quinta-feira, 17 de maio de 2012

Relatório sobre a PALANCA


2012
01. Relatório Palanca 1º Trimestre

VERSÃO PORTUGUÊS

Caros amigos,

O início de 2012 foi o mais seco que eu me lembre. A época chuvosa geralmente atinge o pico em Fevereiro/ Março, frequentemente inundando as zonas húmidas e tornando as picadas lamaçentas e muitas vezes intransitáveis. Os últimos anos tinham testemunhado chuvas generosas, isolando o parque da Cangandala por semanas ou meses, geralmente entre Janeiro e Abril.
Contudo esta época chuvosa foi muito atípica já que a maior parte do país experimentou uma seca severa, pelo que quando agendámos a nossa viagem à Cangandala em Março, e no seguimento de insistentes notícias acerca da seca, estávamos confiantes que conseguiríamos entrar no parque e acompanhar os movimentos dos animais no terreno.

Mas, e como provavelmente já terão adivinhado, as coisas nunca seriam assim tão fáceis.
É verdade que o terreno estava chocantemente seco, sem sinais de lama ou água nos riachos temporários, ao passo que o capim estava pouco desenvolvido e já seco e moribundo – o parque não tinha tido uma gota de chuva há vários meses! Mas mal chegámos ao anoitecer e nos instalámos no acampamento, e nos sentámos para jantar, começou a chover. De início apenas uma chuva miúdinha, depois com mais insistência e intensamente. Fomo-nos deitar sob chuva, e choveu toda a noite sem parar. E continuou a chover. E ainda chovia de manhã enquanto tomámos o café, e agora as coisas começaram a ficar com má cara.

A chuva só parou a meio da manhã, mas nessa altura já estávamos a conduzir no terreno e de qualquer forma o estrago já estava feito.
Ao longo dos dias seguintes pudemos chegar a todas as câmaras nas várias salinas, para substituir cartões de memória e baterias, mas apenas à custa de muito trabalho. Atascámos inúmeras vezes nas picadas dentro e fora do santuário, e a maior parte das salinas tiveram de ser atingidas a pé. Ao menos deu para recuperar todos os cartões de memória, mas tentar localizar e seguir os animais fora dos trilhos estava completamente fora de questão nestas condições.
Desta fora a visita tornou-se uma semi-desilusão, pelo que este update teve que se basear principalmente nos diversos registos das câmaras ocultas.

Por falar em câmaras, o novo modelo de câmara que colocámos em Dezembro último tem tido uma perfomance excepcional, quase demais poderei acrescentar. Stas têm melhor qualidade de imagem, são mais pequenas e leves, parecem ser mais fiáveis, e são muitíssimo mais eficientes em termos de consum de energia, com as baterias a durarem vários meses de uso contínuo. Mas elas também conseguem agora tirar literalmente milhares de fotos por semana, armazenadas em cartões de 8GB, o que é fantástico mas igualmente uma maldição mal disfarçada. Se nós já costumavamos lutar com a visualização, gestão e armazenamento das fotos, este problema agora ficou inflacionado significativamente! Só esta viagem rendeu-nos dezenas de milhares de fotos, das quais “apenas” algumas milhares mostraram palancas negras, ruanas, ou híbridos.

A manada principal parece ter-se dividido em grupos pequenos, o que é presumivelmente um comportamento sasonal durante a época chuvosa, mas que também pode ser resultado de dinâmicas sociais específicas, tais como a parição de algumas fêmeas ou a dispersão de jovens machos. Um exemplo interessante foi verificar que a nossa melhor reprodutora, a Teresa, antes de parir, separou-se da manada levando com ela as três crias da manada. Em meados de Dezembro ela estava extremamente prenhe, e seguramente a sua nova cria deve ter nascido por alturas do natal. É uma pena não a termos conseguido ver desde Dezembro, e ela não voltou às salinas entretanto. De todas as formas ela é a nossa principal estrela, sendo a mãe provável de três híbridos, e tendo tido já três crias em pouco mais de dois anos de confinamento – uma perfomance excepcional! Por outro lado também realça o quão pbre tem sido a reprodução das restantes (talvez a Luísa tenha já tido a sua segunda cria, mas todas as restantes 5 fêmeas no santuário produziram até agora zero crias).

Muito ineressante foi notar que durante os últimos dias de gravidez, a Teresa se tornou muito escura em cor, de um castanho escuro que quase parece um macho. Isto é tão mais evidente se levarmos em conta que ela até nem era uma fêmea particularmente escura. Deve ser uma resposta fisiológica relacionada com mudanças hormonais, antes da parição.
Também de sublinhar o facto da primeira cria, o jovem macho Mercúrio, estar já a ficar bastante escuro e ainda antes de cmpletar o segundo ano de idade. Parece ser bastante precoce, com cornos notáveis para a sua idade, e já mais escuro na coloração do que a maior parte das fêmeas. Talvez a falta de competição estimule os jovens machos para se desenvolverem mais rapidamente?
Indo em sentido oposto vão os híbrids castrados, particularmente os machos maturos que, em apenas alguns meses passaram de uma atraente coloração castanha escura com tons de dourado, para uma coloração predominantemente cinzenta-amarelada, imitando quase na perfeição o padrão cromático das fêmeas híbridas! Mais uma vez, reflectindo profundas mudanças a nível hormonal – é um dado estabelecido que a testosterona induz e reforça a coloração escura nas palancas negras.

Já fora do santuário, o Ivan tem sido visto regularmente visitando as Salinas, muito embora sobretudo durante a noite, enquanto patrulha o seu território. E a 1 de Janeiro ele fnalmente apareceu acompanhado da Joana (a fêmea velha que tinha escapado do santuário vedado em 2009), assim confirmando as nossas suspeitas. Por outro lado, não vmos nenhuma das fêmeas novinhas que escaparam do santuário seguindo o Ivan, e nesta altura não sabemos se estas se juntaram com a Joana, ou se andam sozinhas.

Link para as fotos:

Cumprmentos,

Pedro




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