.
Li-o, com um pouco mais de agrado do que tinha acontecido com outros dele, nomeadamente “A Direita e as Direitas”, editado pela Difel, numa altura em que ele, como eu ainda tinha muitas dioptrias nos óculos, em 1996, embora víssemos claramente que os caminhos que trilhávamos não era igual.À medida que lia o livro do Nogueira Pinto, que o Ennes Ferreira, na sua ultima crónica do Expresso, compara com alguma piada e também com oportunidade, ao “Tintin no Congo” do belga Hergé, veio-me à memória os livros do Jorge Jardim e do Hugo Seia, para ficar por aqui.
O “Jogos Africanos”, é de facto um livro simpático para com a figura do Jaime Nogueira Pinto, e tenta não ser antipático com ninguém, o que só é uma virtude, por exemplo, para um dono de hotel e não para um politólogo, nova denominação no léxico da comunicação social, de umas pessoas sempre muito “bem informadas”, mas em que as coisas correm invariavelmente de forma contrária ao que comentaram.Andou por muito lugar a recomendar paz e a apoiar líderes guerreiros para que se encomendasse a paz, sempre muito determinado nas suas convicções de homem de direita, temente a Deus, defensor do Império e grande defensor da paz e da ordem salazarista.
Já li o livro por vocês: Agradeçam-me, pois poupei-vos tempo!
4/1/09
Sem comentários:
Enviar um comentário