terça-feira, 26 de junho de 2007

Educação e Cidadania


É hoje relativamente pacífico o reconhecimento de que muitos dos ‘pensadores’ e militantes da esquerda dos anos 60 e 70, à medida que foram vendo desvanecer-se os ‘anos da juventude’, e sobretudo que foram ‘confrontados’ com a responsabilidade da ‘governação’, seja da ‘coisa pública’, seja mais prosaicamente das suas vidas pessoais e dos ‘negócios de família’, foram assumindo posições mais consentâneas com o ideário de direita, quiçá mesmo liberal e/ou néo-liberal, reflectindo um pensamento que noutros tempos era verberado como pequeno-burguês, reaccionário e anti-revolucionário.

Claro que se passaram 30/40 anos, o mundo mudou (para melhor ou para pior, depende dos pontos de vista e dos modelos de análise), o Sol que brilhava no Império do Leste e que se dizia que tinha nascido para todos acabou por ‘implodir’ e, hoje em dia, os novos sacerdotes e pitonisas do capitalismo tudo fazem para nos obrigar a aceitar, sem discussão, que a História ‘chegou ao fim’.

Mas se até FUKUYAMA já admite uma nova governação para o século XXI, propondo uma reconstrução dos Estados com base na promoção do conceito de Democracia, faz pouco sentido admitir como inevitável que os povos tenham que se submeter à ‘lei do mais forte’.

Acontece que o conceito e, mais do isso, a prática da democracia, depende em larguíssima medida do nível de educação do povo. Sobretudo quando educação é sinónimo de formação cívica e formação para a cidadania consciente.

Ora, esta ideia de educação para a cidadania, não sendo contraditória com a elevação da formação profissional e da qualificação das pessoas de um ponto de vista da sua ‘capacitação’ para o mercado de trabalho, não pode ser confundida com esta.

As ‘notícias’ que vou lendo sobre a intervenção de muitas empresas estrangeiras no domínio da ‘educação/formação’ em Angola, não me deixa tranquilo quanto à relevância desse ‘investimento’ na educação cidadã dos angolanos. A via que é preconizada pelas organizações internacionais (FMI, Banco Mundial, UE, etc.), no que concerne aos investimentos que devem ser feitos na formação e qualificação, aponta para uma espécie de ‘privatização’ do sistema educativo (de resto, o mesmo é aconselhado para o sistema de saúde).

E no meu modesto ponto de vista, o caminho que está a ser seguido pouco se afasta desse modelo. Mesmo admitindo que o Estado angolano e as suas autoridades têm toda a legitimidade para definir as suas prioridades e respectivas políticas, deixar à iniciativa privada o papel de provedor do serviço educativo, parece-me ser uma via pouco conveniente, direi mesmo perigosa, se o conceito de Democracia é algo que continua a fazer sentido e deve ser defendido como uma das bandeiras do mundo no século XXI.

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