sábado, 30 de junho de 2007

ANGOLA, descrita - Luanda



Luanda, descrita pela "caneta" de J. Eduardo Agualusa, in "As mulheres do meu pai"


"Se fosse uma ave, Luanda seria uma imensa arara, bêbada de abismo e de azul. Se fosse catástrofe, seria um terramoto: energia insubmissa, estremecendo em uníssono as profundas fundações do mundo. Se fosse uma mulher, seria uma meretriz mulata, de coxas exuberantes, peito farto, já um pouco cansada, dançando nua em pleno Carnaval.
Se fosse uma doença, um aneurisma.
O ruído sufoca a cidade como um cobertor de arame farpado. Ao meio dia o ar rarefeito reverbera. Motores, milhares e milhares de motores de carros, geradores, máquinas convulsas em movimento.Gruas erguendo prédios. Carpideiras carpindo um morto, em longos, lúgubres uivos, num apartamento qualquer de um prédio de luxo. E pancadas, gente que se insulta aos gritos, clamores, latidos, gargalhadas, gemidos, rappers berrando a sua indignação sobre o vasto clamor do caos em chamas."

Pensar e Falar Angola

Resenha Histórica do Lubango



1627 - O capitão-mor de Benguela, Lopo Soares Lasso, inicia a primeira expedição à região planáltica, ;
1764 - A notícia das condições excepcionais das terras e do clima da Huila inspiram ao Governador D. Francisco Inocêncio de Souza Coutinho os primeiros planos de ocupação do sul;
1769- É criada a povoação de Alba Nova, mais tarde passada a denominar-se simplesmente por Huila, para onde seguem o capitão-mor António Rodrigues Algarve e o padre Capuchinho, Gabriel de Braga, em missão pacificadora;
1789 - Nomeação para Alba Nova do capitão-mor António Rodrigues Jardim, após alguns anos de vida sem evolução significativa;
1790 - Nomeação do capitão-mor Francisco Inácio de Mira, em substituição do anterior;
1828 - Nomeação do regente Felício Matos da Conceição;
1837 - Nomeação do alferes João Francisco Garcia, fundador de presídios e fortalezas;
1843 - Luz Soriano, funcionário superior do Ministério do Ultramar, apresenta uma Memória em que se reforçam as ideias de Sousa Coutinho sobre a ocupação do Sul;
1845 - João Francisco Garcia regressa a Alba Nova, onde funda um presídio e lança as bases da colonização do Sul, com o apoio de comerciantes que percorriam o interior;
1850 - O Ministro do Ultramar, Marquês de Sá da Bandeira, cria o Concelho da Huila;
1856 - O mesmo titular da pasta do Ultramar manda distribuir terras aos soldados que desejem permanecer na Huila, além do subsídio de embarque, sementes e alfaias;
1864 - Inicia-se a grande estrada que ligaria Moçâmedes ao planalto, pela região de Capangombe, passando pelo Bruco e Tchivinguiro;
1866 - Por esta estrada, o Padre do Espírito Santo, Carlos Duparquet, sobe a Chela e começa a exploração das terras altas, em missão científica e evangelizadora;
1880 - Os bóeres, que desde 1652 se fixaram na África do Sul, fugindo à guerra entre holandeses e ingleses começaram a instalar-se na Huila, depois de diligências efectuadas entre o Padre Duparquet e o Governo de Lisboa;
1881 - Os bóeres chegam à Humpata a 4 de Janeiro, fixando-se ali com o seu gado e haveres. No mesmo ano, Duparquet regressa duma viagem à Europa, acompanhado pelo padre José Maria Antunes, que funda a missão da Huila, mandando arrotear 2000 hectares de terreno e dirigindo uma exploração agrícola em moldes evoluídos, numa tentativa para influenciar os nativos;
1882 - O Seminário de Luanda é transferido para a Huila, anexo ao qual passa a funcionar um internato para nativos, onde se ministra o ensino oficial. No mesmo ano, Duparquet funda a missão do Humbe;
1883 - A 17 de Janeiro, a Humpata ascende à categoria de concelho, com uma Comissão Municipal formada por bóeres, sendo administrador o alferes Artur de Paiva, o qual vem a casar com a filha do chefe da colónia bóer, o comandante Jacobus Botha;
1884 - A 19 de Novembro, chegam a Moçâmedes os primeiros Madeirenses que se destinavam à colonização do planalto, num total de 222 pessoas, entre homens, mulheres e crianças;
1885 - A 16 de Janeiro, chega ao vale do Lubango, num local conhecido por Barracões, a segunda leva de madeirenses, sendo a 19 do mesmo mês fundada oficialmente a colónia de Sá da Bandeira, em homenagem ao Marquês com o mesmo nome, que chefiava o Ministério do Ultramar, ficando a ser dirigida pelo condutor de Obras Públicas, D. José da Câmara Leme. No mesmo ano, chega ao planalto a segunda colónia madeirense, num total de 336 pessoas, 42 das quais se deslocam para as margens do rio Chimpumpunhime, fundando a povoação de São Pedro da Chibia, a 16 de Setembro;
1887 - É construída a residência da Administração da colónia de Sá da Bandeira, sendo a mesma ocupada por Câmara Leme.
1889 - Dado o desenvolvimento desta zona, cria-se o Concelho do Lubango, cujo nome provém de um antigo soba "Kaluvangu" que vivia na região;
1890 - Instala-se nas margens do rio Caculuvar, distante oito quilómetros, uma sucursal da Colónia de Sá da Bandeira;
1891 - É fundada a Missão do Jau. É eleita a primeira Câmara do Lubango, sob a presidência de João Gonçalves de Azevedo;
1892 - Fundação da Missão do Tchivinguiro. Artur de Paiva, administrador do Concelho da Humpata é nomeado intendente da colonização branca em todo o planalto;
1894 - Fundação da Missão da Quihita;
1896 - D. José da Câmara Leme é transferido para S. Tomé;
1898 - Funda-se a Missão do Munhino, como prolongamento da Missão-mãe da Huila, onde os padres Bonnefoux e Lecomte vêm a desenvolver uma acção notável;
1900 - O senso deste ano assinala 1.575 habitantes no Lubango, sendo 1.248 da raça branca;
1901 - A 2 de Setembro é criado o Distrito da Huila, sendo o Lubango elevado à condição de Vila, com a denominação de Sá da Bandeira, começando a Humpata a perder a sua importância militar e administrativa;
1906 - Chega a Sá da Bandeira a primeira professora oficial, Dona Irene Betencourt de Medeiros Portela, com ela começando a instalação do ensino oficial, que antes disso estava confiado às Missões;
1908 - O Governador da Huila, capitão João de Almeida, lança as bases do desenvolvimento da futura cidade;
1910 - Ainda durante o governo de João de Almeida realiza-se a primeira Exposição feira Agro-Pecuária da região;
1915 - O General Pereira D'Eça dá como praticamente terminadas as guerras de ocupação do sul;
1918 - Chegada da Esquadrilha Expedicionária de Aviação;
1919 - Funda-se a Escola Primária Superior, a Associação Comercial e Agrícola, a Associação dos Empregados do Comércio e, provavelmente neste ano, aparece o primeiro jornal, de natureza panfletária, O CLARIM, de Joaquim de Figueiredo;
1923 - Sá da Bandeira é elevada a cidade no dia 31 de Maio, por proclamação do Alto Comissário da República, General Norton de Matos, que teve lugar na residência do Governo Geral, na Humpata, Neste mesmo ano, chega a Sá da Bandeira o caminho de ferro de Moçâmedes;
1929 - A Escola Primária Superior, com ensino até o terceiro ano, dá lugar ao Liceu Diogo Cão. Sá da Bandeira tinha nessa data uma população estudantil da ordem de meio milhar. Funda-se o jornal "Notícias da Huila" sob a direcção de Venâncio Guimarães, sendo chefe de redacção o jornalista Filipe Coelho;
1932 - O Padre Carlos Estermann , que se viria a notabilizar como etnógrafo, assume a direcção das Missões;
1935 - Em função do desenvolvimento de Sá da Bandeira, surge o Vicariato Geral da Chela, sob a direcção do Padre Carlos Estermann. Neste mesmo ano a Huila ascende a Província, sendo a quinta da nova divisão administrativa de Angola;
1937 - O Liceu Diogo Cão passa a ministrar o 7º ano, tendo 150 alunos, e é fundado o colégio das Doroteias, "Paula Frassinetti". Cria-se o AeroClube da Huila;
1939 - É fundado o Rádio Clube da Huila;
1942 - É lançada a primeira pedra da Escola Agrícola do Tchivinguiro;
1949 - O Caminho de ferro, em dircção ao sul, atinge a Chibia, em traçado de bitola estreita;
1953 - O Caminho de ferro, prosseguindo da Chibia, atinge o Chiange; Chegam à Matala os primeiros colonos, no seguimento de um programa de colonização do Inspector Superior, Engenheiro Trigo de Morais, programa que começara com a construção da barragem hidroelétrica sobre o Cunene. Começa a publicar-se o "Jornal da Huila", sob a direcção do Comandante de Marinha, Venâncio Guimarães Sobrinho;
1954 - O ensino local é valorizado com a abertura da Escola Industrial e Comercial e um curso de Professores, que se propunha ser o embrião de futura Escola de Magistério Primário;
1955 - O Caminho de Ferro, em direcção ao leste, atinge a Matala. Funda-se a Corporação dos Bombeiros Voluntários de Sá da Bandeira;
1956 - Chega a Sá da Bandeira o seu primeiro bispo, D. Altino Ribeiro de Santana;
1957 - A Escola do Tchivinguiro , em funcionamento deste os primeiros anos da década anterior, ascende à categoria de Escola de Regentes Agrícolas;
1959 - Inicia-se em Sá da Bandeira o primeiro movimento pró-Universidade de Angola. A cidade conta por esta altura cerca de 30.000 habitantes;
1961 - É criado o Instituto Comercial;
1962 - O Governador Geral de Angola, Venâncio Deslandes, anuncia a criação dos Estudos Gerais Universitários, em bases que vêm a ser julgadas inconstitucionais pelo Governo de Lisboa;
1963 - São efectivamente criados os Estudos Gerais Universitários, em Luanda, com delegações em Sá da Bandeira e Nova Lisboa. Cria-se no mesmo ano a Escola do Magistério Primário. Funda-se a Editorial Imbondeiro, sob a direcção de Garibaldino de Andrade e Leonel Cosme, que constitui a primeiro movimento editorial angolano. A Câmara Municipal realiza o I° Encontro dos Escritores de Angola.
1966 - Começam a funcionar os Cursos dos 8º e 11º grupos e as Pedagógicas, na Delegação dos Estudos Gerais Universitários:
1968 - Começa a funcionar, na DEGU, o curso de Ciências Matemáticas.
1969 - Extinguem-se os cursos de preparação de professores e criam-se os bacharelatos de Românicas, História, Geográficas, Pedagógicas e Matemáticas. É criada a Escola do Ciclo Preparatório "Marquês de Sá da Bandeira", logo frequentada por cerca de 1.000 alunos.
1970 - O senso deste ano dava à cidade e arredores cerca de 50.000 pessoas e 85.000 no concelho do Lubango.
1973 - Sá da Bandeira festeja o cinquentenário de sua elevação a Cidade, contando, com as áreas circunvizinhas, cerca de 60.000 habitantes, 6.560 alunos do ensino primário na área do concelho, cerca de 4.000 no ensino secundário, meio milhar no ensino médio e outro tanto no ensino superior. Para assinalar a efeméride a Câmara Municipal realiza o Festival Internacional de Música, com a presença de artistas de várias partes do mundo, sob a direcção do pianista Sequeira Costa, e constrói o Monumento ao Marquês de Sá da Bandeira.




