Numa das minhas recentes deambulações pelas livrarias, comprei o recente livro do Manuel Rui Monteiro, editado pela Caminho, “ A Janela de Sónia”.
Ainda não o li, e espero fazê-lo rápidamente na adiada esperança de fazer o que nunca consegui: dizer mal de um livro do Manuel Rui. Não é só por corporativismo coimbrão, a verdade é que acho o Manuel Rui o melhor escritor angolano e procuro não perder nada do que ele vai escrevendo, desde artigos de opinião a livros ou trabalhos diversos.
Em 1973, na montra da Bertrand em Coimbra, a poucos metros do consultório do Dr.Adolfo Rocha, vulgarmente conhecido no mundo das letras por Miguel Torga, estava uma primeira edição de um livro de capas verdes titulado de “Regresso Adiado”, editado pela Centelha. Uma editora, que era pouco mais que um armário do cartório do Soveral Martins e do Manuel Rui perto da praça da Republica, que ia editando o bom que podia. Comprei esse livro por 20 escudos, o que era muito para o tempo e por uma obra de um desconhecido.
Por interpostas pessoas fui acompanhando o que o Manuel Rui tinha escrito na Vértice, revista de literatura e ideias que se tem mantido com alguma irregularidade ao longo de quase 70 anos, e onde muitos e bons poetas debutaram, e onde se partilharam boas ideias.
Não vim aqui fazer nenhuma crónica sobre o Manuel Rui, até porque em boa verdade vou guardar algumas coisas sobre o seu trabalho literário para ulteriores oportunidades. Sou um rato de papeis, livros e correlativos, e quando entro numa livraria vasculho, e acabo por comprar muito além do que pretendia. Acontece-me invariávelmente isso numa grande livraria, como também pode acontecer num sórdido vão de escada onde um tipo de óculos com lentes garrafais e pieira nos pulmões está sentado num “mocho” atulhado de livros que nem sequer faz ideia do que tem, mas que foram comprados com discussões do preço à medida infinitesimal.
Tenho por isso comprado muita coisa boa, mas raras vezes barata, porque normalmente o tipo alfarrabista, se nos vê muito interessado num livro, é porque tem a certeza que o vou levar.Isto não vem a propósito de quase nada, mas aqui há uns tempos comprei alguns livros de três “amaldiçoados” autores portugueses: Luis Pacheco, Cesariny e Alberto Pimenta. Confesso que recomendo uma leitura “desta gente”, porque tem coisas deliciosas.
Num livro de Alberto Pimenta, “ A repetição do caos” da “&etc.”, vem uma história curiosa que teimo em reproduzir, sobre a gasosa em 1948!!!“1948- o meu pai foi às finanças fazer um requerimento, e como de costume fez questão que eu o acompanhasse. Para “aprender a vida”. Em casa explicou-me minuciosamente a fórmula e o motivo do requerimento. No fim, meteu dentro da folha uma nota de 50 escudos e disse-me:- Esta é a parte mágica da fórmula. Quando tiveres um pedido a fazer, já sabes, o segredo é este.
Passados uns meses enviei a minha primeira declaração de amor e, como 50 escudos era muito para as minhas posses, juntei uma moedinha de 2$50. Nunca tive resposta, decerto foi por ser tão pouco.
Quero também referir que a D. Quixote fez sair uma obra que urge comprar, que é nem mais nem menos que a compilação num volume só, de tudo do Nuno Bragança, onde para além de outros romances surge a incontornável “ A Noite e o Riso”, considerada, largos anos após a morte do poeta, como um dos 100 melhores livros portugueses de sempre. A obra chama-se Nuno Bragança (1929-2009).
Já que estamos a falar de livros, se tiverem arrojo, comprem o “Dicionário do Diabo” , de Ambrose Bierce, editado pela Tinta da China, e que tem as definições exactas para quando certas coisas nos correm mal, e mais tarde verificámos que ainda bem que isso aconteceu.
Dinheiro, neste dicionário:”Uma benção que só se torna vantajosa quando a damos a outra pessoa. Um sinal exterior de cultura e um passaporte para a sociedade elegante. Bem suportável”.
Para que conste, o Manuel Rui nunca me deu nenhum livro, nem nunca me pediu para dizer bem dele, mas que escreve bem, não haja a menor dúvida.
21/02/09
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