terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Quem sabe, cala


"Quem sabe, cala; quem não sabe, fala ..."


(...)


São esta gente do Kabidikisu mudos com voz. Sanzalas de quietos e calados. Mas em elas se ouve sempre, dia e noite, luas de cacimbo e sol de chuvas, aquele arruído de vozes, enxame de abelhas de palavras, gargalham, sunguilam, e gritos de diamandas em alta voz, um mosquear de zumbidos nas dixitas da noite. E que suas lavras são animadíssimas - só que nunca que se sente arfo de machado ou gololo de capina colectiva, nem o simples chocalhar da água nas latas cartadas. Ninguém pesca: cacimbas e lagoas secam de tanto cacusso - um bagre, um mussolo, um guingui chega de cada vez, é só esperar o fuafo da água na panela e atirar brugau no ribeirinho: vira peixe.




Luandino Vieira in O livro dos rios



TEXTO SECUNDÁRIO




Pensar e Falar Angola

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