Pensar e Falar Angola

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Por isto vale a pena

Caros amigos:
Visito frequentemente o vosso blog para matar saudades de Angola. Sou português e trabalhei em MBanza-Kongo durante 2 anos, de 2003 a 2005. Infelizmente a operação encerrou e estou desde então de volta à Tugalândia. Ontem foi um dia muito triste para mim.
Quando soube da notícia da queda do avião fiquei imediatamente preocupado porque, conhecendo muito bem o local, imaginei logo uma tragédia de grandes dimensões, que envolveria, por certo, a população, além dos ocupantes do aparelho. A tristeza transformou-se em choque profundo quando vejo o nome do Sr. Paciência e do Padre George como vítimas mortais. O sr. Paciência, actual administrador da cidade e chefe de gabinete do governador aquando da minha estadia lá, era uma pessoa extraordinária, com quem tive a honra de privar e de estabelecer laços de profunda amizade. Tinha visita programada para Setembro a Portugal, no exercício de funções, e já eu nos imaginava à volta de uma muamba e sei lá que mais, a matar saudades. Infelizmente não será em Lisboa, nem em Mbanza, nem Luanda mas será noutro sítio qualquer.
Desculpem se me alonguei mas a razão deste mail é solicitar-vos, caso esteja ao vosso alcance, fotografias do sucedido, para que possa ter uma ideia do sucedido e da zona afectada. Asseguro que não se trata de qualquer interesse mórbido. Gostaria apenas de perceber com a clareza que não me é possível com a pouca informação dísponível. Grato pela atenção dispensada,
JAP.

(Autor identificado por e-mail e autorizando a sua publicação)
Pensar e Falar Angola

Fotos da Tragédia







As fotos da tragédia



Pensar e Falar Angola

GALINHA D'ANGOLA

A galinha-d'angola (Numida meleagris) é uma ave originária de África mais concretamente da África Ocidental - Angola.

A mais comum é a pedrês - cinza com bolinhas brancas.

Com cerca de três meses, o macho já apresenta uma crista pronunciada para a frente, como um chifre; na fémea, essa crista é mais arredondada.
Algumas apresentam ornamentos depenas alongadas no peito. A espora está presente nos machos adultos. Possuem bicos curtos e fortes, próprios para ciscar.

As aves ficam nervosas facilmente, sendo extremamente agitadas e barulhentas. São aves de bando: vivem em bandos, locomovem-se em bandos e precisam do bando para se reproduzir, pois só assim sentem estímulo para o acasalamento. E, como grupo, são organizadas. Cada um tem o seu líder, o que é fácil de constatar no momento em que se alimentam: o líder vigia enquanto seus companheiros comem, e só depois de verificar que está tudo em ordem é que começa a comer.

São aves rústicas e fáceis de criar, exceto num ponto: deixadas soltas, escondem os ninhos com o requinte de colocar os ovos em camadas e ainda cobertos por palha ou outro material disponível.

As galinhas d'Angola não são boas mães, fazem posturas conjuntas, ninhadas de até 40 ovos, dispostos em camadas, desta forma somente os ovos de cima recebem o calor da ave e descascam. São inquietas, arrastam os pintos para a humidade, podendo comprometer a sobrevivência dos pintos. Em criações em cativeiro é recomendável recolher os ovos e colocá-los em incubadoras ou serem chocados por uma galinha.

No acasalamento, a iniciativa é da fémea. O período de Abril a Agosto (intervalo de postura) é aquele em que as aves estão mais sociais, vivendo em grandes grupos, e no qual trocam as penas. No final dessa fase, vão escolhendo seus pares (duas fémeas para um macho), depois ocorrem os acasalamentos. O período principal de postura vai de Setembro a Março com uma média de setenta a oitenta ovos por cada fémea.

