sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Feriado do 4 de Janeiro

Depois comemorarem a quadra festiva, os angolanos gozam hoje mais um feriado nacional, desta feita pelo 47 º aniversário do Massacre da Baixa de Kassanje, a revolta de camponeses que se dedicavam à cultura do algodão.
A 4 de Janeiro de 1961, agricultores da Luso-belga Companhia de Algodão de Angola "Cotonang" foram cruelmente assassinados pelo exército colonial português na Baixa de Kassanje, província de Malanje, por exigirem melhores condições de trabalho, isenção de pagamentos de impostos e abolição do trabalho forçado.
Para muitos, foi a partir daquele momento que se reforçou o sentimento de unidade do povo angolano e se acelerou o processo que culminou com a ascensão à independência nacional, a 11 de Novembro de 1975.
Apesar de revestir-se de grande importância, o protesto de 4 de Janeiro de 1961 foi “a primeira e, paradoxalmente, a mais ignorada das revoltas ocorridas nesse ano crucial para Angola”, segundo a historiadora Aida Freudenthal, do Centro de Estudos Africanos e Asiáticos do Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT).
Num texto apresentado ao V Congresso Luso-Afro-Brasileiro realizado em Setembro de 1998, em Maputo, que consta na Revista Internacional de Estudos Africanos n.º 18 e 22 do IICT, Freudenthal afirma que a revolta na Baixa de Kassanje continua a ser uma das revoltas menos conhecidas da história angolana, embora se afigure como sendo o episódio mais relevante de contestação das condições de trabalho impostas sob o domínio colonial, quer pela sua duração quer pela área geográfica e população envolvidas. “Ao pretender ocultar as origens da revolta, nomeadamente as motivações dos camponeses, as autoridades coloniais esperavam fazer prevalecer a tese de que tudo estava bem em Angola e só os agitadores estrangeiros pretendiam subverter a ordem entre os portugueses do Ultramar", lê-se ainda na obra que pode ser encontrada no Arquivo Histórico Nacional.
Ainda assim, acrescenta a historiadora, em Portugal um jornal clandestino, “O anti-colonial”, classificava, em 1964, a revolta como uma “greve do povo de Kassanje... contra o monopólio de algodão da Cotonang, companhia belga, greve que os colonialistas dominaram com bombas de napalm, matando 10 mil negros e destruindo 17 aldeias”. Citando um outro autor, Aida Freudenthal conta que os primeiros sinais de resistência por parte dos camponeses tiveram lugar em Dezembro de 1960, nomeadamente com a ausência nas lavras de algodão e a recusa de pagamento de impostos. “Os camponeses, após a adesão aos preceitos de Maria, através de ritos iniciáticos, passaram a desafiar abertamente as autoridades e os agentes da Cotonang, convictos de que eram imunes às balas dos brancos”, conta.
Segundo o historiador angolano Sehululo Alberto, o massacre da Baixa de Kassanje contribuiu para o reforço da consciência de todos aqueles que naquela altura lutavam pela conquista da soberania e motivou uma maior coesão dos grupos existentes.
A revolta permitiu ainda a criação das bases para a reorganização e coordenação de uma ampla frente de resistência. Durante a revolta “os camponeses queimaram as sementes, abandonaram as enxadas, destruíram as cadernetas dos nativos, ao mesmo tempo que gritavam independência total e imediata”. Segundo o historiador Sehululo Alberto, a data deve ser comemorada com profundo respeito e reconhecimento por todos os compatriotas que, por amor à pátria, sacrificaram as suas vidas.




in Jornal de Angola




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1 comentário:

Anónimo disse...

Grande Historiador, Sr. Sehululo.