quarta-feira, 13 de junho de 2007

DAVID BERNARDINO

UMA HISTÓRIA DE SOLIDARIEDADE


A sala de entrada do Centro de Saúde estava repleta de crianças e de familiares. Por mais que o aviso e a segurança dissessem que cada criança só devia estar acompanhada apenas por um familiar em muitos casos são duas ou mais pessoas que estão naquela sala a acompanhar a criança. É assim África. "Desorganizada" mas solidária. As crianças choram. A seguir é a sala destinada ao registo e ao peso que também estão apinhadas de gente. As mães abanam-se e abanam os seus filhos por causa do calor e da humidade que se faz sentir naquele dia. Na sala existem duas ventoinhas que giram o que podem e gemem quanto devem para dar um pouco de ar fresco. Uma fila bastante desorganizada e longa é formada em frente do balcão onde se faz o registo das crianças. Hoje o gerador não funciona e tudo tem que ser feito manualmente. O ar fresco, se existe frescura naquele ar, não chega para refrescar aquela gente. Umas, já cansadas, sentam-se no chão. Outras, ainda sem cansaço evidente, falam de tudo e contra todos. Outras ainda preferem esperarem fora, no pátio do centro hospitalar.
Era assim em 1973 no Huambo como é hoje em 2007 em Luanda. O David Bernardino, médico, lutador incansável pelas causas nobres, solidário teve um sonho. Angola devia melhorar a rede de saúde com a criação dos centros de saúde nos bairros, a formação dos hospitais municipais e dos hospitais centrais numa rede considerada bastante importante para se diminuir a mortalidade dos menores de cinco anos. " O que a gente quer é melhorar a qualidade. Se melhorar a qualidade, vamos também melhorar a quantidade", afirmava ele muitas das vezes quando questionado sobre o seu pensamento. Por isso criou o primeiro Centro de Saúde na cidade do Huambo. Mas acabou por morrer, assassinado, sem conseguir realizar o seu sonho. Mas quem com ele trabalhou nunca esqueceu a sua dedicação, o seu empenho, a sua abnegação por uma causa que considerava nobre. Hoje o Hospital Pediátrico de Luanda tem o seu nome, David Bernardino. Mas além das placas nos edifícios, o David será sempre recordado como aquilo que foi, um ser solidário e disponível. Estamos juntos.

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