A sua carne tem consistência firme e é muito saborosa, sendo comparada à do faisão. Na culinária francesa é a famosa "pintade", ingrediente de pratos sofisticados. Também colabora para o equilíbrio biológico, pois devora lagartas, formigas e carrapatos.


Adaptado especialmente de wikipédia

quinta-feira, 28 de junho de 2007

KURIKUTELAS

Muitas estórias havia para escrever sobre os heróis desta época (1973/74) em que os Kurikutelas do Huambo foram protagonistas. Esta foi e é a minha equipa do coração. Mas hoje só me apetece prestar homenagem aos campeões de Angola em futebol desse ano fantástico que foi 1974. As estórias ficam para depois.

Pensar e Falar Angola

Teta Lando cantou o futuro!

Por estes dias, cruzei-me com um candongueiro com a música altíssima, que foi impossível ignorar a keta.
...
Luanda já foste linda
Mas tenho esperança ainda
...

Marginal de Luanda


Rua Eça de Queiroz no bairro Alvalade


O que restou do Baleizão na parte baixa da cidade


Bairro Operário


Bairro dos Coqueiros

Luanda - Cidade com História (3)



Os principais produtos por aqui exportados são: café (45%), algodão (89%), couros (23%), arroz (21%), óleo de palma e cera (18%).
A cidade é testa de um caminho-de-ferro que se estende para o interior até Malange, e que possui 479 quilómetros de linha – o Caminho-de-ferro de Luanda, incluindo o ramal de Zenza do Itombe ao Dondo, de 55 quilómetros; a ele couberam, em 1936, 120 782 toneladas, ou sejam 25% da tonelagem de mercadorias transportadas em todos os caminhos-de-ferro da Colónia, trazendo café da região de Cazengo (cerca de 1 300 contos) e fuba, milho e sisal do planalto de Malange (valores respectivamente de Ags. 442.473,00. 436.566,50 e 253.463,00).
Texto extraído do Roteiro da Cidade de S. Paulo de Luanda (edição da Imprensa Nacional – 1939)
Desde a época referida no texto anterior, Luanda foi conhecendo um crescimento regular, atingindo nos finais da década de 50 cerca de 300 mil habitantes, na área urbana. Mas, a grande explosão de crescimento urbana verificou-se a partir do início da década de 60. Em pouco mais de dez anos, a urbe expandiu-se de forma notável, atingindo cerca de 800 mil habitantes e assumindo-se autenticamente como capital do novo país que já se desenhava num horizonte próximo.
A esse grande crescimento da área urbanizada, seguiu-se um período de estagnação, nos anos que se seguiram à independência. No entanto, neste mesmo período, a área não urbanizada da capital angolana cresceu para mais do triplo da dimensão de 1974. Actualmente, a população total de Luanda deverá rondar os 4 milhões de habitantes.
Assim, começam a registar-se os grandes problemas que Luanda tem, com a área urbana a sofrer agressões de toda a natureza. A área urbana, dimensionada para uma população de cerca de 800 mil habitantes está hoje tremendamente sobrecarregada.
Estas perspectivas começam agora a mudar. Os responsáveis do Governo da Província começam a procurar ordenar a área urbana, ao mesmo tempo que são delimitados novos espaço de expansão da cidade. Como o Projecto Luanda Sul. Por outro lado, começa-se também a executar uma nova política habitacional que, a médio prazo, resultará em benefícios visíveis para a capital.
Recuperam-se arruamentos e jardins. Há novas formas de recolha de resíduos sólidos com resultados visíveis.

retirado de: página oficial do Governo Provincial de Luanda

Pensar e Falar Angola

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Fotos antigas, hoje documentos

Lavadeira e Praia do Bispo, Luanda (Agosto 1900)
Palmeira e grupo de lavadeiras (Agosto 1905)

Pensar e Falar Angola

Poemas que eu escrevi na areia


I

Meu bergantim, onde vens,
que te não posso avistar?
Bergantim! Meu bergantim!
Quero partir, rumo ao mar...
Tenho pressa! Tenho pressa!
Já vejo abutres voando
além, por cima de mim...
Tenho medo... Tenho medo
de não me chegar ao fim.
Meus braços estão torcidos.
Minha boca foi rasgada.
Mas os olhos, estão bem vivos,
e esperam, presos ao Céu...
Que haverá p'ra além da noite?
p'ra além da noite de breu?
Ah! Bergantim, como tardas...
Não vês meu corpo jazendo
na praia, do mar esquecido?...
Esse mar que eu quis viver,
e sacudir e beijar,
sem ondas mansas, cobrindo-o...
Quem dera viesses já...
que vai ficando bem tarde!
E eu não me quero acabar,
sem ver o que há para além
deste grande, imenso céu
e desta noite de breu...
Não quero morrer serena
em cada hora que passa
sem conseguir avistar-te...
Com meu olhar enxergando
apenas a noite escura,
e as aves negras, voando...

II

Meu bergantim foi-se ao mar...
Foi-se ao mar e não voltou,
que numa praia distante,
meu bergantim se afundou...
Meu bergantim foi-se ao mar!
levava beijos nas velas,
e nas arcas, ilusões,
que só a mim me ofereci...
Levava à popa, esculpido,
o perfil, leve e discreto,
daqueles que um dia perdi.
Levava mastros pintados,
bandeiras de todo o mundo,
e soldadinhos de chumbo
na coberta, perfilados.
Foi-se ao mar meu bergantim,
Foi-se ao mar... nunca voltou!
.........................
E por sete luas cheias
No areal se chorou...


Alda Lara






Luanda - Cidade com História (2)

Desenvolvem-se novos projectos em praticamente todas as áreas de acção dos municípios. Pensa-se na organização de uma área metropolitana para administrar a Grande Luanda.

A capital angolana, dentro de poucos anos, será uma nova cidade, recuperando grande parte do esplendor que já teve um dia…
A Província de Luanda é o espaço económico mais importante de Angola porque aqui se localiza todo o centro de decisão do país e porque o seu parque industrial é, sem dúvida alguma e, apesar dos inúmeros problemas que atravessa, o de maior dimensão e importância.

Região que enfrenta presentemente grande transformações, não deixa de ser uma das que maiores potencialidades tem, a nível mundial, nos dias de hoje, para todo o tipo de investimento. A legislação em vigor dá todas as facilidades ao investidor estrangeiro, garantindo o repatriamento de capitais, seguros de investimento e outras garantias. Para um investidor atento, há imensas oportunidades, nos mais variados sectores de actividade.
Pensar e Falar Angola

ÁLVARO CARDOSO


Álvaro Cardoso (1961 - )

terça-feira, 26 de junho de 2007

Educação e Cidadania


É hoje relativamente pacífico o reconhecimento de que muitos dos ‘pensadores’ e militantes da esquerda dos anos 60 e 70, à medida que foram vendo desvanecer-se os ‘anos da juventude’, e sobretudo que foram ‘confrontados’ com a responsabilidade da ‘governação’, seja da ‘coisa pública’, seja mais prosaicamente das suas vidas pessoais e dos ‘negócios de família’, foram assumindo posições mais consentâneas com o ideário de direita, quiçá mesmo liberal e/ou néo-liberal, reflectindo um pensamento que noutros tempos era verberado como pequeno-burguês, reaccionário e anti-revolucionário.

Claro que se passaram 30/40 anos, o mundo mudou (para melhor ou para pior, depende dos pontos de vista e dos modelos de análise), o Sol que brilhava no Império do Leste e que se dizia que tinha nascido para todos acabou por ‘implodir’ e, hoje em dia, os novos sacerdotes e pitonisas do capitalismo tudo fazem para nos obrigar a aceitar, sem discussão, que a História ‘chegou ao fim’.

Mas se até FUKUYAMA já admite uma nova governação para o século XXI, propondo uma reconstrução dos Estados com base na promoção do conceito de Democracia, faz pouco sentido admitir como inevitável que os povos tenham que se submeter à ‘lei do mais forte’.

