Adriano Maria Correia Gomes de Oliveira, Avintes (1942-1982) faria em 9 de Abril de 2012 setenta anos. O Adriano foi um dos mais generosos cantores de intervenção da música portuguesa, e, como foi esquecido na sua fase terminal, não teve ainda um verdadeiro agradecimento dos muitos que fizeram da sua canção “bandeiras de liberdade”. Iniciou-se no fado de Coimbra, cidade onde estudou direito, mas rapidamente deu voz e compôs canções com letras de poetas proscritos do regime caído a 25 de Abril de 1974. Com o advento da democracia, Adriano, Zeca Afonso, José Mario Branco, Sérgio Godinho, Fausto, Luis Cília, Fernando Tordo, Rui Mingas e outros eram as vozes que cantaram as novas “Trovas do vento que passa”. Num processo nebuloso e com oportunismo à mistura, Adriano Correia de Oliveira é demitido da Cooperativa “Toma Lá Disco” e, simultaneamente, começam a surgir os boicotes aos cantores de esquerda, começando a degradar-se a sua saúde e concomitantemente a fragilidade da sua situação económica transforma uma pessoa alegre, num homem melancólico, que a determinada altura “terá atirado a toalha ao chão” e se deixado morrer em Avintes. Adriano Correia de Oliveira deu vários espetáculos em Luanda em 1975, na companhia de Zeca Afonso, Fausto e Rui Mingas com o propósito de apoiar a luta do povo angolano e o MPLA. O espetáculo encheu a Cidadela e, no dia seguinte, num canto livre na cantina da Universidade, perto da Igreja da Nazaré, a FNLA sitiou todos, tendo prendido o saudoso Baião, em casa de quem estavam alguns dos cantores. Adriano Correia de Oliveira teve o “Canto e as Armas” musicado pelo nosso “colega” do NJ Luis Filipe Colaço, autor de um dos poemas do disco. Há uma faceta desconhecida para a maior parte dos angolanos, foi o facto do Dr. Arménio Ferreira lhe ter dado oportunidade de trabalhar no Comité 4 de Fevereiro para a Europa, na Luciano Cordeiro em Lisboa, no departamento de Informação, onde tive a grata oportunidade de ter privado com ele e ter conhecido a sua extraordinária dimensão humana. Não desejaria olvidar este homem grande da canção de intervenção política da língua portuguesa. Já que estamos a efemerizar, Ahmed Ben Bella faleceu no dia 12 de Abril, aos noventa e quatro anos, e faço-o porque praticamente não vi nenhuma referência de tomo na imprensa angolana. Apesar de morto politicamente desde que Boumedhiene o apeou do poder em 1965, Ben Bella foi o primeiro presidente eleito da Argélia e figura de tomo na luta contra o colonialismo francês. A Argélia comemora este ano cinquenta anos de independência, e penso ser da mais elementar justiça fazer esta referência pois foi este presidente que acolheu e apoiou todos os movimentos de libertação que lutavam contra o colonialismo português no âmbito da esquecida CONCP (Conferência das Organizações Nacionalistas das Colônias Portuguesas). Era nos primórdios da década de sessenta o mais diabolizado dirigente africano na então Emissora Nacional. Tenho constatado que a minha caixa de correio eletrónico é sistematicamente atulhada de “casas da filha do José Eduardo dos Santos”, “iates de Isabel dos Santos”, “Avião presidencial de José Eduardo dos Santos” ou numa derivação do José Almada Negreiros no seu “manifesto Anti-Dantas”, e “sabonetes em conta José Eduardo dos Santos, Pasta Isabel dos Santos para os dentes”…. A realidade é que, se eventualmente se dessem ao trabalho de ver a origem das fotos, iriam ter a catálogos de venda de iates, aviões e casas. Não pretendo defender quem quer que seja, porque na realidade tenho tempo que sobra para contar o pouco dinheiro que tenho, mas julgo que a sordidez de determinados atos só acaba por retirar alguma legitimidade a certas transações que podem eventualmente permitir-se a algumas dúvidas. “Enferrujam- se os arames e os ferros, cobrem-se os panos de mofo, detrança-se o vime ressequido, obra que em meio ficou não precisa envelhecer para ser ruína.” José Saramago (Memorial do Convento).
Fernando Pereira 17/4/2012
Pensar e Falar Angola
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