Acontece que o conceito e, mais do isso, a prática da democracia, depende em larguíssima medida do nível de educação do povo. Sobretudo quando educação é sinónimo de formação cívica e formação para a cidadania consciente.

Ora, esta ideia de educação para a cidadania, não sendo contraditória com a elevação da formação profissional e da qualificação das pessoas de um ponto de vista da sua ‘capacitação’ para o mercado de trabalho, não pode ser confundida com esta.

As ‘notícias’ que vou lendo sobre a intervenção de muitas empresas estrangeiras no domínio da ‘educação/formação’ em Angola, não me deixa tranquilo quanto à relevância desse ‘investimento’ na educação cidadã dos angolanos. A via que é preconizada pelas organizações internacionais (FMI, Banco Mundial, UE, etc.), no que concerne aos investimentos que devem ser feitos na formação e qualificação, aponta para uma espécie de ‘privatização’ do sistema educativo (de resto, o mesmo é aconselhado para o sistema de saúde).

E no meu modesto ponto de vista, o caminho que está a ser seguido pouco se afasta desse modelo. Mesmo admitindo que o Estado angolano e as suas autoridades têm toda a legitimidade para definir as suas prioridades e respectivas políticas, deixar à iniciativa privada o papel de provedor do serviço educativo, parece-me ser uma via pouco conveniente, direi mesmo perigosa, se o conceito de Democracia é algo que continua a fazer sentido e deve ser defendido como uma das bandeiras do mundo no século XXI.

QUANDO DORMIU EU LHE CORTEI

Confesso que sou adepto da tradição oral e que reconheço nesta forma de comunicação. Uma forma de fazer parte da história dos povos. Mesmo aquelas estórias que possam provocar algum rubor facial em quem as ouve ou que possuem gindungo demasiado para algumas mentes mais moralistas. Esta que vos vou contar não sei se foi baseada no filme japonês Império dos Sentidos mas tenho a certeza que se passou na nossa Luanda. Acabou de chegar e foi-me contada por quem trabalha comigo e passou algum tempo na banda a recarregar baterias. Que me desculpem os mais puristas. Vamos a isto.

Existe um programa na Rádio Nacional de Angola onde os caluandas colocam as suas inquietações e vão procurar milongos para o corpo e para a alma. Um dia destes soube-se que uma senhora tinha sido presa por homicídio voluntário. Acabara de assassinar o marido com quem vivia há já algum tempo. Tinham passado muitas coisas juntos, tristezas e alegrias, misérias e fortuna. O pobre homem, jovem ainda, tinha morrido sem pinta de sangue por a cinéfila senhora lhe ter amputado o pénis. Perante as câmaras para toda a capital saber o porquê de tal acto, pergunta o jornalista:
- Então minha senhora, qual a razão que a levou a matar desta forma o seu marido?
- Bem, veja só, um desses dias meu marido me chegou em casa, eu estava deitada, cansada do trabalho lá no mercado, e ele quis-me dormir no cu. Eu lhe disse que não gosto dessas coisas. Mas ele me dormiu no cu, me dormiu no cu, me dormiu no cu três vezes e quando dormiu eu lhe cortei!

É assim a nossa Terra, cheia de estórias de gente simples e sem sombra de pecado e que nem sequer devem saber quem é Nagisa Oshima.

Pensar e Falar Angola

segunda-feira, 25 de junho de 2007

SELOS 1998


Pensar e Falar Angola

AUTO-CRÍTICA

Há sorrisos que só são belos porque são do Sul. E no Sul não há pecado porque fica abaixo do Equador. E os sorrisos são mais solidários e mais belos. O encontro com o Luandino é daquelas coisas que só acontecem porque todos somos do Sul e amamos a nossa Terra. E como foi lindo ouvir algumas estórias (o Mia Couto que me perdoe mas também gosto desta palavra sem h! É mais sonora e menos aspirada) contadas por quem sabe, estórias de um tempo que todos vivemos. Lá na banda ou cá pela Europa. Mesmo que sentados no sofá à espera que outros as vivessem por nós. Contava Luandino (mil perdões se não sei contar como tu meu caro escritor):

- Naqueles tempos, nada fáceis por sinal, vivia-se em Luanda com desconfianças. De tudo e de todos! E nos descuidos da noite, ou mesmo do dia, a casa podia ser aliviada do pouco que havia. Se o intruso era apanhado lá no alto, mesmo no 15º andar, tinha que ter asas, como o Red Bull, senão se esborrachava lá bem no fundo, no pouco alcatrão que havia nas ruas da Lua. Sentença lida, pena executada!
Poucos quetionavam a forma rápida desta justiça popular e muitas das vezes até televisão tinha para cobrir o acontecimento. E foi o que aconteceu naquela tarde em que o culpado, bem no meio da rua, tinha vindo pelas escadas abaixo (sofreu redução de pena após recurso de alguns moradores do prédio), parecia bola de futebol tanto pontapé e bolachada tinha levado. Até o negro da sua pele estava mais lustrado apesar de um pouco curtida como pele de vaca preparada para fazer sapato. Não havia cirurgião plástico lá para os lados do Josina Machel/Maria Pia que fizesse tão bom trabalho. O camarada ladrão sangrava por tudo o que tinha por onde sangrar, os olhos pareciam de boxeur quase em kO, fechados como persianas de vizinho que não queria saber de nada, suor saía de todos os poros da pele e outros líquidos saíam de outros poros e de outras peles. O caluanda, devia ser do Sul para ser ladrão diziam alguns, nem sonhava que tinha direito a TPA. Ali mesmo à sua frente a jornalista, lhe parecia muito bonita por entre o nevoeiro e a chuvinha miudinha que havia no seu rosto, lhe perguntava mesmo o que tinha acontecido e se concordava com a pena. Discurso do madiê:
- Porra, tá tudo certo! Mesmo aí fui caçado a roubar. Tá certo que errei! Mas puxa, vieram aí os camaradas e começaram logo a descarregar sem perguntar nada. Foi só porrada, socos nas fuças, pontapés em todo o lugar, e aí fiquei nesse estado. Mas vê só camarada jornalista, não tá certo, mesmo com a razão esses camaradas deviam se esperar para eu poder fazer auto-crítica!

Assim mesmo! Na nossa Luanda lá nos anos 70 e muitos. Espero que um dia o José Luandino Vieira nos escreva mais belas estórias dessa nossa Luuanda que nos orgulha e nos faz ter orgulho de sermos angolanos. Estamos juntos!

Pensar e Falar Angola

Educar e Formar para Fixar


Pensar e falar seja de que país for, tem que ser pensar e falar das e nas pessoas.
No mundo globalizado em que vivemos, não podemos olhar para nenhum país sem olhar, entender e pensar nas gentes que são os cidadãos do mundo (se pensarmos global), ou os cidadãos de cada país (quando o nosso olhar é mais local).
O convite que me foi feito para 'colaborar' neste espaço, só me faz sentido se aqui puder trazer algumas reflexões/preocupações, que podendo servir para 'pensar Angola', são antes de mais nada uma maneira de 'pensar as pessoas' e os respectivos direitos de cidadania.
E desculpar-me-ão aqueles que se derem ao trabalho de ler os meus 'arremedos' de prosa, mas não consigo despir a camisola de profissional do ensino, pelo que o parco contributo que poderei trazer irá situar-se nesse campo específico.
Até porque, do meu ponto de vista, a educação e a formação, ou dito de uma forma mais 'angolesa', a capacitação das pessoas, é a chave para o sucesso do país que, apesar de todos os 'pesares' continua a ser o elo que nos une.
Angola, como de resto o continente africano, é sem dúvida um elo muito frágil nas relações internacionais neste tempo de globalização económica. Até mesmo quando lemos relatórios das instituições que vão justificando a hegemonia dos países centrais (o tão falado Norte), como é o caso do FMI e do seu instrumento financeiro - Banco Mundial -, podemos verificar que a África quase não existe.
Nas últimas décadas houve algum 'empenhamento' e preocupação dessas instituições em relação aos continentes asiático e sul-americano. Provavelmente, tal facto ficou a dever-se ao facto de esses continentes serem extremamente populosos, o que de um ponto de vista económico apresenta duas vantagens: constituem enormes mercados onde é possível 'vender muito', ao mesmo tempo que providenciam enormes contingentes de mão-de-obra, suficientemente barata, para proporcionarem lucros astronómicos aos capitais da 'tríade' EUA/Japão/Europa.
Já no que a África diz respeito, a grave situação demográfica (com densidades populacionais muito baixas), a que acresce uma situação sanitária bastante grave, que se traduz em esperanças de vida muito baixas, leva a um quase abandono e/ou esquecimento deste continente.
Angola, tal como muitos outros países africanos, não pode continuar a ser o que foi ao longo de cinco séculos: um enorme armazém de matérias primas para os países desenvolvidos. E a única forma de alterar as relações entre Angola e o mundo globalizado em que vivemos é através da aposta na formação e na qualificação das suas gentes. Para que em vez de vender a sua riqueza ao estrangeiro seja possível criar e transformar no interior essa riqueza, arrecadando as mais valias que hoje servem para enriquecer os novos 'senhores coloniais', os quais, usando de formas mais subtis e sofisticadas, sabem insinuar-se junto das autoridades e dessa forma subtrair ao povo angolano a riqueza a que tem direito.
E a prazo ser possível evitar a contínua sangria de quadros, ou dito de uma forma mais prosaica e terra a terra, para que Angola, tal como o resto do continente, possa ter condições de fixar e fazer crescer as populações, criando a massa crítica imprescindível ao desenvolvimento económico.

Angola - Futuro (I)

Luanda Medical Center






Muila Hotel a ser construído no Lubango
desenhos enviados por C. Freire, autor do esquiço e projecto da Arqta. Ana Ramos

domingo, 24 de junho de 2007

NAMORO

Namoro


Poema - Viriato da Cruz


Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com letra bonita eu disse ela tinha
um sorrir luminoso tão quente e gaiato
como o sol de Novembro brincando
de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas


Sua pele macia - era sumaúma...
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
sua pele macia guardava as doçuras do corpo rijo
tão rijo e tão doce - como o maboque...
Seus seios, laranjas - laranjas do Loje
seus dentes... - marfim...
Mandei-lhe essa carta
e ela disse que não.


Mandei-lhe um cartão
que o amigo Maninho tipografou:
"Por ti sofre o meu coração"
Num canto - SIM,
noutro canto - NÃO
E ela o canto do NÃO dobrou


Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo, rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigenia,
me desse a ventura do seu namoro...
E ela disse que não.


Levei á Avo Chica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu...
E o feitiço falhou.


Esperei-a de tarde, á porta da fabrica,
ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
paguei-lhe doces na calçada da Missão,
ficamos num banco do largo da Estátua,
afaguei-lhe as mãos...
falei-lhe de amor...
e ela disse que não.


Andei barbudo, sujo e descalço,
como um mona-ngamba.
Procuraram por mim
"-Não viu...(ai, não viu...?) não viu Benjamim?"
E perdido me deram no morro da Samba.

Para me distrair
levaram-me ao baile do Sô Januario
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso
as moças mais lindas do Bairro Operário.

Tocaram uma rumba - dancei com ela
e num passo maluco voamos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: "Aí Benjamim !"
Olhei-a nos olhos - sorriu para mim
pedi-lhe um beijo - e ela disse que sim.

Namoro de Memória


Rui Mingas - "Namoro" (Poema - Viriato da Cruz)
Memória - 2006

Pensar e Ouvir Angola

MEMÓRIA

Rui Mingas quebra silêncio com disco «Memória» Imprimir E-mail
Fonte: Angola Press - Editado por AD

O músico Rui Mingas fez o lançamento do seu mais recente álbum "Memória" na Associação Chá de Caxinde, em Luanda.

Gravado em Angola (Estúdio Maianga) e Brasil (Estúdio Copacabana), os acabamentos do disco foram feitos em Portugal (Cervante Estúdio), onde se procedeu à captação, gravação, edição, mistura e masterização.

Com uma diversidade rítmica, onde o destaque recai para o semba, Rui Mingas conta com os préstimos de Katila Mingas, Carlos Mingas e André Mingas, no coro das canções, dezassete no total.

Neste disco, o autor musicou poemas de escritores angolanos, como "Meu Amor" e "Meninos do Huambo" de Manuel Rui Monteiro, "Mokezu" e "Namoro" de Viriato da Cruz, "Adeus à hora da largada" e "A Kitandeira" de Agostinho Neto, "Benguela" e "Pé de Maracuja" de Ernesto Lara Filho.
Incluiu ainda novas versões das músicas "Muxima" e "Birin Birin", ambas de Carlos "Liceu" Vieira Dias, e "Meninos de Rua" de Filipe Zau.
O instrumental esteve a cargo, entre outros, de Joãozinho Morgado (gongas), Betinho Feijó (guitarra ritmo), Rui Quaresma e André Mingas (violão), Mias (viola baixo), Fabiano Salek e Naife Simões (percussão).

A viver em Lisboa, Portugal, como estudante e praticante de atletismo no Benfica, Rui Mingas começou a distinguir-se nos anos 1960 e 1970, sendo na altura considerado cantor oficial da Casa dos Estudantes do Império.

Embora não tenha feito da música profissão, gravou dois álbuns e vários singles entre 1969 e 1974. "Naquela roça grande não tem chuva" e "Monangamba", poema de António Jacinto, foram dois dos temas que o consagraram na altura.

Pensar e Falar Angola

SONS DA FALA

Sons da Fala é um projecto em que participam 17 músicos, alguns não pertencentes ao grupo que concretiza os espectáculos. Entre eles contam-se um percussionista brasileiro e um guitarrista guineense. Nas vozes solistas existe também uma convidada muito especial - Nancy Vieira que, eventualmente, poderá no futuro ser integrada no projecto e no espectáculo.
O disco conta com trocas de repertório e parcerias vocais, com destaque para a canção “Menina estás à Janela” com André Cabaço, Vitorino e Janita Salomé ou o “Namoro” com Sérgio Godinho e Filipe Mukenga.

Cantores:

Sérgio Godinho (Portugal)
Vitorino (Portugal)
Janita Salomé (Portugal)
Tito Paris (Cabo Verde)
Nancy Vieira (Cabo Verde)
Filipe Mukenga (Angola)
Juca (São Tomé e Príncipe)
Guto Pires (Guiné Bissau)
André Cabaço (Moçambique)
Madeira Júnior (Brasil)

Os quatro primeiros não precisam de apresentações em Portugal.
Sobre os outros, que são personalidades importantes nos seus próprios países e no espaço lusófono (com excepção do representante brasileiro), pode-se sucintamente referir o seguinte:

Nancy Vieira:
Grande interprete caboverdeana que tem passo a passo consolidado inteligentemente a sua carreira em Portugal e no resto da Europa. Considerada por muitos como a sucessora de Cesária Évora.

Filipe Mukenga:
Um histórico da música angolana. É um dos artistas angolanos e lusófonos mais reconhecido no Brasil. Muitos intérpretes brasileiros já gravaram e interpretaram ao vivo canções da sua autoria. Entre eles contam-se, por exemplo, Djavan e Gilberto Gil.

Juca:
O artista mais importante de São Tomé e Príncipe. A sua música é reconhecidamente um dos maiores expoentes da música de dança africana de expressão portuguesa, com passagem obrigatória nas discotecas de Luanda, Maputo, Cabo-Verde, Portugal etc.

Guto Pires:
Cantor e compositor principal do grupo guineense Issábary, iniciou à alguns anos a sua carreira a solo. Baseado nas sonoridades tradicionais da Guiné-Bissau soube introduzir com êxito influências contemporâneas e universais na sua música.

André Cabaço:
O representante moçambicano neste projecto tem grandes capacidades vocais e de interpretação. A sua carreira tem seguido vários caminhos, sendo a sua música influenciada pelas tradições corais de Moçambique e da África do Sul ou no outro extremo, pela música electrónica.

Madeira Júnior:
Cantor e compositor brasileiro radicado em Portugal à alguns anos com dois discos editados.

Pensar e Falar Angola

Luanda - Cidade com História (1)

Foi em 1575, quase um século depois de Diogo Cão ter descoberto e assinalado com os seus padrões toda a costa de Angola (1482-1486), que Paulo Dias de Novais, primeiro Governador e capitão-mor das Conquistas do Reino de Angola, desembarcou na Ilha de Luanda, com cerca de 700 pessoas, 350 das quais homens de armas, padres, mercadores e servidores estabelecendo o primeiro núcleo de portugueses.

Aqui, encontrou, além de alguns compatriotas, muita gente que nela vivia, toda, no dizer dos cronistas, “muito bem disposta ao cristianismo”.

Um ano depois, 1576, reconhecendo não ser “o lugar acomodado para capital da conquista”, funda em terra firme a vila de São Paulo de Loanda, e logo a igreja de S. Sebastião, no Morro de S. Miguel.

À volta da Igreja, a vila foi crescendo, tomando foros da cidade em 1605, no governo de Manuel Cerveira Pereira.

A câmara de Luanda deve ter tido início nessa altura em que a vila se estabelece em terra firme. Não há documentos precisos da sua fundação, mas sabe-se que Paulo Dias de Novais logo “criou os cargos e oficiais necessários ao governo da nova Colónia”. Em algumas descrições se assinala a sua presença em actos solenes desde 1595. E em 1611 é já a Câmara que, com o bispo e nobreza, elege o novo governador Banha Cardoso, por morte repentina do antecessor.

Por várias vezes, de 1667 a 1704, teve o Senado da Câmara intervenção directa na governação da Colónia. Depois é criado o lugar de “Mestre de Campo” para substituir os governadores.

As primeiras perturbações causadas pelas investidas holandesas têm lugar em 1624. Em 1633 armam-se em Luanda 5 navios de guerra para combater as suas naus que, na costa de Benguela, ameaçavam o comércio. Com o aparecimento, na baia, da Grande Armada, sob o comando do almirante Pedro Houtbeen, em 24 de Agosto de 1641, o povo e o governo, alarmados, abandonaram precipitadamente a cidade para se acolherem ao presídio e vila de Massangano.

Salvador Correia de Sá e Benevides, que ao serviço de Portugal vinha realizando no Brasil uma obra notável de governação, depois de valorosos feitos militares, em terra e mar, é encarregado pelo rei D. João IV, de promover a restauração de Angola, caída em poder dos holandeses.

Acompanhado de 1 200 homens de armas e uma frota de 12 navios, fez-se ao mar em 12 de Maio de 1648, fundeando em 12 de Agosto na baía de Quicombo. A inclemência do mar faz perder a nau almirante e os 300 homens que continha, levantando-se “uma tormenta de marés tão fortes, coisa não vista por outros navegantes naquela paragem” (Cadornega). Mas, mesmo sem ela e sem esses homens, Salvador Correia de Sá chega à baía de Luanda, ante o pasmo da gente holandesa, que fica convencida tratar-se apenas de simples guarda avançada de grande esquadra.

Apressadamente se refugiam os de terra na Fortaleza de S. Miguel. Mas o desembarque faz-se na manhã seguinte, de 15 de Agosto e, em assalto bem conduzido, rende-se o inimigo dominado por menos de metade de homens portugueses.

Um novo período começa. Pretende-se apagar a memória do domínio holandês, a cidade muda o seu nome passando a ser São Paulo de Assunção de Luanda, por ser aquele o dia da Assunção da Virgem, que no seu brasão passa a figurar.

Por alvarás régios de 28 de Setembro e 9 de Dezembro de 1662, aos oficiais da Câmara da Cidade de Luanda e seus moradores, foram concedidos os mesmos privilégios dos cidadãos da cidade do porto, em consideração aos serviços prestados à Restauração de Angola. O seu brasão de armas fica para sempre registado nos arquivos da Torre do Tombo, entre os das outras cidades e vilas portuguesas.

Antes da invasão holandesa e segundo a descrição de Dapper e a gravura que acompanha a edição francesa da sua obra (1686), na cidade existiam já as fortalezas de S. Miguel (1638), no mesmo local em que hoje se encontra, do Penedo, de Santa Cruz e algumas outras desaparecidas, várias igrejas, conventos dos Jesuítas, dos Terceiros Franciscanos, Hospital da Misericórdia e diversas residências, principalmente na parte baixa de cidade.

Mas, a cidade, depois da reconquista, teve de ser construída de novo (Cadornega), restauradas as casas dos habitantes, as igrejas desbaratadas, mostrando por toda a parte a ruína.

Entre as construções mais notáveis do fim do mesmo século, existiam ainda, muito bem conservadas, a igreja de Nossa Senhora da Nazaré, que o Governador André Vidal de Negreiros iniciou em 1644; a igreja dos Carmelitas (1663), e ainda a fortaleza de S. Miguel completada na época, com recinto fechado, de terra batida e alvenaria.

São do século XVIII o acabamento da fortaleza de S. Pedro da Barra, de S. Francisco, no antigo lugar do forte do Penedo, e de outras obras de vulto como o Quartel de Infantaria (1754), agora demolido, o Palácio do Governo (1761), o Terreiro Público (1765), a Alfândega (1770 a 1779) e o passeio público da Nazaré (1771).

Pouca era, porém, a casaria da cidade ainda nos meados do século XIX, que só então começa a desenvolver-se rapidamente; das construções mais importantes desse período são o mercado da Quitanda (1818), o primeiro cemitério (1806) e, já no fim do século, o hospital de D. Maria Pia, notável ainda hoje pelo seu plano e grandeza e que as obras de vulto de anos recentes melhoraram-no consideravelmente.

É a mistura de todas essas construções, antigas e modernas, que dá à cidade um aspecto característico. O aumento da população e o desenvolvimento comercial da cidade foram, como é natural, os principais factores do seu engrandecimento.

Por uma das cartas de Garcia Mendes Castelo Branco, de 1621, vê-se que a cidade deveria ter nessa época cerca de “400 vizinhos”; em Janeiro de 1800 a população era já de 6 500 almas.

Na recente “História de Angola “, de Elias Alexandre da Silva Correia, publicada na Colecção dos Clássicos da Expansão Portuguesa, vamos encontrar números curiosos sobre o comércio dessa época (1787).

Reduziu-se então o comércio aos escravos e seus alimentos, ao marfim e à cera. Rendia a mercadoria humana, que se exportava, pelos dois portos de Benguela e Luanda, 144 contos anuais.

O marfim era também receita do Estado, e pela Fazenda eram remetidos os recursos daí resultantes, ao erário de Lisboa. Nessa época as despesas e receitas com a Colónia de Angola davam a Portugal um saldo positivo de 162 contos (162.131$540 rs.).

Em 1936, o valor da exportação feita pela alfândega de Luanda é de cerca de 67 000 contos, representado 22%do valor total da exportação da Colónia; e em quantidade, cerca de 64 500 toneladas, ou seja 26% do total da Colónia.

retirado de: página oficial do Governo Provincial de Luanda

Pensar e Falar Angola

sábado, 23 de junho de 2007

POESIA DA TERRA

Porra! Sim porra! Tenho hoje a oportunidade de mostrar a minha indignação sobre quem fala mal da banda e começar um texto com esta palavra da língua de Pepetela, Luandino e Neto. Ninguém, nenhuma das minhas professoras (?) de português, algum dia me deixou iniciar uma composição com esta palavra. Risco vermelho em cima do texto e negativa na prova. O que também prova que havia muita gente a pensar que Angola era Portugal e haviam de castrar o pensamento livre de quem só gostava de Angola, mesmo o pensamento ordinário. Sim porque de crónicas de pensamentos extraordinários de gente iluminada estamos conversados. É o lixo em Luanda, a corrupção, o avião do Presidente, as compras da Ana Paula, enfim pensamento de caluanda. Mas como Angola não é só Luanda trago-vos um "diamante" da minha terra, o Huambo. Aviso: se quiserem ler mais sobre o assunto vão ao NS de 23.06.2007 e leiam o artigo do Torcato Sepúlveda sobre o assunto. Então aí vamos.
Churiungo/é das palavras mais antigas -/a voz/fruto bilingue/da infância", são versos de um poema de uma melancolia devastadora e que estão no livro "Sortilégios da Terra - Canto de Narração e Exemplo". O poeta angolano Zetha Gonçalves decifra essa palavra antiga: "Churiungo/é baga verde,/pintalgada de negro-// quando surge,/em seu esplendor nascente// serve,/esmagada,/para fazer cola-cola/caseira,/para papel.// Maduro/é noite de Lua Nova/- e sua escandalosa doçura:// namoram-no as crianças,/os catuituis,/e há até - por delícia e pecado! -/quem os apanhe/para fazer doce, compota." Zetho Cunha Gonçalves, vivendo embora em Portugal há muitos anos, nasceu na cidade do Huambo, em 1960. Este livro de poemas transborda de plantas, de frutos, de cheiros, de pratos tradicionais.
"Loangueiro não se planta - nasce/sortilégio da terra,/no meio do mato,/pelas terras todas/do Huambo até ao mar." Ou: "Estrume de cavalo é bom para a liamba - cresce/com mais força, faz pensar melhor." Ou: "Nocha - é o sol que se come,/ à beira da chuva:/o sol espesso/mordido pelos pássaros."
Toda a natureza, selvagem ou domesticada, é resumida no poema final "Canto da Narração e Exemplo" (Editora: Bonecos Rebeldes), relato do que há e não há, do que se come e não come, do que se bebe e do que não se bebe, no Cutato, entre Vila da Ponte e Chilandangombe. É uma espécie de enebriante langalenga infantil: "No Cutato/joga-se o tchela e dança-se a cauêma - não se come/gengibre,/nem cola, nem se come caju." Esta língua miscigenada, incluindo até expressões nganguelas é suave, cantante, dançante. Não deve ser isso a poesia?

A preto e branco

Batoto yetu em Angola




Pensar e Falar Angola

sexta-feira, 22 de junho de 2007

O que é a Batoto Yetu

O que é a Batoto Yetu?

A Batoto Yetu é uma associação sem fins lucrativos que se estabeleceu em 1990 no Harlem – Nova Iorque e se estendeu a Portugal 6 anos depois, pela mão do angolano Júlio Leitão, coreógrafo e seu fundador e com o apoio da FLAD -Fundação Luso-Americana.O programa cultural da Batoto Yetu – Portugal destina-se a todas as crianças e adolescentes, de origem africana ou não, desde que sejam sensíveis ao ritmo e calor humano daquele continente. A base deste programa assenta no conceito de que a beleza e o envolvimento das danças, canções e lendas, ajuda os elementos da “família” Batoto Yetu a identificarem-se mais com o encanto e mistério de África aumentando simultaneamente o seu amor-próprio e a aceitação do outro.

Fonte: http://www.batotoyetu.pt/html/quem_.htm

Pensar e Falar Angola

Batoto Yetu - mukixi


Pensar e Falar Angola

António Cardoso

Um dia ao António Jacinto

Um dia eu vou fazer um romance
com as histórias da minha rua
antes de se chamar Silva Porto
e os pretos irem embora.
Vai entrar a lua e meninos sem cor
a Domingas quitata, o sô Floriano do talho
com muita mistura de amor
e muito suor de trabalho.
Vou meter as cabras e os cães vadios da velha Espanhola
os batuques da Cidrália e dos Invejados,
os batalhões do "Treze" e do "Setenta e Quatro",
o bêbado Rebocho, o velho Salambió,
a Joana Maluca da garotada,
cajueiros, cubatas, lixeiras,
capim e piteiras,
e mesmo no fim da história,
quando os homens estão desesperados
e as fardas passam em fila,
acendo um sol de Fevereiro,
semeio algumas esperanças
e parto com o meu veleiro
a dar uma volta ao Mundo!
(No reino de Caliban II - antologia panorâmica de poesia africana de expressão portuguesa)


Pensar e Falar Angola

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Uma biografia

Ontem contei uma ‘estória’ do Dr. Videira, hoje falarei dele, utilizando as palavras de Rodrigues Vaz
Conhecida personalidade do chamado reviralho, cujos ditos se passaram às novas gerações como lendas e cujas atitudes eram tão louvadas pela oposição ao regime de Salazar, como criticadas pelos situacionistas que, nas décadas de 40 e 50 não eram tantos como isso, pois, como é sabido, em muitas cidades de Angola, o almirante Américo Tomaz perdeu a favor de general Humberto Delgado nas eleições de 1959.
Figura incontornável dos anos 20 a 50 da vida social luandense, era o Dr. António Videira conhecido essencialmente como ilustre advogado, apresentando-se ele próprio como "Cidadão português, domiciliado em Luanda, de jure no gozo dos seus direitos civis e políticos, livre de culpa, bacharel em Direito". Grande animador do Aeroclube de Angola de que foi um dos pioneiros. Um acidente de aviação que ocorreu na Namíbia inspirar-lhe-ia o livro "Talvez...". Mas o livro "Angola – 10 Bilhetes Postais ilustrados", ilustrado pelo conhecido artista plástico Neves e Sousa, é a sua obra mais famosa. Publicado em 1955, ano da sua morte, vale a pena respigar do seu prefácio as seguintes palavras, pelo que podem esclarecer: "...mal mastigadas as últimas sebentas do curso, franganito insubmisso à vontade paterna, para Angola vim. Com curtas intermitências, por aqui, cavando alegremente na vinha do senhor, quarenta anos consumidos. Estouvado, irreverente, malcriado, esta gente amiga e desempoeirada - o ar por cá é mais limpo; respira-se melhor - sempre me perdoou e quis bem." Ainda dele conhece-se uma curiosa interpretação do "Fausto" de Goethe, ensaio editado pela Minerva de Luanda em 1945, além de outros livros sobre casos jurídicos, nomeadamente "Carta aberta ao Exmo. Capitão de Fragata" (1918), "Ensinamentos de um sonho" (1933), sobre "uma acção de restituição de posse por esbulho de lei", editado pelo autor e impresso na Tipografia Mondego, Luanda, e "Um caso de interpretação e aplicação da lei" (1951).
Tirou o curso na Universidade de Coimbra entre 1907 e 1912, foi governador civil de Lisboa, antes de embarcar para Luanda, onde fundou, em 1916 o "Jornal de Angola", apresentado como órgão político e noticioso, mas que era, antes de tudo, um jornal cívico e económico, de que foi director apenas entre 5 de Maio e 26 de Junho, pois o Centro Democrático de Angola acabaria por substitui-lo por motivos que estão bem patentes no seu editorial de despedida: "Sou gaúche em todas as coisas. Anunciei um jornal político, e quase só acusei correlegionários; prometi pugnar pelo desenvolvimento desta província, e lançam-me a responsabilidade de o ter entravado, delineei um critério mais justo para mais justa apreciação de brancos e pretos, europeus e indígenas, civilizadores e civilizandos, e a política local caça votos, acusando-me de pretofobo..."
Ele confessará: "Não posso mais. Cedo. O meio é um charco; e, de tanto mexer na lama, sinto-me agoniado". E mais adiante: "Fujo. Perseguido? -Não. Estafado e enojado. Desgostoso comigo mesmo pela falta de persistência que inutiliza a minha acção e deliberadamente convencido de que é impossível, já agora, salvar-se este país da falência moral para que caminha. (...) Portugal agoniza numa crise fatal de patriotismo e de consciência. Interesses, dinheiro, mais nada. A tal se reduziu o valor e ideal de vida. Medo e cinismo; só isso. Tudo zomba e tudo foge."
Devia ter tido muitas boas razões para se afastar, porque, afinal, no editorial tinha prometido que "O Jornal de Angola nem adubará potentados, nem desprezará os mais fracos. Nele, ao contrário, terão estes sempre um defensor leal, honesto, desinteressado, pronto a acusar todas as violências e a aplaudir todas as virtudes", promessa ainda muito difícil de cumprir agora, quanto mais naquele tempo.
Se lhe granjearam grandes inimizades, tais posições também lhe forneceram, por outro lado, a amizade e a admiração de muitas pessoas honestas, que também as havia na Angola daquele tempo, tendo acabado por funcionar como pontuador do contrapoder, que era uma interessante válvula de escape no marasmo e na intrigalhada constante que caracterizaram a colonização de Angola no século XX.



Pensar e Falar Angola

PLANO HIDROGRÁFICO DA BAÍA DO LOBITO (1891)



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Fotos antigas, hoje documentos

Foto cedida por António Seabra e retirada do jornal Comércio de Luanda, 28 de Abril de 1963

Pensar e Falar Angola

terça-feira, 19 de junho de 2007

Ideia para o futuro


Pensar e Falar Angola
Pensar e Falar Angola

Angola, uma nação jovem de 30 anos, grávida de um futuro feliz e cheia de gente com valor, um arco-íris de ideias e culturas, um crisol de etnias e origens. Angola, um amor materno e uma lição aprendida, uma luta renhida de irmãos que no fundo se amam e acabam por se dar as mãos; a esperança d'áfrica iluminada na instrução, na justiça e na liberdade. Angola, o passado traiçoeiro dos ladrões de gente, do chicote ensaguentado e da opressão cruel, da razão tornada guerra e morte e do grito atroz do medo no palco de alheias contrariedades. Angola, o rio alegre descendo da serra, a chana fértil de vida ao nascer do sol.
A sério, este lugar do planeta tem uma ancestral predileção na minha alma viandante, no meu espírito vagabundo, no meu caos interior, no sereno da manhã fria do planalto na terra da minha terra.
Angola é.

Uma 'estória' de Luanda

Faleceu ontem a avó dos meus filhos que era filha de um célebre advogado de Luanda dos anos muito lá para trás, o Dr. Videira. Lhe conheço 'estórias' de ouvir falar. Esta que vos conto é verdadeira.

Um determinado indivíduo estava na barra do tribunal acusado de ter chamado "filho da p...", com todas as letras que nós conhecemos, a um outro que então se queixava. O advogado de acusação, o Dr. Videira, pedia punição severa, como era seu hábito. O outro causídico, na pele de advogado de defesa, dizia que, afinal, "filho da p..." não era ofensa... que era assim a modos que... uma palavra que se dizia, que entrava no vocabulário normal... que era só uma expressão que já era vernácula, normal...
O bom do Dr. Videira ia ouvindo... ouvindo... e... nada, não mexia um músculo da cara.
Até que o Juiz, admirado com a passividade, o interrogou mesmo.
- Será que a acusação não tem nada a dizer?
E o Dr. Videira, com o ar de bonacheirão que sempre teve... foi dizendo:
- Claro que não, meritíssimo. Depois da brilhante defesa que o "filho da p..." do meu colega fez... que é que eu posso dizer?
E o outro:
- Senhor Dr. Juiz... Senhor Dr. Juiz... o meu colega Videira está a ofender-me.
- Ah, sim?! Agora já é ofensa ?

Pensar e Falar Angola

POLÍTICA



INDEPENDÊNCIA - 11 de Novembro de 1975

FORMA DE GOVERNO - República

CHEFE DE ESTADO E DE GOVERNO - Presidente José Eduardo dos Santos, desde 1979.

DIVISÃO ADMINISTRATIVA - 18 províncias

PRINCIPAIS PARTIDOS POLÍTICOS - MPLA (Movimento Para a Libertação de Angola) e UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola)

FONTE: Instituto Nacional de Estatística


Pensar e Falar Angola

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Também há o lado sujo

Ainda na peugada das minhas 'bloguevagabundagens' encontrei outro texto que aqui transcrevo, porque achar que não é só de coisas boas que a vida é feita, infelizmente, e porque tenho esperança de lhes poder, mais tempo menos tempo, mostrar que as realidades se vão mudando pela positividade.

Tem piada, tem!
Pois, que engraçado...Dizia-me alguém (com ar de espanto) que está para perceber que tipo de pessoa sou eu. Ya... Há gente para quem só é fixe quem diz bem de Angola; quem diz mal, é "reaças". E mais: como pode uma pessoa como ela (eu) que nunca deixou a terra e que se entregou até ao quase vazio, falar assim?
É... acontece (aos melhores e aos piores).
Gostaria de perguntar como se sentiriam os fazedores de power points com "belas" vistas aéreas da Luanda actual, se conseguissem fazer um zoom e ver o que se vê quando se está em terra firme, com os pés na lama, a tropeçar nos montes de lixo em plena cidade; a ouvir a voz do povo. E como se sentiriam se tivessem sido traídos nos seus valores e convicções mais profundos.
Bem gostaria de medir o optimismo de alguns, depois de passarem uma manhã num hospital do estado, numa repartição pública ou se tivessem de beber água inquinada e pagar o equivalente a 100 usd correspondentes a uma conta de uma electricidade que só aparece de vez em quando.
Deixem-me oferecer-vos um dos dez (contei-os) montes de lixo pelos quais passo diariamente às 7.45 da manhã, só ao descer a Avenida (?) da Clínica do Prenda, em plena cidade de Luanda. Hoje não havia nem meninos a brincar, nem mendigos a comer neste monte. Mas podem sempre clicar na foto para identificarem os "desperdícios".
Gostaram? Pareceu-me um presente "very typical"...
Confesso que me dá até um certo gozo ouvir o discurso quer daqueles que, refastelados na Europa ou na América (States!) dizem mal de Angola, apenas porque "desconseguiram de aguentar a dipanda", quer dos outros que agitam bandeiras a favor do povo, enquanto usufruem de todas as benesses a que têm direito em países que, apesar da intolerância, os emigrantes de luxo preferem ao seu país natal. Vocês "deram-me graça", como se diz por cá.
E é isto mesmo, só vendo (e vivendo, já agora) o dia a dia é que se tem a percepção do "lixo" em que nos movemos, apesar dos esforços de todos - numa coragem infinita - para fingir acreditar que ainda há pior.
Para quem continua interessado em saber como me defino: apenas posso dizer que não me interessam os rótulos quaisquer que eles sejam. Tampouco estou filiada em rebanhos de ovelhinhas sejam eles religiosos, políticos ou sociais.
Mantenho-me na minha (yo!), não sou a cabra cega (vá lá!...) e não dispendo energias a irritar ninguém, só porque é inimigo do meu país. Estou do lado da justiça. Mas daquela teórica, ou seja, impraticável. Infelizmente.


retirado de Às vezes (des)organizo-me em palavras... e de desabafos angolanos







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